Em quase todo o Brasil, pessoas negras estão em maior número em casos de acidentes ou incidentes adversos durante procedimentos médicos. A única exceção é a região Sul, segundo o Boletim Çarê-Ieps n.3.
Batizado como "Acidentes e incidentes adversos no período de internação, segundo raça/ cor", o documento é elaborado pela Cátedra Çarê - Ieps, uma iniciativa do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde.
Para produzir o estudo, considera-se a Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10), que define eventos adversos como condições hospitalares adquiridas de forma indesejável e não-intencionais durante o período de internação. Isso inclui desde cortes acidentais a perfurações e objetos estranhos deixados no corpo do paciente durante procedimentos.
A pesquisa considera dados extraídos entre 2012 e 2021, quando foram registrados um total de 66.496 ocorrências do tipo. De acordo com a entidade, as chances de internação por acidente ou incidente médico no período foi seis vezes maior entre pessoas negras nas regiões Norte e Nordeste. No Centro-Oeste, a diferença foi três vezes maior, enquanto no Sudeste brasileiro foi 65% maior. No Sul, única região onde a tendência se inverte, pessoas brancas têm 38% mais chances de sofrer com essas causas.
Com a divulgação dos dados, Rony Coelho, pesquisador do Ieps e integrante da Cátedra Çarê-Ieps, destaca que o cenário mostra como a população negra está mais exposta a situações de negligência ou erro médico.
“Os dados confirmam, mais uma vez, os impactos das desigualdades raciais na saúde da população negra; que mesmo quando conseguem atendimento médico estão mais expostas a situações de risco, como cortes acidentais, perfurações ou erros de dosagem e outras adversidades relacionadas à prestação de cuidados que podem ocorrer durante o período de internação”.
A pesquisa também chama atenção para a queda nos registros de internações decorrentes de acidentes e incidentes médicos. Essa redução começou em 2016 e seguiu até 2021 (último analisado), quando o número de registros foi de 4.697.
O Ieps sugere que essa tendência seja um reflexo de melhorias na gestão e prevenção dessas situações. Mas não descarta também a possibilidade de um maior volume de casos subnotificados.