SOROCABA - Desde o início de julho, o número de mortes pelo novo coronavírus mais do que dobrou no estado de Mato Grosso do Sul, no Centro-Oeste do País. Os óbitos subiram de 85, no dia 1º, para 203 nesta sexta-feira, 17, doze mortes foram confirmadas só nas últimas 24 horas. Também desde o dia 1º, os casos positivos passaram de 8.676 para 15.805.
Conforme o Prosseguir, plano do governo estadual de retomada das atividades, seis municípios, entre eles a capital Campo Grande, ganharam bandeira preta, a mais crítica da pandemia, com recomendação de lockdown. Nenhuma das 79 cidades tem bandeira verde, de menor incidência do vírus.
Até o início de julho, Mato Grosso do Sul estava entre os estados brasileiros com menor incidência da covid-19. Nas últimas semanas, como já aconteceu em outros estados do Centro-Oeste, os casos dispararam, acompanhando o relaxamento da quarentena.
Desde a quarta-feira, 15, Campo Grande tem toque de recolher a partir das 20 horas, mas o comércio, inclusive os shoppings, está funcionando das 9 às 17 horas, com capacidade reduzida a 30%. Aos fins de semana, apenas serviços essenciais e delivery atendem, mas ainda assim há aglomerações. A capital tem 4.497 casos e 45 mortes.
O prefeito Marcos Trad (PSD) disse que a classificação com a bandeira preta pelo Prosseguir não vai alterar a situação atual. "A meu ver, as medidas que tomamos já são bem restritivas. Com o toque de recolher das 8 da noite às 5 da manhã, são quase 12 horas de fechamento. Temos perspectiva de ampliação de leitos", disse.
Na quarta, a prefeitura abriu chamamento público para contratar novos leitos para a covid-19. A capital possui 150 leitos de UTI em hospitais públicos e privados e a ocupação chegou a 90% nesta sexta-feira - no Estado, o índice é de 76%.
No interior, a curva das mortes teve subida ainda mais acentuada. Em Dourados, o mês começou com 22 mortes e agora são 46 em 3.640 casos. Mesmo assim, a cidade ganhou bandeira laranja, menos restritiva.
Em Aquidauana, região do Pantanal, o coronavírus voltou a matar nesta sexta-feira. A vítima é um indígena de 40 anos, morador da aldeia Buritizinho. O corpo foi levado do Hospital Regional da cidade direto para o cemitério, conforme o protocolo, sem tempo para cumprir os rituais da tradição indígena. A aldeia tem outros três índios infectados pelo vírus.
Na cidade, uma das 59 que receberam bandeira vermelha do Prosseguir - situação de risco elevado -, os casos saltaram de 6 para 22 em uma semana, alta de 350%. A cidade entrou em lei seca, nesta sexta, proibindo o consumo de bebidas alcoólicas em bares, restaurantes e locais públicos em qualquer hora do dia e da noite.
O comércio geral fecha às 16 horas e os supermercados às 18 horas. Academias e igrejas voltaram a ser fechadas. A prefeitura decretou toque de recolher a partir das 22 horas e pediu ajuda à Polícia Militar para a fiscalização.
Em Ponta Porã, no sul do Estado, a prefeitura montou barreira sanitária no acesso à cidade pela BR-463. Quase mil veículos chegam diariamente e são inspecionados e desinfetados. A cidade fica na fronteira com o Paraguai, separada da paraguaia Pedro Juan Caballero por uma avenida - a Linha Internacional.
Com poucos casos da doença no país, autoridades paraguaias instalaram barreiras de arame farpado, fizeram barricadas ou abriram valas entre as cidades fronteiriças para evitar a entrada de pessoas procedentes do Brasil, onde o vírus se alastrou mais.
Na madrugada desta sexta-feira, 17, uma barricada de pneus instalada no lado paraguaio para evitar a passagem de pessoas e veículos, foi incendiada. O fogo foi contido pelos bombeiros. A polícia de Pedro Juan atribuiu a ação a brasileiros - cerca de cinco mil moradores de Ponta Porã estão impedidos de atravessar a fronteira para trabalhar no comércio paraguaio.
Já a prefeitura de Ponta Porã informou que o fogo, provavelmente, foi ateado por moradores da cidade paraguaia que reivindicam a reabertura da fronteira devido ao impacto no comércio local.
A fronteira está fechada desde os primeiros casos de coronavírus nos dois países, em meados de março. O comércio paraguaio, tradicionalmente movimentado pelos brasileiros, reclama que muitos estabelecimentos já foram obrigados a fechar as portas e protesta pedindo a reabertura.
No início da pandemia, os comerciantes paraguaios entregavam as compras dos brasileiros nas cercas, mas isso também foi proibido. O Paraguai chegou a 3.342 casos de coronavírus e 27 mortes, números menores do que em cidades brasileiras próximas, como Dourados e Campo Grande.