A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) confirmou pelo menos três mortes ocasionadas por raiva humana no último mês, e ainda investiga um caso suspeito. As vítimas são todas crianças, entre elas uma pré-adolescente indígena, de 12 anos, que morreu na última segunda-feira, 2.
A subsecretária de Vigilância em Saúde do estado, Herica Vieira Santos, afirma que os casos são "pontuais" e que as três vítimas pertenciam à mesma comunidade rural. Além disso, ao menos duas delas entraram em contato com morcegos.
"Tivemos um caso pontual e as medidas de controle e bloqueio vacinal já estão sendo realizadas para conter o avanço. Nós não temos mais nenhuma notificação de casos suspeitos", diz a gestora. Segundo ela, a pasta também tem feito vacinação preventiva na comunidade.
Apesar do posicionamento da SES-MG, o médico sanitarista Sérgio Zanetta, professor de Saúde Pública e Epidemiologia do Centro Universitário São Camilo, avalia que a situação no estado é crítica.
"Uma perda de controle sobre a transmissão da raiva", resume.
Por que a raiva mata
A raiva é uma doença infecciosa causada por um vírus do gênero Lyssavirus, que pode ser transmitido por mamíferos domésticos e silvestres. De acordo com Zanetta, normalmente cão e gato são vetores do vírus, mas há também contaminação através de macacos e do gado infectado por morcegos.
A transmissão ocorre por meio da mordida ou arranhão de um animal contaminado. Os sintomas são parecidos em humanos e animais, com quadros de paralisia, confusão mental, agressividade ou mudança de comportamento e convulsões.
"Esse vírus tem uma predileção especial pelos terminais nervosos do organismo. Avança rapidamente até o cérebro onde provoca uma série de lesões", explica o médico sanitarista.
A raiva ainda não tem cura e, apesar da sua letalidade, é considerada uma doença negligenciada. Essa avaliação é do professor Paulo Eduardo Brandão, do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP.
No entanto, a vacina e o soro antirrábico são os protocolos mais adequados em caso de mordida ou arranhão por algum animal, principalmente se for silvestre.
"Eles são seguros e absolutamente eficientes em evitar a doença", reforça.
Qualquer pessoa que tenha sido atacada por um animal deve ter atenção. Se for doméstico, ele precisa ficar preso por dez dias, tempo que a doença leva para se manifestar no cão ou gato. Se o bicho de estimação não apresentar sintomas, é um indicativo de que a pessoa atacada não está doente.
Já no caso de animais silvestres, o protocolo a ser seguido é considerar que o animal tem raiva e aplicar vacina e soro antirrábico, de acordo com o quadro clínico do paciente. O médico sanitarista Sérgio Zanetta acrescenta que essas medidas devem ser adotadas antes que a doença se espalhe pelo corpo.
Casos de raiva em MG
O primeiro caso de raiva foi notificado em 11 de abril, na cidade de Bertópolis. De acordo com a SES-MG, o diagnóstico foi confirmado na data, por meio de um exame laboratorial. A vítima era um pré-adolescente de 12 anos, que vivia em uma aldeia indígena, e morreu no dia 4 de abril.
A menina, da mesma idade, também passou por exames laboratoriais para investigar a contaminação pela doença. A confirmação saiu no dia 19 de abril.
Dois dias antes, uma criança de cinco anos, que morava na mesma aldeia, morreu sem apresentar qualquer sintoma da doença. Segundo o jornal Estado de Minas, uma investigação indicou a causa do óbito. A SES-MG informou que os casos estavam relacionados à mordida de morcego.