Atualmente, segundo o neurocirurgião Felipe Mendes, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, não é possível realizar um transplante de cérebro devido aos desafios científicos e éticos envolvidos. Alternativas e abordagens terapêuticas podem ser usadas como o desenvolvimento de terapias baseadas em células-tronco, estimulação cerebral profunda e a medicina regenerativa.
O filme "Pobres Criaturas", ganhador de quatro estatuetas no Oscar deste ano, não impressionou apenas a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Los Angeles, EUA. A trama narra a história de uma jovem que foi trazida de volta à vida através de uma cirurgia de transplante cerebral. Com o apelo do filme, fica o questionamento: isso é possível?
Em entrevista ao Terra, Felipe Mendes, médico neurocirurgião membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, afasta as fantasias cinematográficas da vida real e conta que atualmente ainda não é possível realizar um transplante de cérebro.
“Esta é uma área extremamente complexa e desafiadora, devido à complexidade do sistema nervoso e da integração do cérebro com o resto do corpo. Não há no momento nenhuma perspectiva de conseguir atingir esse objetivo. Realizar um transplante de cérebro ainda é algo que permanece no mundo da ficção”, afirma o especialista.
De acordo com o profissional, os desafios científicos e éticos envolvidos na realização de um transplante de cérebro são significativos. Cientificamente, os desafios incluem a reconexão precisa de milhares de nervos, a garantia de compatibilidade do tecido para evitar a rejeição e a manutenção da viabilidade do tecido cerebral durante o transplante.
O médico conta que atualmente existem pesquisas dedicadas aos estudos de desenvolvimento de interfaces cérebro-máquinas. O Neuralink, do empresário Elon Musk, e o exoesqueleto do brasileiro Miguel Nicolelis são exemplos de estudos que almejam contornar as deficiências de doenças neurodegenerativas incapacitantes.
Existem porém alternativas e abordagens terapêuticas mais promissoras para tratar condições neurológicas graves, como o desenvolvimento de terapias baseadas em células-tronco, técnicas de neuromodulação, como a estimulação cerebral profunda e abordagens de medicina regenerativa para reparar tecido cerebral danificado.
“Além disso, hoje temos avanços significativos em várias frentes, incluindo o desenvolvimento de medicamentos que podem proteger o cérebro de danos (neuroprotetores) e em pesquisa em interfaces cérebro-computador, que visam restaurar, aumentar ou modificar as funções cerebrais através da interação direta entre o cérebro e os dispositivos eletrônicos”, conclui o neurocirurgião.