A Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE) confirmou nesta quinta-feira, 9, um caso de raiva humana, o primeiro no estado após oito anos sem registros. A paciente, uma mulher de 56 anos, foi ferida por um sagui e encontra-se internada em estado grave no Hospital Universitário Oswaldo Cruz da Universidade de Pernambuco (HUOC/UPE), em Recife.
O diagnóstico foi estabelecido por exames realizados no Instituto Pasteur de São Paulo, referência no estudo da raiva. O laudo também confirmou que o vírus presente na paciente tem origem silvestre.
De acordo com a secretaria, a mulher deu entrada no hospital em 31 de dezembro, apresentando dormência, dores e fraqueza, além de um ferimento na mão esquerda.
Dois dias após a internação, a paciente apresentou piora, com agitação e insuficiência respiratória, e foi submetida à ventilação mecânica. "Desde então, ela está sob sedação profunda, sem necessidade de suporte adicional, urina bem e não apresenta sinais de infecção bacteriana secundária", informou a médica Ana Flávia Campos em nota da SES.
Natural de Santa Maria do Cambucá, no agreste pernambucano, a paciente teve contato com o sagui na área urbana, após queimadas na região forçarem o animal a sair da mata.
Vírus em circulação
O diretor-geral de Vigilância Ambiental de Pernambuco, Eduardo Bezerra, ressaltou que, embora não houvesse casos recentes de raiva humana, o vírus continua circulando entre animais silvestres. "As espécies que vivem na mata são diferentes dos animais domésticos, que são vacinados contra a doença."
De acordo com o Ministério da Saúde, os últimos casos de raiva em humanos transmitidos por cães, por exemplo, ocorreram em 2013, no Maranhão, e em 2015, em Mato Grosso do Sul. Já casos de infecção envolvendo animais silvestres são registrados ao menos uma vez por ano em algum estado do País.
No total, entre 2010 e 2024, foram registrados 48 casos de raiva humana no Brasil, sendo que 24 foram causados por morcegos, nove por mordidas de cães, seis por primatas não humanos, dois por raposas, quatro por felinos e um por bovino. Dois não tiveram a origem definida.
O que é a raiva humana?
A raiva é uma doença infecciosa viral aguda causada por vírus do gênero Lyssavirus, com uma taxa de letalidade de aproximadamente 100%. Ela é transmitida por mordidas, lambidas ou arranhões de mamíferos infectados, que repassam o patógeno pela saliva.
Segundo o Ministério da Saúde, até hoje, apenas duas pessoas infectadas sobreviveram à doença no País. A primeira foi Marciano Menezes da Silva, também pernambucano, em 2008. E a segunda foi um garoto de 14 anos, no Amazonas, 10 anos depois.
Como prevenir? O que fazer se for mordido?
De acordo com o Instituto Butantan, vacinar os animais anualmente é considerada a forma mais eficaz de prevenção.
Também existe vacina para humanos. Ela é recomendada de forma preventiva para veterinários, tratadores e outros profissionais que correm maior risco de ter contato com animais infectados. No entanto, pode ser administrada em qualquer pessoa após a exposição ao vírus, como vacinação primária ou como dose de reforço.
Ainda segundo o Butantan, se uma pessoa for mordida, lambida ou arranhada por um animal suspeito, deve lavar o local ferido com água e sabão e procurar a unidade de saúde mais próxima, onde poderá receber a vacina.
Outras medidas importantes são procurar saber se o animal está vacinado contra raiva e, se possível, observá-lo por 10 dias, tempo máximo de apresentação dos sintomas.
Como é o tratamento?
Quando o vírus acomete humanos, ele se replica no local da ferida e atinge o sistema nervoso central, provocando uma inflamação progressiva e aguda no cérebro.
Assim, o tratamento após a exposição ao vírus inclui cuidados com o local do ferimento, vacina pós-exposição e aplicação de soro antirrábico e imunoglobulinas (solução concentrada de anticorpos).
Em humanos, a doença pode levar até 45 dias para se manifestar e a vacina pós-exposição induz a formação de anticorpos protetores, enquanto o soro tem o poder de neutralizá-lo. Por isso, são medidas importantes e que devem ser buscadas o quanto antes.