Com a saída do ministro da Saúde, Henrique Mandetta, dada como certa, o governo teme que uma debandada nos cargos de segundo escalão leve à paralisia da pasta em meio à pandemia do coronavírus. Ministros palacianos agem para evitar que auxiliares de Mandetta sigam o caminho do secretário nacional de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, que pediu demissão na manhã desta quarta-feira, 15, em meio às especulações sobre a saída do ministro.
Segundo fontes do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro deu início ao processo de substituição de Mandetta ontem depois de considerar uma provocação a entrevista do ministro ao Fantástico, no domingo, na qual cobrou uma "fala única" do governo quanto às medidas de controle da pandemia.
No momento, Bolsonaro está recebendo sugestões de nomes de possíveis substitutos. De acordo com auxiliares diretos do presidente, os nomes de Claudio Lottemberg (presidente do conselho do hospital Albert Einstein), Ludhmila Hajjar (diretora da Sociedade Brasileira de Cardiologia) e Nise Yamaguchi (oncologista e infectologista que defende o uso da cloroquina) nem chegaram à mesa do presidente.
A preocupação quanto a um possível desmonte da pasta vem do 4º andar do Palácio do Planalto, onde ficam os ministros militares que atuaram fortemente na pacificação entre Bolsonaro e Mandetta na semana passada. Eles estão mapeando quais integrantes dos escalões inferiores não são ligados umbilicalmente a Mandetta e poderiam continuar no governo caso se confirme a saída do ministro.
O Ministério da Saúde tem seis secretarias além da secretaria-executiva, ocupada por Gabbardo. Neste contexto, segundo um auxiliar direto de Bolsonaro, o número 2 da pasta ganha força devido aos seus vínculos com os demais integrantes da pasta. De acordo com este auxiliar do presidente, os ministros militares devem entrar em campo para convencer auxiliares de Mandetta a permanecer em suas funções.
Depois que a saída do ministro se tornou uma possibilidade concreta, alguns deles teriam manifestado descontentamento em relação ao titular. O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, que assim como Mandetta é do DEM, estaria trabalhando para equacionar os casos dos integrantes do segundo escalão que foram nomeados por indicações políticas do partido.
Ainda de acordo com fontes do Planalto, Bolsonaro só deve demitir o ministro da Saúde depois que tiver resolvido a questão dos cargos de segundo escalão.
Mandetta entrou em rota de colisão com Bolsonaro há duas semanas quando insistiu em defender orientações como o isolamento social, seguindo recomendações das principais autoridades nas áreas sanitária e de saúde de todo o mundo, contrariando a posição de Bolsonaro.
O ápice dos atritos foi na segunda-feira da semana passada, quando Bolsonaro ameaçou "usar a caneta" para enquadrar auxiliares. A demissão de Mandetta já era dada como certa quando ministros militares fizeram o papel de bombeiros da crise. Neste meio tempo pesquisas de opinião mostraram que o ministro tinha avaliação melhor do que a do presidente.
O DEM passou a dar tratamento diferenciado a Mandetta. No feriado da Semana Santa, correligionários orientaram o ministro a demarcar posição em relação a Bolsonaro.
A gota d'água foi a entrevista ao Fantástico, no domingo, vista como uma provocação, que levou os ministros militares a retirarem o apoio ao titular da Saúde. Em entrevista ao Estado, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que Mandetta "cometeu falta e merece cartão".