Microplásticos no sêmen e na urina: isso pode se relacionar à infertilidade masculina

Cientistas descobriram que a exposição a microplásticos está associada à menor qualidade do esperma

20 nov 2024 - 05h59
Resumo
Microplásticos estão relacionados à infertilidade masculina, podendo ser um dos motivadores por trás da queda mundial na fertilidade masculina observada nos últimos anos.
Foto: Reprodução

Encontrados em vários produtos de consumo, os microplásticos são definidos como partículas menores que 5 mm oriundas da degradação dos plásticos. Esses poluentes são amplamente disseminados em ecossistemas e foram detectados em vários tecidos humanos, incluindo fígado, pulmão, placenta e, mais recentemente, no sêmen e na urina de homens. O problema é que isso pode estar relacionado à infertilidade masculina. 

“50% dos casos de infertilidade em um casal estão relacionados a um fator masculino, seja de maneira exclusiva (30%) ou associada a um fator feminino (20%). E apesar da maioria dos quadros de infertilidade masculina ter causa desconhecida, sabemos que hábitos de vida e fatores ambientais desempenham um papel importante. Então, é possível que os microplásticos estejam envolvidos, podendo ser um dos motivadores por trás da queda mundial na fertilidade masculina que temos observado nos últimos anos”, explica Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita. Um estudo recente mostrou essa associação com a infertilidade masculina.

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Os microplásticos entram no corpo humano por ingestão, inalação ou absorção pela pele. O estudo explorou a exposição ao microplástico em homens em diferentes regiões da China e ocorreu entre novembro de 2023 e março de 2024. Os critérios de inclusão exigiam que os participantes tivessem mais de 18 anos, estivessem em um relacionamento por mais de um ano sem engravidar. Um total de 113 voluntários do sexo masculino participaram do estudo, com idade média de 32 anos. 

Os microplásticos foram detectados em amostras de sêmen e urina dos voluntários. Os tipos de microplásticos identificados incluíram poliestireno (PS), cloreto de polivinila (PVC), polipropileno (PP), polietileno (PE), politetrafluoroetileno (PTFE), tereftalato de polietileno (PET), policarbonato (PC) e acrilonitrila butadieno estireno (ABS). 

“O polietileno é o tipo de plástico mais produzido, usado desde embalagens de alimentos e sacolas plásticas até brinquedos. Então, não é à toa que esse foi o tipo de microplástico mais encontrado nos testículos. Isso reforça a importância da produção e descarte consciente dos plásticos utilizados no dia a dia, pois, de acordo com as evidências, existe grande chance de acabarem em nossos organismos”, alerta o especialista.

A análise da relação entre a exposição ao microplástico e os parâmetros do sêmen mostrou que a exposição aos microplásticos foi associada a uma redução na contagem total de espermatozoides e motilidade progressiva. “Uma baixa concentração de espermatozoides no sêmen, condição conhecida como oligospermia, impacta severamente nas chances de gravidez, uma vez que dificulta a fertilização natural do óvulo”, explica o médico.

Foi observada uma relação dose-resposta, onde um aumento no número de tipos de microplástico levou a uma diminuição significativa na contagem total de espermatozoides, motilidade progressiva e concentração de espermatozoides. Os participantes expostos a seis tipos de microplásticos tiveram menor contagem total de espermatozoides e motilidade progressiva em comparação com aqueles expostos a menos tipos. 

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“Infelizmente, não há muito o que pode ser feito para diminuirmos nossa exposição aos microplásticos As evidências sugerem que eles estão em múltiplos lugares, desde a garrafa de água até o ar. Descobertas como essa são fundamentais para alertar sobre o risco dessa exposição e o impacto é especialmente preocupante nas gerações mais novas. Então, é importante que sejam adotadas medidas para diminuir a poluição do meio ambiente por esses componentes”, finaliza Fernando Prado.

(*) Homework inspira transformação no mundo do trabalho, nos negócios, na sociedade. É criação da Compasso, agência de conteúdo e conexão.

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