Produto utilizado em procedimentos médicos e estéticos, o PMMA (polimetilmetacrilato) é uma substância que ganhou má fama depois que seu uso causou complicações graves em pacientes e alguns até morreram. O componente ficou ainda mais conhecido há 6 anos, depois que uma paciente morreu após realizar um implante clandestino.
O responsável foi o médico Denis Cesar Barros Furtado, também conhecido como Doutor Bumbum. Mesmo não sendo cirurgião plástico, ele aplicava o PMMA em sua casa. A bancária Lilian Calixto, 46, foi uma das vítimas fatais e sofreu embolia pulmonar devido à aplicação do PMMA no glúteo.
Ainda que diversos casos como o de Lilian tenham repercutido na mídia, o uso do PMMA continuou. Em fevereiro deste ano, uma mulher perdeu o lábio ao fazer aplicação da substância. Agora, o caso mais recente é o da influenciadora digital Aline Maria Ferreira da Silva, de 33 anos, que morreu na última terça-feira (2), nove dias após aplicar a subtância em um procedimento estético para aumentar os glúteos.
O procedimento foi realizado em uma clínica de estética em Goiânia, e a influenciadora teria retornado para Brasília, onde morava, no mesmo dia. Ao G1, o marido relatou que Aline começou a ter febre e se queixar de dores já no dia seguinte à aplicação. A dona da clínica que realizou a aplicação, a biomédica Grazielly da Silva Barbosa, foi presa em flagrante pela Polícia Civil de Goiás, Estado em que atuava.
Não recomendado para fins estéticos
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) diz que o PMMA pode ser usado em procedimentos estéticos para corrigir rugas e restaurar pequenos volumes perdidos de tecidos com o envelhecimento. Porém, nem a SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) nem a SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) recomendam o uso do produto para fins estéticos.
De acordo com o CFM (Conselho Federal de Medicina), quando usado em grandes quantidades, o PMMA não é seguro, tem resultados imprevisíveis a longo prazo e pode causar reações incuráveis, como inflamações, nódulos, necrose e até a morte.
Ao invés de usar o PMMA, o biomédico Thiago Martins sugere o uso de outras substâncias mais seguras para realizar o preenchimento, como é o caso do ácido hialurônico. O biomédico explica que, a depender do tamanho da partícula do Polimetilmetacrilato (PMMA), a resposta do organismo pode ser mais ou menos intensa.
Além disso, "a composição e a consistência do produto também afetam sua capacidade de permanecer estável no local de injeção. Materiais de baixa qualidade ou inadequadamente aplicados podem migrar para áreas adjacentes, levando a resultados estéticos indesejáveis e complicações".
Existe também o risco de o paciente desenvolver reações alérgicas aos componentes do PMMA ou a substâncias associadas utilizadas no procedimento, bem como infecções, seja pela técnica de aplicação, pela não esterilidade do produto ou pela resposta imunológica do hospedeiro.
Porém, segundo médicos da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) e da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), o PMMA pode ser usado para realizar o preenchimento facial em casos muito específicos, como o de pessoas com HIV/Aids para corrigir a lipodistrofia causada pelos medicamentos, indicação prevista pela Anvisa em portaria de 2009. A lipodistrofia é uma alteração na distribuição de gordura no corpo que pode ser causada por fatores hormonais, genéticos e externos.
Já para casos estéticos, a orientação é usar outra substância entre as disponíveis atualmente. "O tratamento é sempre personalizado para maximizar a recuperação funcional e estética. Mas a recomendação é não fazer [uso do PMMA]. Existem alternativas mais seguras como o ácido hialurônico. Ele tem efeito temporário e biocompatível, enquanto o PMMA é permanente”, já havia explicado o médico dermatologista Lucas Miranda em entrevista anterior ao Terra.