Pneumonia pode ter agravado quadro que causou a morte de Cid Moreira? Entenda

Jornalista de 97 anos tinha problemas graves nos rins desde 2022; uma das causa da morte foi 'insuficiência renal crônica agudizada'

3 out 2024 - 17h14
Cid Moreira fotografado pelo Estadão em 2004. O apresentador morreu, aos 97 anos, nesta quinta, 3.
Cid Moreira fotografado pelo Estadão em 2004. O apresentador morreu, aos 97 anos, nesta quinta, 3.
Foto: Fabio Motta/Estadão / Estadão

O apresentador e jornalista Cid Moreira morreu nesta quinta-feira (3) aos 97 anos. Ele estava internado há 29 dias no Hospital Santa Teresa, em Teresópolis, região Serrana do Rio de Janeiro, para tratar uma pneumonia. De acordo com a unidade, a causa da morte foi "insuficiência renal crônica agudizada, distúrbio eletrolítico e falência múltipla de órgãos."

Desde 2022, Cid enfrentava problemas renais e realizava sessões de diálise, que começaram no hospital e foram transferidas para sua casa, com o apoio de sua esposa, Fátima Sampaio.

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Em entrevista ao Terra Você, o médico nefrologista e presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia, José A. Moura Neto, e a médica geriatra da Saúde no Lar, Simone de Paula Pessoa Lima, explicam o quadro de saúde do apresentador.

Cida Moreira, jornalista
Foto: Reprodução | @instagram

Insuficiência renal crônica agudizada 

O nefrologista explica que a doença renal crônica agudizada é uma piora da função renal em um paciente que já tem uma doença renal crônica pré-existente. A condição pode gerar um aumento súbito dos níveis de creatinina e ureia no sangue, evidenciando uma piora da função renal em um paciente com função renal já reduzida. 

Entre as principais causas que levam à agudização de um quadro de insuficiência renal crônica agudizada, estão:

  • Desidratação;
  • Infecções;
  • Uso de medicamentos tóxicos aos rins;
  • Obstrução renal.

Sintomas são similares a disfunção renal

O médico explica que os sinais de insuficiência renal crônica agudizada são os mesmo de um insuficiência renal, como aumento da creatinina e ureia no sangue, edemas nas extremidades, náuseas, fadiga, dispneia, urina espumosa e volume urinário alterado, entre outros.

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De acordo com o especialista, uma das intervenções mais eficazes para estabilizar um paciente com insuficiência renal crônica agudizada, é a cessação da causa que gera a agudização. 

“Por exemplo, se a causa é uma desidratação, é importante que haja uma hidratação do paciente. Se é uma infecção, que haja tratamento dela. Se o paciente estiver em uma situação mais avançada, em alguns casos, pode ser necessário um tratamento dialítico”, explica o profissional. 

Condição pode ser revertida

O nefrologista afirma que, na maioria dos casos, o quadro de insuficiência renal crônica agudizada é reversível. Segundo ele, a reversão depende da causa e da agilidade em realizar o tratamento. O componente crônico da função renal, no entanto, não pode ser recuperado.

O médico destaca que se a agudização da condição não for tratada de forma adequada, ela pode acelerar o progresso de doença renal crônica.

Cuidados preventivos

Entre os cuidados preventivos para pessoas com doença renal, o médico destaca o monitoramento regular com exames de sangue e urina para acompanhamento da função renal, conhecimento de medicamento tóxicos aos rins, uso consciente de medicamentos em geral, manter-se hidratado adequadamente, alimentação equilibrada e o controle de doenças crônicas como hipertensão e diabetes.

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Pneumonia pode ter agravado o quadro?

Em conversa com o Terra Você, a médica pneumologista da Saúde no Lar, Michele Andreata, conta que a pneumonia pode ter agravado o quadro renal de Cid Moreira por meio de diversos mecanismos. 

A especialista explica que infecções graves como a pneumonia desencadeiam uma resposta inflamatória sistêmica no corpo, que pode comprometer a função de órgãos já fragilizados, como os rins. 

“Em pacientes que já apresentam doença renal crônica e dependem de diálise, a pneumonia pode gerar um aumento no risco de complicações, como sepse e choque séptico, ambos capazes de agravar ainda mais a função renal”, diz a médica.

Além disso, o estado infeccioso leva a um aumento nas demandas metabólicas e pode provocar desidratação ou distúrbios no balanço de fluidos e eletrólitos, sobrecarregando ainda mais os rins. 

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A pneumologista ressalta que o uso de alguns antibióticos e medicamentos necessários para tratar a infecção também pode impactar negativamente a função renal, especialmente em pessoas que já enfrentam problemas renais. Isso tudo cria um círculo vicioso de agravamento clínico, exigindo cuidados médicos intensivos e multidisciplinares.

Sinais de problemas renais podem ser difíceis de identificar em idosos

De acordo com a geriatra Simone de Paula, em idosos, os sinais de doença renal podem ser sutis e facilmente confundidos com outras condições. Sintomas como fadiga, perda de apetite, confusão mental e inchaço podem ser atribuídos ao envelhecimento ou a outras comorbidades.

Para monitorar adequadamente a função renal, ela indica a monitorização da saúde ou doenças em tratamento com realização de exames de sangue (creatinina, ureia, taxas de filtração glomerular), além de observar sinais de desidratação ou alterações na micção. 

Tratamento da insuficiência renal em pacientes nonagenários

Em pacientes nonagenários, o tratamento da insuficiência renal exige precauções especiais, de acordo com a especialista. A fragilidade física e a presença de múltiplas comorbidades podem limitar a tolerância do organismo a tratamentos agressivos, muitas vezes necessários para o quadro do paciente. 

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“Medicamentos devem ser ajustados cuidadosamente, considerando a função hepática e renal residual, para evitar toxicidades. Em muitos casos, a diálise pode ser desafiadora devido à fragilidade e à dificuldade de adaptação ao tratamento. Assim, é necessário balancear o benefício da intervenção com a qualidade de vida do paciente”, diz Simone.

Influência da fragilidade nas decisões sobre intervenções

A médica conta que a fragilidade que está diretamente ligada ao estado funcional dos idosos acima de 90 anos é o fator central na tomada de decisões sobre intervenções, como a diálise. 

Pacientes muito frágeis e com limitações funcionais severas podem não se beneficiar de tratamentos invasivos, que têm potencial de trazer mais desconforto do que melhora na qualidade de vida.

“Nesses casos, cuidados paliativos podem ser uma abordagem mais apropriada, focando no alívio de sintomas e no conforto, em vez de terapias que prolonguem a vida a qualquer custo. O objetivo deve sempre ser preservar a dignidade e o bem-estar do paciente”, afirma.

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Fonte: Redação Terra Você
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