A notícia de que Faustão precisaria passar por um novo procedimento de transplante de órgão pegou fãs e admiradores do apresentador de surpresa nesta semana. Apenas seis meses após passar pelo procedimento no coração, ele realizou um transplante de rim na segunda-feira (26).
"Mais uma semana e estou em casa, liberado. Para quem fez um transplante do coração, o de rim é mais tranquilo", disse Faustão à coluna de Lauro Jardim para o jornal O Globo.
O Terra conversou com Pedro Túlio, coordenador do Programa de Transplante Renal e Pâncreas do Hospital São Lucas Copacabana, para explicar porque um transplante de rim é "mais tranquilo", como afirmou Faustão, e quais são as implicações desse tipo de procedimento cirúrgico.
De acordo com o médico, o transplante de rim é, atualmente, a modalidade de transplante de órgão sólido mais realizado no mundo, sendo reconhecido como a melhor forma de tratamento disponível para a doença renal crônica terminal.
“O grande desafio desse procedimento deixou de ser a questão cirúrgica e imunológica e passou a ser a disponibilidade de órgãos, já que mesmo em países com taxas de doação altas, como a Espanha, a fila continua crescendo”, destaca.
Embora seja uma cirurgia de alta complexidade e grande porte, o especialista explica que o transplante de rim tem uma recuperação mais rápida em comparação às outras modalidades, como transplante de coração, pulmão e fígado, principalmente, por aprimoramento nas técnicas cirúrgicas e melhorias dos cuidados pós-operatórios.
“Um paciente transplantado de rim permanece de 7 a 15 dias internado em observação no hospital antes de poder ir para casa, enquanto que pacientes transplantados de outros órgãos podem chegar a quase 1 mês de internação antes da alta hospitalar”.
Taxa de Rejeição
Sobre a taxa de rejeição no transplante de rim, o médico destaca que em uma ordem de grandeza, o coração ou pulmão transplantado tem mais chances de ser rejeitado do que um rim transplantado, que, por sua vez, tem mais chances de ser rejeitado do que um fígado transplantado.
Um fator importante na cirurgia do transplante renal, que ajuda a diminuir sua taxa de rejeição, é que ele é um transplante heterotópico, ou seja, colocado longe da sua posição anatômica original. Então, na grande maioria das vezes, não é necessário retirar os rins originais do paciente para fazer o transplante, já que o novo rim pode ser colocado próximo à linha da cintura.
O especialista conta que isso reduz o tempo de cirurgia e complexidade em comparação a um transplante cardíaco, pulmonar e de fígado, que são transplantes ortotópico, ou seja, quando o novo órgão é colocado no lugar em que o órgão original estava – o que exige a remoção do órgão original.
Procedimento
Dr. Pedro Túlio ressalta que tanto o transplante renal quanto o cardíaco necessitam de um teste inicial chamado Prova Cruzada, para saber se o receptor tem anticorpos formados contra o potencial doador antes de realizar o transplante.
Depois disso, no transplante de rim, a alocação do órgão, ou seja, para quem o órgão será destinado, é feita a partir de um ranking em que a maior pontuação é dada aos pacientes com melhor compatibilidade imunológica, que seria uma identidade do sistema imune.
“Quanto mais o doador for parecido com o receptor, mais chances esse receptor terá de receber o órgão. Fatores como idade e tempo de fila também contam para a alocação do transplante renal, mas o fator principal é a identidade imunológica”, acrescenta o médico.
Já no coração, a alocação não é feita por identidade imunológica, é necessário esse teste de Prova Cruzada e, depois, o critério é feito por questão de gravidade do caso.
O médico explica que as informações de que o transplante de rim tem um tempo de espera menor e mais acessível do que um transplante de coração não é verdadeira.
O que acontece é que o paciente candidato ao transplante de rim pode fazer a hemodiálise, que substitui a função do rim, então ele consegue esperar mais tempo pelo transplante. O apresentador Faustão, por exemplo, era prioridade pelas condições de saúde e ficou na fila para o transplante de coração por 20 dias, enquanto esperou por 2 meses para receber um novo rim.
“Por isso, a mortalidade em fila do transplante renal é menor do que em comparação ao transplante cardíaco, em que o paciente não tem outra opção de tratamento que não seja o transplante e é obrigado a esperar por um coração que seja compatível com o seu organismo”, conclui o profissional.