O consumo descontrolado de carboidratos refinados e a falta de atividade física podem resultar em resistência à insulina
Engana-se quem pensa que o risco da obesidade está atrelado apenas à preocupação com o ganho de peso. Na verdade, essa condição pode ter relação direta com o surgimento de outras doenças prejudiciais e ou até ser fatal para o corpo humano. Um exemplo disso é a diabetes. A diabetes tipo 2 é uma das enfermidades que podem surgir ou se agravar com o sobrepeso. Essa variante é mais prevalente e, junto do tipo 1, a doença afeta 16,8 milhões de pessoas no Brasil - números registrados pelo Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes no final de 2022. Lorena Balestra, médica pós-graduada em nutrologia e endocrinologia, esclareceu a ligação entre os dois distúrbios.
A especialista afirma que a ciência estabelece bem a relação entre obesidade e diabetes. "O excesso de peso leva a um aumento na resistência à insulina. Isso significa que as células não respondem à ação da insulina e promovem o aumento em níveis elevados de açúcar no sangue", explica. "A obesidade está associada à inflamação crônica e ao acúmulo de gordura visceral, que podem interferir no funcionamento adequado das células produtoras de insulina no pâncreas. Isso cria um ciclo prejudicial, no qual a obesidade contribui para a resistência à insulina e, por sua vez, a resistência à insulina pode levar ao ganho de peso", detalha a doutora, justificando o porquê a manutenção de um peso saudável é fundamental na prevenção e no gerenciamento do diabetes tipo 2.
É possível prevenir agravantes
A alimentação é a virada de chave para muitas questões envolvendo o cuidado com o corpo e a saúde, e nesse caso não seria diferente. "Uma dieta equilibrada e saudável pode ajudar a controlar o peso. Além disso, melhorar a sensibilidade à insulina e regular os níveis de açúcar no sangue", conta Lorena. Ela também compartilhou dicas para uma nutrição balanceada que possa agir de forma preventiva aos possíveis agravantes dessas patologias.
Alimentos que devem ser incluídos:
Fibras: Alimentos ricos em fibras e grãos como integrais, leguminosas, frutas e vegetais. Eles auxiliam no controle dos níveis de açúcar no sangue e na manutenção do peso.
Proteínas magras: Fontes magras de proteína, como peito de frango, peixe, ovos e leguminosas podem ajudar na saciedade e no controle do apetite.
Gorduras saudáveis: Ácidos graxos insaturados presentes em abacate, nozes, azeite de oliva e peixes gordos são suplementos para a saúde cardiovascular. Podem ajudar a regular o metabolismo.
Alimentos que devem ser evitados ou consumidos com moderação:
Açúcares adicionados: Evitar alimentos e bebidas açucaradas ajuda a controlar os níveis de glicose no sangue.
Alimentos processados e ultraprocessados: Esses alimentos muitas vezes contêm grandes quantidades de vitaminas, açúcares e aditivos, podendo permitir a sensibilidade à insulina. Carboidratos refinados: Reduzir o consumo de farinhas refinadas e produtos de panificação pode contribuir para o controle dos níveis de glicose no sangue.
"Uma dieta balanceada, com foco em alimentos naturais, ricos em fibras, proteínas e vitaminas saudáveis limita o consumo de açúcares adicionados e alimentos processados. Isso desempenha um papel fundamental na prevenção do diabetes em pessoas com excesso de peso", pontua a nutróloga.
Convivendo com as doenças
Além disso, em casos de pacientes que já convivem tanto com a diabetes quanto com a obesidade, algumas abordagens e estratégias nutricionais são de extrema importância para a manutenção do bem-estar durante o tratamento, como lista Lorena.
*Controle de carboidratos: Monitorar e controlar a ingestão de carboidratos é fundamental para evitar picos de glicose no sangue. Optar por carboidratos complexos, como grãos integrais, leguminosas e vegetais não amiláceos ajuda a evitar flutuações abruptas nos níveis de açúcar;
*Distribuição de refeições: fazer refeições menores e mais frequentes ao longo do dia pode ajudar a evitar picos e quedas extremas nos níveis de açúcar no sangue, além de manter o metabolismo ativo. comer menos à noite;
*Monitoramento regular: acompanhar os níveis de glicose no sangue e manter um diário alimentar ajuda a identificar padrões e fazer ajustes na dieta conforme necessário;
*Consulta com profissional de saúde: O médico especializado em diabetes e obesidade desenvolve um plano alimentar personalizado, levando em consideração as necessidades e metas de saúde individuais.
