A brasileira Carolina Arruda, 27, compartilha diariamente nas redes sociais sua experiência de dor e agonia vivendo com a neuralgia de trigêmeo, condição conhecida por causar a “pior dor do mundo”.
A neuralgia do trigêmeo é uma condição neuropática crônica caracterizada por dor intensa no território do nervo trigêmeo, principal nervo da face que tem por função primordial veicular toda a sensibilidade desde o topo da cabeça, toda o rosto e a maior parte da boca e língua.
Suas principais causas incluem a compressão vascular, frequentemente por uma artéria chamada cerebelar superior. De forma menos prevalente, também podem haver compressões causadas por lesões tumorais ou outras malformações vasculares.
Além disso, a condição pode estar associada à esclerose múltipla e, mais raramente, a traumas faciais. O diagnóstico é clínico, baseado na descrição da dor pelo paciente e pode ser confirmado com exames de imagem como ressonância magnética (RM) para confirmar ou excluir causas estruturais.
Sensação de choque elétrico ou facada
Em entrevista ao Terra Você, o neurocirurgião membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Felipe Mendes, conta que os sintomas típicos da neuralgia de trigêmeo incluem crises intensas, súbitas e de breve duração de dor facial localizada em um lado do rosto.
O médico diz que essa dor é geralmente descrita como sensação de choque elétrico ou facada, e pode ser desencadeada por atividades cotidianas como mastigar, escovar os dentes ou tocar o rosto. A condição pode se tornar crônica e mais frequente ao longo do tempo, impactando significativamente a qualidade de vida.
Os tratamentos mais eficazes incluem medicamentos anticonvulsivantes, como carbamazepina e oxcarbazepina, que são a primeira linha de tratamento. Em casos refratários, intervenções cirúrgicas como a descompressão microvascular (DMV), radiofrequência percutânea e a radiocirurgia estereotáxica são opções. De acordo com o especialista, a DMV é frequentemente a mais eficaz em termos de alívio duradouro.
“Avanços recentes incluem técnicas cirúrgicas mais seguras e menos invasivas. Existem também pesquisas voltadas para o uso da toxina botulínica, melhores protocolos para a radiocirurgia e até mesmo o uso de anticorpos monoclonais”, diz o médico.
A neuralgia do trigêmeo pode impactar profundamente a qualidade de vida das pessoas, causando dor severa e debilitante, que pode levar ao isolamento social e à depressão. Psicologicamente, a imprevisibilidade dos episódios dolorosos contribui para a ansiedade e o estresse crônico. Além disso, os quadros de dores crônicas podem levar ao aumento da dependência de medicamentos.
Sofrendo com a condição há 11 anos, Carolina Arruda decidiu fazer uma campanha de arrecadação na internet para viajar à Suíça e realizar uma utanasia. No Brasil, a eutanásia e o suicídio assistido são proibidos.
O neurocirurgião conta que buscar eutanásia devido à neuralgia do trigêmeo é um tópico sensível e controverso. A comunidade médica enfatiza a necessidade de explorar todas as alternativas terapêuticas e de suporte psicológico.
“Em casos extremos, além dos tratamentos já mencionados, técnicas de neuromodulação e cuidados paliativos especializados podem ser considerados para oferecer alívio adequado e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Esse é o motivo pelo qual devemos nos dedicar e buscar sempre melhores situações e opções de tratamento”, conclui.