O que é a febre maculosa, doença que matou dentista de 36 anos em SP

Sintomas inespecíficos e similares aos da dengue e leptospirose dificultam diagnóstico preciso da doença.

13 jun 2023 - 16h37
(atualizado em 14/6/2023 às 16h04)
O carrapato-estrela, quando infectado pelas bactérias Rickettsia rickettsii ou Rickettsia parkeri, é o responsável por transmitir a febre maculosa
O carrapato-estrela, quando infectado pelas bactérias Rickettsia rickettsii ou Rickettsia parkeri, é o responsável por transmitir a febre maculosa
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo confirmou que a morte da dentista Mariana Giordano, de 36 anos, ocorreu por febre maculosa, uma doença infecciosa transmitida pelo carrapato-estrela (Amblyomma cajennense) infectado pelas bactérias Rickettsia rickettsii ou Rickettsia parkeri.

Mariana e seu namorado, o piloto de automobilismo Douglas Costa, de 42 anos, foram internados no dia 8 de junho com dor de cabeça e febre, e morreram no mesmo dia.

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A causa da morte de Douglas ainda não foi confirmada - as amostras foram enviadas ao Instituto Adolfo Lutz e estão em análise.

O casal viajou para áreas rurais de Campinas e, posteriormente, para Monte Verde, município de Minas Gerais próximo à divisa com o Estado de São Paulo.

A Secretaria Municipal de Saúde de Campinas aponta que a Fazenda Santa Margarida, no distrito de Joaquim Egídio (região leste da cidade), onde ocorreu um evento, foi o provável local do contágio.

Segundo a Secretaria, uma terceira pessoa, uma mulher de 28 anos, de Hortolândia, foi ao mesmo evento e também morreu com os sinais da doença. Os exames dela seguem em análise pelo Adolfo Lutz.

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A cidade de Campinas e a região no entorno são considerados locais endêmicos para a doença.

"As condições ambientais daquela região fazem com que exista uma elevada prevalência tanto para os carrapatos quanto para a bactéria. Isso sugere que os animais silvestres de lá também devem ter a contaminação, mas não necessariamente esses animais ficam doentes", aponta o infectologista Julio Croda, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.

Neste ano, com o caso da dentista, já são três óbitos confirmados no município até o momento.

Em parques nas cidades de Campinas e Piracicaba - outro município no qual a febre maculosa é endêmica -, há placas que advertem os visitantes contra sentar na grama e se aproximar de animais silvestres como capivaras pelo risco aumentado de transmissão da doença.

Nem toda picada de carrapato resulta no contágio pela febre maculosa, explica Alexandre Naime, professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). "Mas é importante evitar o contato e ficar atento a eventuais sintomas caso haja a picada", completa.

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O uso de repelentes com o composto químico DEET, especialmente em áreas da pele desprotegidas pelas roupas, também é uma forma de se proteger contra os carrapatos.

O levantamento mais recente do Ministério da Saúde mostra que, de 2007 a 2021, foram notificados 36.497 casos de febre maculosa no Brasil, dos quais 7% foram confirmados, em uma média de 170 por ano nesse período.

Dos 2.545 casos confirmados, 2.538 relataram situações referentes à exposição de risco e, destes, 68,5% haviam frequentado ambientes de mata.

As secretarias de Saúde de cada Estado são responsáveis por informar as áreas endêmicas desta doença.

Quando o carrapato infectado pica uma pessoa, as bactérias entram na pele
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Transmissão da febre maculosa

A febre maculosa não pode ser passada diretamente de uma pessoa para outra.

Ela é transmitida pela picada de um carrapato que foi infectado pelas bactérias do gênero Rickettsia.

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Quando o carrapato infectado pica uma pessoa, as bactérias entram na pele, se multiplicam nas células próximas e entram na corrente sanguínea, causando danos nas células que revestem os pequenos vasos sanguíneos.

Isso leva a anormalidades vasculares, resultando em complicações como problemas renais, pulmonares e neurológicos.

Os sintomas mais comuns são febre, dores no corpo, vômitos e manchas na pele.

"Para um diagnóstico precoce, e consequentemente, um tratamento efetivo, é essencial que a pessoa que tenha febre após a picada de um carrapato ou frequentar locais onde há carrapatos, relate seu histórico ao médico - isso ajuda a levantar a suspeita da febre maculosa", explica Julio Croda.

A infecção também pode levar à diminuição da produção de urina, anemia, pressão alta, acúmulo de substâncias prejudiciais no sangue, baixos níveis de sódio e cloro e baixo volume de sangue circulante.

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"A infecção é sistêmica e afeta múltiplos órgãos em uma velocidade rápida. Se não for tratada precocemente, é fatal", indica Alexandre Naime.

O período de incubação varia de 2 a 14 dias - sendo em média de 7 dias o tempo entre a picada do carrapato e as manifestações dos primeiros sintomas.

Depois da aparição dos sinais, aponta Naime, o quadro pode evoluir para forma grave em poucos dias.

"Não tem sintomas muito específicos, clinicamente os sinais são idênticos ao da dengue e leptospirose. Então, se a pessoa não se lembra se foi picada ou não viu o carrapato, isso pode passar despercebido", diz Naime.

Croda acrescenta que a maioria dos pacientes procura o sistema de saúde quando a situação já está grave. "Isso limita as chances de cura", afirma o infectologista.

Para a confirmação do diagnóstico, os testes indicados são laboratoriais, como sorologia, que analisa o sangue do paciente em busca de anticorpos específicos para a bactéria causadora da doença e PCR (o mesmo exame usado para detectar covid-19), utilizado para detectar o material genético da Rickettsia no sangue.

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O tratamento contra a febre maculosa é feito por meio de antibióticos, como a doxiciclina, que age combatendo as bactérias no organismo.

Quanto mais cedo é iniciado, melhores são as chances de prevenir complicações.

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