O médico cirurgião João Batista do Couto Neto (47), suspeito de provocar a morte de 42 pacientes e causar lesões em outros 114, em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, foi detido na tarde desta quinta-feira (14), em um hospital de Caçapava, no interior de São Paulo.
Relatos de ex-pacientes e colegas antigos descrevem que Couto realizava aproximadamente 30 cirurgias por turno de trabalho, executava procedimentos desnecessários e diagnosticou falsamente um câncer raro.
Em dezembro do ano passado, o médico foi alvo de uma operação policial que resultou no cumprimento de mandados de busca e apreensão no hospital onde atuava em Novo Hamburgo e em seu apartamento.
As suspeitas na época estavam relacionadas ao possível envolvimento na morte de cinco pacientes. Em fevereiro deste ano, João Couto fez seu registro no Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp).
Relatos de ex-pacientes e colega
Em depoimento ao G1, um paciente de 52 anos contou que procurou João Couto Neto em Novo Hamburgo devido a um desconforto no umbigo. O tratamento inicial para uma hérnia umbilical acabou incluindo a retirada de uma pedra na vesícula.
Apesar de ter sido liberado no mesmo dia, o paciente relatou uma recuperação extremamente difícil, com vômitos e intensas dores nos dois dias seguintes. Diante das suspeitas sobre a justificativa do médico, que sugeriu a possibilidade de um palito de dente engolido, o paciente e sua companheira optaram por mudar de médico e de hospital.
Simone Ferreira Campos alega ter sido submetida a uma cirurgia pelo médico há 11 anos para a remoção de um nódulo no intestino. Segundo ela, o médico informou que retirou 10 centímetros acima e 10 centímetros abaixo do nódulo, alegando que ela teria um câncer raro e difícil de tratar. No entanto, uma biópsia posterior revelou que a paciente não tinha câncer, mas sim endometriose.
Uma técnica de enfermagem que compartilhou o ambiente hospitalar com João Couto relatou ao G1 que a quantidade de cirurgias realizadas pelo médico chamava a atenção da equipe. Segundo ela, em uma única manhã, Couto teria executado 27 cirurgias, o que ela considera impossível devido à limitação de recursos e aparelhagem insuficiente para o volume de procedimentos.
Nota da defesa
Em comunicado, a defesa do médico afirmou que a decisão que decretou a prisão preventiva é considerada uma "antecipação de pena" com o intuito de constranger o profissional. Confira:
"Com surpresa a Defesa recebeu a notícia da decretação da prisão preventiva do médico João Couto Neto. A decisão não se reveste de qualquer fundamento fático ou jurídico e constitui clara antecipação de pena, com a finalidade de coagir e constranger o médico. Impetraremos ordem de habeas corpus o mais breve possível para fazer cessar a absurda e imotivada prisão."
Conforme informado pelo delegado Tarcísio Kaltbach ao portal, João Couto está programado para participar de uma audiência de custódia em São Paulo. Ele acrescenta que a conclusão de novas investigações contra Couto está condicionada aos laudos a serem enviados pelo Departamento Médico Legal de Porto Alegre.