O cigarro é um dos maiores vilões para a saúde, promovendo danos para todo o corpo. Apesar de ser comumente associado a problemas no pulmão e no cérebro, seus riscos vão muito além, e podem causar diversos prejuízos ao funcionamento do organismo, principalmente para o metabolismo, a pele, o cabelo, o sistema reprodutivo, o coração, o rim e a circulação periférica. Um time de especialistas de diversas áreas explica como o hábito de fumar afeta as estruturas do corpo e a saúde como um todo. Confira:
Problemas de absorção de nutrientes
O tabagismo pode influenciar até mesmo nos aspectos nutricionais do organismo. "Por atuar no sistema nervoso central, o cigarro causa uma diminuição do apetite, pois afeta a atividade de neurotransmissores que são responsáveis pelo controle da fome, além de alterar o paladar e o olfato, reduzindo o gosto e o aroma dos alimentos", diz a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
"Além disso, o cigarro promove um efeito termogênico, acelerando o metabolismo, o que leva ao emagrecimento e reduz a oxigenação dos tecidos do organismo, o que, por sua vez, causa envelhecimento precoce e acelerado", alerta a médica.
Cigarro promove envelhecimento da pele e complicações após tratamentos estéticos
O cigarro definitivamente não combina com a saúde da sua pele. "Uma pessoa fumante ingere diversas substâncias nocivas que entram na corrente sanguínea, dificultando a oxigenação do sangue. Por isso, o tabagista vive em uma condição de ar rarefeito constante devido à pequena quantidade de oxigênio circulante no sangue. A boa oxigenação dos tecidos é responsável pela manutenção das suas funções de maneira adequada. A pele, por ser um tecido que se renova constantemente, precisa de um aporte sanguíneo intenso. Então, se a circulação é prejudicada, a pele e suas funções também são afetadas", explica a Dra. Cintia Guedes, dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD)
Como resultado, a pele fica mais seca, mais propensa ao aparecimento de rugas (principalmente o famoso código de barras devido à constante aspiração do cigarro) e adquire uma coloração amarelada. A produção de colágeno também é prejudicada, resultando em maior flacidez.
Mas os danos à pele não acabam por aí. "Existe uma maior incidência de complicações cirúrgicas em pacientes fumantes devido à vasoconstrição causada pelo cigarro, incluindo trombose pulmonar, infecção, hematoma, necrose de tecidos e problemas com qualidade de cicatriz", explica a cirurgiã plástica Dra. Beatriz Lassance, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e da Isaps (International Society of Aesthetic Plastic Surgery). "Alguns estudos apontam um aumento de até quatro vezes o número de complicações e intercorrências em decorrência do tabagismo, tanto no aparelho respiratório como risco de necroses e dificuldade de cicatrização da área operada", completa.
Fumar causa danos ao couro cabeludo e aos fios
O hábito de fumar também pode prejudicar os fios. "Por reduzir a circulação e a oxigenação dos tecidos, o cigarro também afeta os cabelos, prejudicando o crescimento e a saúde dos fios. Além disso, tabagistas também apresentam fios brancos mais precocemente que pessoas que não fumam", diz a Dra Cintia Guedes.
Cigarro causa impactos na fertilidade
O cigarro é um dos principais causadores da infertilidade, pois os componentes tóxicos presentes no produto, como a nicotina e o alcatrão, pioram severamente a qualidade reprodutiva. "Nas mulheres, o tabagismo é capaz de favorecer a deterioração dos óvulos, envelhecendo-os em até dez anos e acelerando o início da menopausa, o que é especialmente prejudicial hoje em dia, quando as mulheres estão querendo engravidar cada vez mais tarde. Já nos homens, o hábito de fumar diminui a quantidade de espermatozoides e fragmenta o DNA do esperma, reduzindo assim a capacidade de fecundação, além de também contribuir para a perda do apetite sexual e a disfunção erétil", afirma o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime.
O cigarro é prejudicial ao coração
A médica nefrologista e intensivista Dra. Caroline Reigada, também especialista em Clínica Médica/Interna, explica que cada vez que você inala a fumaça do cigarro, sua frequência cardíaca e sua pressão arterial aumentam temporariamente. "Seu coração tem que bater mais forte e mais rápido do que o normal. Os níveis de colesterol também ficam fora de controle, já que a fumaça do cigarro aumenta os níveis de LDL, ou colesterol 'ruim', e de uma gordura no sangue chamada triglicerídeos. Isso faz com que uma placa de gordura se acumule em suas artérias, aumentando o risco de ataques cardíacos", explica a médica.
