A acne é uma doença que pode causar danos na saúde mental dos pacientes, afetando sua autoestima e predispor a quadros de tristeza e depressão. Para isso, é importante iniciar os tratamentos o quanto antes e, em casos mais graves, também é necessário o acompanhamento de psicólogos.
Sabe aquela cena típica de filme de comédia romântica adolescente em que uma espinha nasce entre as sobrancelhas ou na ponta do nariz no dia de uma grande festa, causando uma série de emoções entre raiva e tristeza? Os pacientes com acne persistente da vida real estariam em vantagem se as espinhas só aparecessem dessa forma: poucas e em dias específicos. Eles na verdade lidam com um problema que muitas vezes resiste a tratamentos, afeta a autoconfiança, predispõe a quadros de tristeza e depressão, que podem culminar até no isolamento social.
“A acne é uma doença de pele inflamatória e infecciosa, que por vezes causa também desconforto e dor. Mas a verdade é que lutar constantemente contra a acne pode sim afetar a saúde mental e até bagunçar a autoestima. Por isso, sempre orientamos os pais que levem o filho ao médico para iniciar o tratamento o quanto antes”, explica Danilo S. Talarico, professor do Instituto Lapidare e da Faculdade Primum (Antigo Instituto BWS) de Dermatologia, Tricologia, Transplante Capilar (Cirurgia Capilar) e Medicina Estética.
As espinhas vermelhas e brilhantes não são apenas um problema dos adolescentes, é claro, mas independentemente de quando - ou como - elas aparecem, o impacto delas não é apenas superficial.
Impactos negativos na autoconfiança
Muitos pacientes sofrem não só com acne ativa persistente como com as cicatrizes que surgem na pele, mudando o relevo cutâneo. “Esse paciente tende a se sentir inseguro e envergonhado com a própria aparência. Isso pode ser tão intenso que muitos relatam evitar tirar fotos. Ou ainda não gostam de se ver no espelho”, diz Danilo.
Em 2011, o estudo Consequences of Psychological Distress in Adolescents with Acne, publicado no Journal of Investigative Dermatology, descobriu até que pessoas com acne moderada a grave eram menos propensas a buscar relacionamentos românticos.
“Preocupar-se com a pele pode parecer algo superficial e essa é uma das razões pelas quais muitas pessoas se sentem envergonhadas de falar sobre isso. Mas a verdade é que isso afeta a qualidade de vida e, por esse motivo, deve ser levado a sério”, diz o médico.
“Em casos como esse, o médico, além de realizar o tratamento combinado, com produtos tópicos e medicações orais, ainda pode encaminhar o paciente para o psicólogo, para evitar que a doença de pele traga danos à saúde mental”, explica Danilo.
Isolamento social
Ao abalar a autoestima, a acne ainda pode ter o “efeito colateral” do isolamento social.
“Muitos pacientes sentem-se envergonhados por conta da acne inflamada ou então das cicatrizes. Também é importante destacar que ainda existe um estigma, muito errado, de que a acne tem relação com falta de higiene. Isso não é verdade. As peles são mais oleosas e com tendência à acne muito por conta da influência genética”, destaca.
Segundo o médico, ficar em casa uma ou duas vezes não é necessariamente um sinal de alerta de que a acne está arruinando sua vida, mas se esse isolamento se tornar um hábito, quando o paciente foge das interações sociais com vergonha da própria pele, isso significa que essas espinhas teimosas estão afetando a saúde mental.
“Esconder-se do mundo pode parecer uma forma inofensiva de proteger o seu bem-estar, mas pesquisas mostram que o apoio social pode melhorar a saúde mental e a autoestima. Nesse estágio, além do tratamento para a condição de pele, a terapia com psicólogo também pode ajudar”, explica o médico.
Depressão
Quadros graves ou resistentes de acne também pode ser acompanhados de sinais de depressão.
“Não estamos falando apenas de uma espinha surgindo antes de uma grande apresentação de trabalho e deixando você de péssimo humor. Às vezes, a acne pode fazer o paciente se sentir tão triste que ele fica clinicamente deprimido. Há muitas evidências de que pessoas com acne têm maior probabilidade de desenvolver depressão em comparação com aquelas sem a doença (alguns estudos relatam até duas a três vezes mais probabilidade). Essa conexão faz sentido, já que não querer ser visto ou odiar sua aparência é um fardo emocional pesado e pode dificultar até mesmo as tarefas mais simples (como sair da cama, tomar banho ou se arrastar para o trabalho)”, explica o médico.
Em casos extremos, algumas pessoas também podem ter pensamentos suicidas.
“Muitos pacientes chegam e dizem que já tentaram de tudo – todos os produtos, todos os dermatologistas, todos os medicamentos prescritos. Portanto, pode haver esse sentimento de desesperança quando você sente que já tentou de tudo e nada está funcionando. Para esses pacientes, o tratamento com isotretinoína, que causa atrofia definitiva das glândulas sebáceas da pele impedindo novas lesões na pele, é indicado, mas devemos ter um cuidado maior com esse paciente e indicar o acompanhamento médico e psicológico. Esse medicamento tem efeitos colaterais que requerem um olhar mais atento do médico e do psicólogo”, explica Danilo.
O que fazer?
Consultar-se com um médico é um ótimo lugar para começar. Existem tratamentos orais e tópicos, com uso de ácidos e até medicações.
“O profissional também poderá dar orientações com relação a alimentos que podem servir como gatilho e a modular o estresse, que também ajuda a piorar a acne. Mas mesmo que você tenha ingredientes apoiados por pesquisas e especialistas altamente qualificados ao seu lado, ainda pode levar meses - até anos - para descobrir o que funciona melhor para sua pele específica e obter os resultados que você procura. Em alguns casos, podemos indicar a isotretinoína, que tem efeito curativo”, diz o médico.
“E se sua acne está atrapalhando seu funcionamento diário - como se você faltasse ao trabalho ou experimentasse regularmente sintomas de depressão, como desesperança ou irritabilidade - talvez seja hora de encontrar um terapeuta. Esses profissionais de saúde mental podem lhe ensinar ferramentas para controlar seu humor enquanto você aposta nos tratamentos médicos”, explica.
“E nunca, jamais, esprema uma espinha. Isso cria uma lesão profunda na pele que serve como porta de entrada para bactérias. Essas bactérias podem causar uma infecção localizada, que, se não tratada, pode se alastrar, atingindo nervos, por exemplo, e causando paralisia. Em casos mais graves, a infecção pode se tornar generalizada e causar sepse, uma reação inadequada do organismo à infecção que pode levar à morte. Além disso, pode deixar marcas, como manchas e cicatrizes. Procure sempre um médico para tratar a condição de maneira adequada”, finaliza Danilo.
(*) HOMEWORK inspira transformação no mundo do trabalho, nos negócios, na sociedade. É criação da Compasso, agência de conteúdo e conexão.