Pazuello volta a Manaus, mas se exime de culpa por crise

O Estado do Amazonas está em colapso desde a semana passada por causa do aumento de casos de covid-19

21 jan 2021 - 12h20
(atualizado às 12h36)

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, volta a Manaus (AM) nesta quinta-feira, 21, dias após uma passagem pela cidade que ficou marcada pela pressão pelo uso de medicamentos rejeitados por entidades médicas e científicas contra a covid-19, como a cloroquina. O Amazonas está em colapso desde a semana passada e transferiu pacientes da covid-19 a outras cidades pela falta de oxigênio.

Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em São Paulo
18/01/2021 REUTERS/Carla Carniel
Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em São Paulo 18/01/2021 REUTERS/Carla Carniel
Foto: Reuters

O ministério ainda não divulgou a agenda de Pazuello na cidade. O general tenta afastar do governo federal qualquer responsabilidade pela crise no Amazonas. "Tudo o que o governador pediu, já foi feito", disse Pazuello nesta quinta-feira, 21, em evento do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).

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Pazuello também disse à imprensa, após o evento, que o ministério "acompanha e apoia" a ajuda ao Estado, mas que as ações estão "a cargo do prefeito e do governador". "Não estão a cargo do Ministério da Saúde", afirmou o ministro.

O general esteve na últimas semana em Manaus. Deixou a cidade no dia 13, véspera de o governo local anunciar que o oxigênio acabara em parte da rede de atendimento, o que deflagrou uma operação para levar o insumo ao Estado e transferir pacientes a outras cidades.

O ministério já sabia desde o dia 8 sobre a falta de oxigênio, mas levou a Manaus, na última semana, uma força-tarefa de auxiliares de Pazuello e médicos convidados para percorrer unidades de saúde e pressionar pelo uso do "kit covid", que inclui a cloroquina e outros medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19. Em ofício, o ministério chegou a falar à Secretaria de Saúde de Manaus que seria "inadmissível" não prescrever estes medicamentos.

O general também lançou na capital do Amazonas o TrateCOV, aplicativo usado por médicos que, em tese, deveria auxiliar no diagnóstico da covid-19. Como mostrou o Estadão, o programa, porém, indica o 'kit' covid até para um recém-nascido que tem náusea e diarreia.

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Após a passagem de Pazuello por Manaus, a Procuradoria da República no Amazonas abriu um inquérito civil para apurar se o ministério foi omisso na ajuda à região e optou pela aposta no tratamento contestado. Pressionado, Pazuello modulou o discurso e disse, na segunda-feira, 18, que jamais incentivou o uso de medicamento algum e apenas defendeu o "atendimento precoce". No vocabulário do governo federal, porém, a defesa do atendimento ou tratamento precoce se mistura com a pressão pelo uso da cloroquina. Há farto registro de alegações de Pazuello e de Bolsonaro de que o "kit covid" dá certo. Em 22 de outubro, Pazuello disse ter ficado "zero bala" após tomar o "kit completo" e recomendou que, se o médico não quiser prescrever estes medicamentos, é só buscar outro. Dias mais tarde, o general teve de ser internado num dos hospitais mais caros de Brasília por complicações da covid-19.

Negociação com China e Índia

Pazuello disse nesta quinta-feira, 21, que aguarda uma "avalanche" de propostas ao Brasil para a compra de vacinas. O general, porém, não deu data para concretizar as importações de doses prontas do imunizante de Oxford/AstraZeneca, da Índia, e de insumos da China para a produção da Fiocruz e do Instituto Butantan.

"Em janeiro, agora, e começo de fevereiro, vai ser uma avalanche de laboratórios apresentando suas propostas. A gente tem de estar com muita atenção e cuidado, para colocar todas elas o mais rápido possível disponíveis, dentro da segurança e eficácia", afirmou o ministro.

A vacinação contra a covid-19 no Brasil começou no domingo, 17, mas há risco de o calendário ser interrompido pela falta de doses. O governo afirma que ainda negocia com empresas como a Pfizer, mas trata com desdém a proposta de venda de imunizantes da farmacêutica. O presidente Jair Bolsonaro chegou a afirmar, em tom irônico, que quem tomar esta vacina pode virar jacaré.

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Além disso, o governo corre para garantir importações já contratadas. Pazuello disse que conversou "pessoalmente" duas vezes, na quarta-feira, 20, com o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming. "Ele colocou que não há nenhuma discussão política e diplomática, e sim burocrática. Ele vai encontrar onde está esse entrave e ajudar a destravar", disse Pazuello. Os insumos da China vão permitir que a Fiocruz e o Butantan produzam, respectivamente, doses das vacinas de Oxford/AstraZeneca e da Coronavac.

O general disse ainda que a previsão contratual era de entregar até 31 de janeiro o insumo à Fiocruz. "Estamos nos antecipando ao problema. Só posso acionar (contratualmente), e acionarei (a AstraZeneca) no primeiro dia de atraso, que é após o fim de janeiro", disse.

Após acumular ataques à China, o governo brasileiro agora nega divergências políticas e montou uma força-tarefa para negociar a importação deste insumo. O chanceler Ernesto Araújo, porém, tem sido isolado nas discussões. O próprio presidente Jair Bolsonaro, porém, já desacreditou a segurança e eficácia da Coronavac citando a sua "origem". O produto foi desenvolvido pela chinesa Sinovac. "Da China nós não compraremos. É decisão minha. Não acredito que ela transmita segurança suficiente a população pela sua origem, esse é o pensamento nosso", disse Bolsonaro, em 21 de outubro, em entrevista à Jovem Pan.

Sem apontar datas, o ministro afirmou que a liberação de doses prontas da vacina de Oxford/AstraZeneca da Índia deve ocorrer em breve. "Notícias são muito boas, mas não há data exata da decolagem. Ela será dada nos próximos dias. Nos próximos dias é muito próximo", afirmou o ministro.

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Pazuello disse ainda que a vacinação no Brasil está "dentro do programado". "É um país continental. Está chegando nos municípios mais distintos", disse ele.

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