A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou nesta sexta-feira os planos para iniciar nas próximas semanas um teste em massa das vacinas contra o ebola em Libéria, Serra Leoa e Guiné, países gravemente afetados pela epidemia que provocou mais de oito mil mortos.
Atualmente na fase 1, esses testes, com a participação de 37 mil pessoas, farão parte da "fase 3" dos ensaios clínicos com as vacinas VSV-Ebov, desenvolvida no Canadá e cuja patente foi adquirida pela indústria química Merck, e ChAd-EBO, da britânica GSK.
"A terceira fase dos testes significará administrar a vacina em voluntários saudáveis na área onde o vírus está sendo transmitindo. Isto é o que realmente provará que funcionam", disse hoje em entrevista coletiva a diretora-geral adjunta da OMS, Marie-Paule Kieny.
De acordo com ela, o processo acelerado foi lançado para desenvolver uma vacina contra o ebola, perante a gravidade da epidemia que afeta o oeste da África. Ainda segundo a diretora, a "fase 2" dos testes será feita paralelamente a terceira.
A segunda fase será realizada com uma quantidade maior de pessoas do que a da primeira - realizada nos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Suíça e países africanos - e que somam algumas centenas. Além disso, essa etapa incorporará grupos específicos, como crianças, que não estão expostas ao vírus. Marie-Paule disse que, para isso, a segunda fase vai acontecer nos países do entorno de Libéria, Serra Leoa e Guiné.
A OMS convocou ontem uma reunião, por teleconferência, com especialistas em vacinas de todo o mundo, que avaliaram os resultados preliminares dos ensaios clínicos em andamento e consideraram que as duas vacinas cumprem com os critérios de segurança. A avaliação está focada agora em determinar o nível de resposta imunológica que elas provocam no organismo dos receptores para assim adequar a dosagem.
O ensaio mais amplo com a vacina VSV-Ebov é realizado pelo Hospital Cantonal de Genebra e foi suspenso temporariamente na segunda semana de dezembro depois que vários voluntários se queixaram de dores nas articulações dias após ter recebido a vacina. O teste foi retomado no começo desta semana, mas com uma dose muito menor à usada originalmente.
Durante a reunião, os especialistas também receberam informações sobre outras potenciais vacinas que estão em desenvolvimento em Estados Unidos, Rússia e China.
Por enquanto, a que tem mais possibilidades, e que acaba de começar a primeira fase de testes no Reino Unido, é a produzida pela companhia Johnson & Johnson, que informou à OMS sobre seus planos de avançar para provas de eficácia, mediante ensaios de vacinações maciças nos países atingidos. Para preparar essas vacinações nas próximas semanas, foram formadas equipes para garantir a instalação das refrigerações necessárias, pois as vacinas necessitarão ser armazenadas a 18 graus abaixo de zero.
Por sua vez, GSK informou à OMS que possui a capacidade de produzir milhões de dose de sua vacina durante a primeira metade do ano, embora isto dependa em boa parte da quantidade que tenha a dose final que se inoculará.
A forma de determinar se as vacinas funcionam ou não será comparando o número de casos em uma população vacinada com os de uma população que ainda não foi e, para isto, "é preciso certo número de casos, pois não se pode comparar um com zero", explicou a diretora-geral adjunta da OMS.
Conforme o último relatório da entidade de saúde, a Libéria é o único país onde é observada realmente uma queda dos níveis de transmissão do vírus do ebola; enquanto em Serra Leoa, o mais afetado atualmente, os dados apontam a uma estabilização.
Em Guiné, a situação é oscilante, mas não há sinais de que a epidemia esteja controlada, pois a presença do vírus se estende geograficamente e uma das cidades informou recentemente seu primeiro caso desde o início do surto do ebola, em março do ano passado.