Logo, parar de fumar é uma excelente maneira de melhorar a saúde cardíaca. Segundo estudos, apenas 20 minutos depois de parar, sua pressão arterial e frequência cardíaca diminuem. "Em 2 a 3 semanas, seu fluxo sanguíneo começa a melhorar. Depois de um ano sem cigarros, você tem metade da probabilidade de sofrer com alguma doença cardíaca do que quando fumava. Depois de 5 anos, o risco é quase o mesmo do que de alguém que nunca acendeu um cigarro", afirma a especialista.
Doenças renais e câncer no rim
O tabagismo é um dos principais fatores de risco que podem levar à doença renal terminal, conta a médica nefrologista Dra. Caroline Reigada. Ela aponta algumas das possíveis maneiras pelas quais fumar pode prejudicar os rins:
- Aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca;
- Redução do fluxo sanguíneo nos rins;
- Aumento da produção de angiotensina II (um hormônio produzido no rim);
- Estreitamento dos vasos sanguíneos nos rins; danos nas arteríolas (ramos de artérias);
- Formação de arteriosclerose (espessamento e endurecimento) das artérias renais;
- Aceleração da perda da função renal.
"Além do tabaco, fumar permite que outras toxinas entrem no corpo. E de acordo com a Associação Americana de Pacientes Renais (AAKP), estudos mostraram que fumar é prejudicial para os rins, podendo causar a progressão da doença renal e aumentar o risco de proteinúria (quantidade excessiva de proteína na urina)", destaca a médica nefrologista.
Estima-se que o tabagismo seja responsável por aproximadamente 17,4% dos casos de câncer de rim, pelve renal e ureter nos Estados Unidos. "A fumaça do tabaco tem sido associada a mutações genéticas, inflamação e danos celulares, todos os quais alimentam o crescimento do câncer. Fumar aumenta o risco de desenvolver carcinoma de células renais (CCR). O risco aumentado parece estar relacionado ao quanto você fuma e ele diminui se você parar de fumar, mas leva muitos anos para chegar ao nível de risco de alguém que nunca fumou. Mas nunca é tarde para parar", incentiva a Dra. Caroline.
Alterações da circulação periférica
A circulação é uma das estruturas que mais sofre com o tabagismo. "O cigarro pode causar problemas circulatórios como arteriosclerose e tromboangeíte obliterante, distúrbio que afeta as extremidades do corpo. Em ambos os casos, há riscos de ter de amputar os membros, como pernas, pés e mãos", explica a cirurgiã vascular Dra. Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV).
Além disso, a nicotina está ligada à diminuição da espessura dos vasos sanguíneos e o monóxido de carbono reduz a concentração de oxigênio no sangue. "Todo esse processo pode causar complicações para o normal funcionamento dos vasos, que ficam mais susceptíveis ao entupimento, podendo levar a processos de trombose, principalmente quando há fatores de risco envolvidos", enfatiza a Dra. Aline.
Parar de fumar em 2023
Parar com o cigarro não é uma tarefa simples: estudos mostram que apenas 15% das pessoas que tentam parar de fumar sem ajuda profissional conseguem. "O cigarro está muito ligado ao hábito, claro que existe uma dependência química ligada ao estresse, mas quando uma pessoa consegue identificar o gatilho que a faz ter vontade de fumar pode tentar acabar com estes gatilhos ou ainda mudar a resposta a eles", explica a Dra. Beatriz Lassance, também membro do American College of LifeStyle Medicine.
A especialista dá dicas para quem quer abandonar o vício. "Busque qualquer atividade que dê prazer. Tente começar uma atividade física, ela é o maior antioxidante que existe. O consumo de energia do corpo em movimento obriga nosso organismo a produzir antioxidantes de maneira enorme, que nos protege da ação dos radicais livres, e também ajuda a reduzir a ansiedade. Qualquer atividade física é importante. Quanto maior o número de músculos você mexer, melhor", finaliza a Dra. Beatriz.