Remédio para emagrecer em testes ajuda a perder mais de 15 kg, diz farmacêutica; entenda

Uso do medicamento é aprovado para pacientes diabéticos nos EUA, mas empresa quer liberar uso para obesidade. Dados ainda não foram revisados por outros cientistas

29 abr 2023 - 12h29
(atualizado às 15h54)
Farmacêutica vai pedir aprovação da 'Anvisa americana' para uso contra obesidade
Farmacêutica vai pedir aprovação da 'Anvisa americana' para uso contra obesidade
Foto: Eli Lilly/Divulgação / Estadão

A farmacêutica Eli Lilly and Co. afirmou nesta semana que seu remédio Tizerpatida, aprovado nos Estados Unidos para tratar diabete tipo 2 sob o nome comercial de Mounjaro, ajudou pessoas com sobrepeso ou obesidade a emagrecer até 15,6 quilos em um período de 72 semanas.

O estudo, diz a empresa, já está em estágio avançado, mas ainda não foi publicado em revistas científicas nem passou por revisão de pesquisadores independentes.

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Nos últimos anos, a corrida entre as farmacêuticas pelo desenvolvimento de remédios contra obesidade tem acelerado. Dois deles - Ozempic e Wegovy - tem recebido recomendação off label (fora das indicações da bula) por médicos e sido amplamente divulgados por influenciadores nas redes sociais.

Entidades médicas têm alertado para os riscos do uso indiscriminado desses produtos. Ponderam também sobre a necessidade de avaliar, em cada caso, as melhores estratégias para perda de peso, que incluem mudanças alimentares e exercícios físicos.

Como foram os testes?

  • A tirzepatida está na fase 3 de desenvolvimento para adultos com obesidade ou sobrepeso com comorbidade relacionada ao peso.
  • Os participantes tinham um peso corporal médio de 100,7 kg no início do estudo
  • Eli Lilly disse que os testes clínicos duraram 72 semanas e incluíram 938 participantes obesos ou com sobrepeso com diabete tipo 2.
  • Os voluntários que receberam a dose mais alta perderam até 15,6 quilos (15,7% do peso inicial), segundo a companhia.
  • Segundo a farmacêutica, os principais objetivos secundários também foram atingidos, como a redução de hemoglobina glicada (HbA1c) e de outros parâmetros cardiometabólicos
  • Os efeitos colaterais mais comuns relatados foram problemas gastrointestinais, de leve a moderado, como náuseas e diarreia.
  • Os resultados ainda não foram publicados em revistas científicas nem passaram por revisão de pesquisadores independentes

Segundo o laboratório, os novos dados reforçam estudos anteriores, em que o medicamento ajudou, conforme a empresa, participantes sem diabete a perderem até 22% do peso com injeções semanais. Para pacientes comuns tratados com a maior dose possível do remédio nos testes anteriores, diz a Eli Lilly, a perda superou 22 quilos.

"Não tínhamos visto esse grau de redução do peso", diz Nadia Ahmad, diretora médica de desenvolvimento clínico para a obesidade da Eli Lilly.

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  • A farmacêutica pretende pedir registro na Food and Drug Administration (FDA), equivalente à Anvisa nos Estados Unidos, para que o produto seja vendido para emagrecimento.
  • O uso do Mounjaro para diabete nos Estados foi aprovado em 2022 e também já obteve aval das autoridades japonesas. A expectativa é de resposta da agência americana sobre o uso para obesidade até o fim do ano.

Esse remédio é vendido no Brasil?

No Brasil, a liberação do medicamento para uso contra a diabete ainda está sob análise da Anvisa. Se aprovado para tratar perda de peso, o Tirzepatida pode se tornar a droga mais eficiente até hoje em um arsenal de medicamentos que estão mudando o tratamento da obesidade, que está relacionada a dezenas de doenças que levam à incapacidade ou até a morte.

Analistas da indústria preveem que o Tirzepatida poderia se tornar um dos remédios mais comercializados, com vendas anuais superando a cada dos US$ 50 bilhões. Espera-se que ele ultrapasse as vendas do Ozempic e do Wegovy, versões do medicamento também vendido como semaglutida e aprovado para a perda de peso ainda em 2021. Juntos, os dois lucraram mais de US$ 10 bilhões no ano passado .

Como funciona? É diferente dos outros?

Uma pesquisa independente para comparar os dois medicamentos já foi planejada.

  • Ozempic e Wegovy são duas versões diferentes do semaglutida. Esse medicamento imita um hormônio essencial do intestino, o GLP-1, que é ativado depois que a pessoa come e impulsiona a liberação de insulina, retardando a liberação de açúcar pelo fígado. Ele desacelera a digestão e reduz o apetite, fazendo com que a pessoa se sinta satisfeita por mais tempo. Testes com a semaglutida mostraram perda de cerca de 15% do peso em um período de 16 meses.
  • O Tirzepatida é o primeiro medicamento que usa a ação de dois hormônios, GLP-1 e GIP, na tentativa de atingir efeitos melhores. Também promete agir sobre os sinais químicos enviados pelo intestino ao cérebro, inibindo desejos e pensamentos de comida.

Quais são os efeitos colaterais?

  • Os medicamentos podem causar efeitos colaterais - alguns graves. As reações mais comuns são diarreia, náusea, vômito, constipação e dor de estômago. Há ainda relatos de pancreatite, inflamação do pâncreas e pedra na vesícula. A descrição do Mounjaro alerta que ele pode ainda causar tumor de tireoide, incluindo câncer.

Há também outros pontos negativos: versões do semaglutida estão no mercado há muitos anos, mas os efeitos a longo prazo de tomar remédios que se sobrepõem ao metabolismo humano ainda não são claros. Evidências preliminares sugerem que quando as pessoas param de tomar esses medicamentos, elas ganham o peso de volta.

Ainda, esses remédios são caros. Nos Estados, o Wegovy custa cerca de US$ 1,3 mil por mês (aproximadamente R$ 6,5 mil, na cotação atual do dólar). Já o Mounjaro usado para diabete tem o preço inicial de US$ 1 mil por mês (R$ 5 mil). / AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

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