A Polícia-Técnico Científica de São Paulo afirmou nesta segunda-feira, 12, que todas as vítimas do acidente com o avião em Vinhedo (SP) morreram de politraumatismo. O diretor do IML, Vladmir Alves dos Reis, disse que a aeronave despencou de uma altura de quatro mil metros e, ao atingir o solo, o choque causou politraumatismo nas vítimas.
Em entrevista ao Terra Você, o médico ortopedista Daniel Oliveira explica que o politraumatismo é a condição onde o paciente apresenta lesões graves em múltiplos sistemas corporais.
“Essas lesões podem incluir fraturas ósseas, lesões na cabeça, no tórax, no abdômen, além de danos aos órgãos internos, como pulmões, fígado ou rins. Variam em gravidade e podem ser potencialmente fatais”, diz o especialista.
O médico conta que em acidentes aéreos, as lesões ortopédicas mais frequentes incluem fraturas múltiplas nos membros, fraturas pélvicas, fraturas de coluna e traumatismos cranioencefálicos. De acordo com o profissional, essas lesões também costumam ser complexas e frequentemente associadas a danos em outros órgãos.
Em caso de sobreviventes -- o que não ocorreu na tragédia -- o ortopedista ainda explica que a gravidade do politraumatismo dita a necessidade de priorização das intervenções. Inicialmente, adota-se a "cirurgia de controle de danos" para estabilizar fraturas e controlar hemorragias. Cirurgias definitivas são realizadas quando o paciente está mais estável.
Algumas das áreas mais comumente afetadas em casos de politraumatismo incluem traumas na cabeça, incluindo fraturas cranianas e lesões no pescoço. Elas são mais frequentes em acidentes de trânsito, quedas e agressões, devido à exposição da cabeça a impactos.
Quais regiões são mais afetadas?
- O tórax, que pode ser afetado por fraturas de costelas, lesões nos pulmões e no coração, resultando em colisões em alta velocidade ou lesões súbitas do peito, como em acidentes automobilísticos.
- Os traumas abdominais, que podem envolver lesões em órgãos internos, como fígado, baço, rins e intestinos, geralmente devido a impactos diretos na região abdominal, como em acidentes de moto ou quedas.
- Em membros, como braços e pernas, que podem sofrer deslocamentos articulares e lesões de tecidos moles devido a quedas, colisões ou esmagamentos.
- Pelve e bacia, por conta de acidentes de trânsito, quedas e lesões esportivas, causando fraturas complexas e lesões em órgãos próximos, como a bexiga.
- Coluna vertebral, que pode ter traumas particularmente graves e resultar em lesões na medula espinhal, causando paralisia ou danos neurológicos significativos. Elas são comuns de acontecer em acidentes de mergulho, quedas de altura e colisões.
As áreas mencionadas pelo especialista são mais propensas a lesões em casos de politraumatismo devido à sua exposição, estrutura delicada ou localização vulnerável no corpo humano.
Traumatismo craniano é mais prevalente
O médico neurocirurgião Felipe Mendes chama a atenção de que alguns estudos informam que em pacientes socorridos após acidentes aéreos, o traumatismo craniano foi o segundo tipo de lesão mais comum, sendo o primeiro as fraturas de membros inferiores. Nos casos fatais, o traumatismo craniano foi o mais prevalente.
O neurocirurgião ainda explica que a avaliação inicial de tratamento de lesões cerebrais traumáticas em pacientes com politraumatismo segue os protocolos internacionais de manejo do paciente vítima de politraumatismo, em que é necessário assegurar uma via aérea adequada, além do funcionamento adequado do coração e imobilização adequada para evitar lesões de coluna.
“Após essa primeira parte, é avaliado o nível de consciência e se há perda de alguma função ou movimento. Na grande maioria das vezes, são solicitados exames de imagem como a tomografia computadorizada para confirmar e determinar o tipo de lesão intracraniana. Em outros casos, a ressonância magnética pode ser necessária como exame adicional”, conta ao Terra Você.
O especialista diz que após um acidente aéreo, mesmo que o paciente tenha sobrevivido inicialmente, existem alguns sinais e sintomas que podem indicar a possibilidade de desenvolvimento de lesões cerebrais tardias. É importante observar se há deterioração do nível de consciência, sonolência, dificuldade de permanecer acordado, dores de cabeça intensas, crises convulsivas, confusão mental, além de alterações motoras ou sensitivas.
Reconhecimento no IML
Vladmir Alves dos Reis, diretor do IML, disse ao divulgar a causa da morte dos passageiros que "nós temos a convicção de que todos morreram de politraumatismo. É uma certeza científica, a aeronave despencou de uma altura de quatro mil metros e, ao atingir o solo, o choque foi muito grande e todos eles sofreram politraumatismo".
Ainda de acordo com Reis, todas as vítimas já tinham morrido com o impacto da queda, e só posteriormente os corpos foram carbonizados. "As queimaduras que terminaram com a carbonização de alguns corpos foram secundárias ao politraumatismo."
O diretor afirmou também que todas as vítimas serão identificadas completamente. "Eu garanto para vocês que quando esses corpos forem entregues aos seus familiares eles vão ter 100% de certeza que realmente é aquela pessoa. Nós não liberamos nenhum corpo, nenhuma pessoa, nenhum cadáver se não houver uma certeza absoluta dessa verificação, é por isso que daqui pra frente o processo vai ser um pouco mais lento", explicou Reis.