Novo método contra a obesidade
A médica nutróloga revelou à MALU o Método 40P 30G 30C, desenvolvido por ela, comprovado e publicado em revistas especializadas da área, que mostrou ser eficaz para o tratamento dos pacientes acometidos pela obesidade e diabetes tipo 2. A técnica consiste em orientar os pacientes a usar as proporções corretas dos macronutrientes, da seguinte forma:
Método 40P 30G 30C = 40% de proteínas magras + 30% de gorduras boas + 30% de carboidratos de boa qualidade que serão distribuídos ao longo das refeições.
A ordem faz diferença
Principalmente, parte do método também envolve orientar a sequência adequada de consumo dos alimentos, começando sempre com proteínas, seguidas por saladas, legumes e vegetais. O carboidrato é deixado por último nessa refeição. "Essa estratégia reduz os picos de insulina, controla melhor a glicemia no sangue, e os temidos picos de insulina não acontecem. Isso ajuda a evitar o acúmulo de gordura, além de contribuir para a saciedade do paciente por período de tempo mais longo", ressalta a especialista.
Consumir menos calorias durante o jantar e períodos noturnos é importante uma vez que nosso consumo calórico diminui durante o sono. Além disso, não pular o café da manhã é crucial. Estudos indicam que ao incorporar proteínas magras já no café da manhã, é possível manter uma melhor regulação dos níveis de insulina ao longo do dia.
O combate a obesidade vai além da alimentação
Sem diminuir o valor que uma nutrição balanceada tem para a manutenção do bem-estar, voltar a atenção para outros hábitos saudáveis, acima de tudo, também é indispensável para o controle dos quadros de obesidade e diabetes.
Algumas dessas práticas incluem atividade física e regular, controle do estresse, tempo de sono e descanso adequado. Além disso, é essencial o abandono do tabagismo, moderação do consumo de álcool, conscientização e autogerenciamento. E, é claro, acompanhamento médico regular e adequado para as suas particularidades. "Realizar exames de saúde regularmente, monitorar os níveis de glicose no sangue e manter um diálogo aberto com profissionais de saúde são essenciais para a prevenção e o controle do diabetes", orienta Lorena.
Aliado contra a obesidade com aval da Anvisa
Um dos métodos empregados para o tratamento da diabetes tipo 2 envolve a administração de injeções que contém a molécula semaglutida. Após observar-se que um dos efeitos dessa intervenção era a perda de peso, pesquisas levaram à expansão do uso desse tratamento para contemplar indivíduos com sobrepeso associado a comorbidades e obesidade.
No entanto, é importante ressaltar que esse medicamento não é de livre acesso nas farmácias e não é indicado para todos. O grupo-alvo engloba pacientes cujo Índice de Massa Corporal (IMC) situa-se entre 25 e 30, caracterizando o sobrepeso quando associado a doenças, além daqueles com IMC acima de 30, caracterizando a obesidade.
É um trabalho em equipe
A combinação dos hábitos de vida saudáveis, juntamente com uma dieta adequada, pode ter um impacto positivo significativo na prevenção e no controle da diabetes em indivíduos com excesso de peso. Lembre-se de que cada pessoa é única. Consulte profissionais de saúde para obter orientações personalizadas, que variam de acordo com a idade, sexo, atividade física, preferências alimentares e outras condições médicas.
"O trabalho em equipe entre o nutricionista, médico nutrólogo e ou endocrinologista e educador físico é crucial para otimizar os resultados no tratamento de pacientes com diabetes e obesidade, pois cada profissional contribui com expertise específica", aponta a médica. O acompanhamento multidisciplinar possibilita adaptações contínuas e um acompanhamento mais amplo que, de acordo com Lorena, "garante que as perspectivas médicas, nutricionais e de atividade física estejam adequadamente alinhadas para atingir ótimos resultados no controle da diabetes e da obesidade", finaliza a especialista.