A australiana Ally Hensley, hoje com 42 anos, se dedica a ajudar outras mulheres a aceitarem seus corpos e condições clínicas. Mas ela própria levou muito tempo para se aceitar após descobrir que não tinha o canal vaginal.
A descoberta aconteceu na adolescência, quando um médico revelou a anomalia. Ally é portadora da síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser, que atinge apenas uma a cada 5.000 mulheres.
Segundo o Daily Mail, Ally também não tinha útero, o que a impede de gerar seus próprios filhos, entre outras limitações. "Eu passei anos sentindo vergonha do meu corpo, sentindo que eu não era uma mulher normal e tendo que lidar com o fato de que eu nunca teria filhos", desabafou Ally.
"Eu não me sentia como uma mulher normal, desenvolvi um péssimo relacionamento com homens, enfrentei problemas de auto-estima, confiança e me questionava: 'eu sou mulher o bastante?'".
Mesmo sem canal vaginal, biologicamente Ally é uma mulher, com ovários e seios. Mas sua versão adolescente encontrou dificuldades para se entender e se fazer ser respeitada.
Isso porque havia o diagnóstico complicado e a repercussão dele — seus pais discutindo o assunto constantemente com seus médicos, o que a constrangia, e o medo da reação de terceiros. Ela imaginava que todos que soubessem de sua condição passariam a "despí-la com os olhos" para descobrir se ela "parecia uma Barbie lá embaixo".
Desafios na vida sexual
A condição também criou barreiras para a vida sexual de Ally, já que, sem vagina, ela não poderia fazer sexo com penetração. Mas para isso houve solução.
Os médicos indicaram que era preciso "criar a vagina" por meio de cirurgia ou dilatação. Ally ficou com a segunda opção e usava dilatadores plásticos para fazer o trabalho.
De acordo com a publicação, ao todo, foram nove meses nesse processo. A jovem vivia com os dedos doloridos pela força com que inseria os tubos. Quando acabou, ela enfim foi liberada para transar com penetração.
"Quando eu consegui minha vagina personalizada, eu tinha certeza que ia usá-la e eu estava incrivelmente promíscua nos primeiros dias porque eu estava em uma corrida com a feminilidade", avaliou.
Pelo que a australiana conta, essa fase é passado. Hoje Ally ressalta que vaginas não foram feitas para "consumo sexual" e defende que a escolha de construir seu canal vaginal está ligada à reivindicação de poder e controle sobre seu próprio corpo.
Mais madura, passou a falar sobre o assunto publicamente, trocando experiências com outras mulheres, portadoras de diversas síndromes. Atualmente, ela prepara um livro de memórias para detalhar sua história e apresenta um podcast sobre o assunto.