Um mês após registrar seu primeiro episódio do novo coronavírus, o Rio de Janeiro apresenta porcentual de mortos pela doença não-idosos equivalente ao dobro do de São Paulo, onde há o maior número de infectados e vítimas fatais pela covid-19 em todo o País. No Rio, 31% dos que não resistiram ao vírus tinham menos de 60 anos, enquanto a proporção é de 14% entre paulistas. Em território fluminense, já foram registrados 1.461 casos confirmados da doença, com 71 mortes até a noite desta segunda-feira, 6.
O Rio só perde para São Paulo no número de casos e de mortos pelo coronavírus, considerando todas as faixas etárias. Na última sexta-feira, 3, quando o Estado tinha 992 confirmações da doença, o secretário estadual de Saúde, Edmar Santos, afirmou que o número poderia aumentar em até dez vezes. Disse, contudo, que espera uma estabilização em 15 dias.
Os casos de vítimas abaixo de 60 anos se destacam no Rio. No último sábado, a Secretaria estadual de Saúde confirmou a morte de um rapaz de 23 anos que morava em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Mais jovem a morrer no estado, ele tinha comorbidades, o que nem sempre se observa nesses registros. Dos 22 mortos abaixo de 60 no território fluminense, metade está classificada como sem indícios de que integravam grupos de risco.
Entre eles, está uma mulher de 32 anos que vendia doces na rodoviária de Rio Bonito, na Região Metropolitana. Conhecida na cidade, Cleuza Fernandes da Silva morreu após ficar sete dias internada no hospital. A unidade disse que ela tinha um problema crônico de saúde, mas não o detalhou. No registro oficial do governo, portanto, aparece como umas das vítimas "sem informações sobre comorbidades".
Nesta segunda, a morte de outra jovem mulher - 28 anos, residente da capital - foi divulgada. Ela não tinha registro de outras doenças que a inserissem nos grupos de risco.
Os números demolem a ideia de que a doença só é fatal para idosos. A tese foi propagada, por exemplo, pelo presidente Jair Bolsonaro no pronunciamento do dia 24 de março.
Amparado nas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de médicos, o governo fluminense tem defendido com veemência o isolamento social como forma de conter a propagação do vírus. O governador Wilson Witzel (PSC) foi o primeiro do País a adotar medidas restritivas mais enfáticas. Tem sido um dos mais firmes no embate dos mandatários estaduais com o presidente Jair Bolsonaro, que é contra o isolamento.
Berço da doença. O Sul do Rio, classificado oficialmente como Médio Paraíba no sistema do governo, foi o berço do novo coronavírus no Estado. O primeiro caso da doença foi confirmado no dia 5 de março, em Barra Mansa: uma mulher de 27 anos que havia ido para a Itália em fevereiro.
Com exceção da populosa Região Metropolitana, o Sul virou a área de abrangência com o maior número de casos da covid-19 no Rio: 65, até esta segunda-feira. Ela é seguida pela Serrana, cujo total acumula menos da metade: 29.
Apesar disso, não há nenhuma cidade dessa região na lista das que vão receber hospitais de campanha para o enfrentamento da crise. Além da capital, os municípios beneficiados serão Duque de Caxias e São Gonçalo, no Grande Rio, Casimiro de Abreu, no interior, e Campos dos Goytacazes, no Norte fluminense.