Existe um mito que corre entre os boatos populares que o culpado pelo mau hálito é o estômago. Segundo a Associação Brasileira de Halitose (ABHA), apenas 1% das causas do mau hálito vem de problemas estomacais e 90% têm origem na boca. As exceções são o arroto ou refluxo associado à hérnia de hiato – quando a abertura que passa o esôfago se alarga e o estômago, que deveria ficar no abdômen, sobe para o tórax.
O pesquisador canadense, Joseph Tonzetich, estudou a halitose e comprovou que o hálito não vem do estômago para a boca. A presidente da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas dos Odores da Boca, Ana Kolbe, conta que o pesquisador fez uma pasta de alho, colocou no pé do paciente e, após alguns minutos, ele estava eliminando odor de alho pela boca. “Com isso ele provou que o odor vem para o hálito pelo sangue e escapa pelo pulmão sem ao menos passar pelo estômago”, diz.
Segundo Kolbe, o mau hálito foi associado por muito tempo ao estômago já que, ao comer, as pessoas percebiam que a halitose melhorava. Na verdade, isso ocorre por dois motivos. Primeiro, ao ingerir alimentos, o corpo equilibra a glicemia e elimina o hálito cetônico. Em segundo lugar, o sistema nervoso central envia uma mensagem para que as glândulas salivares aumentem a produção de saliva. “Isso faz com que a saburra já existente e que está eliminando o enxofre seja fluidificada”, explica a especialista. A saburra lingual é uma placa bacteriana esbranquiçada que se forma na parte de trás da língua.
Outro ponto é que, durante a mastigação, o atrito do bolo alimentar sobre a língua promove uma troca da saburra já existente, que está fermentada e eliminando enxofre. Assim, a saburra nova leva aproximadamente uma hora para fermentar e iniciar a liberação de enxofre novamente.
Kolbe explica que anatomicamente, o corpo humano é preparado para garantir que os alimentos fiquem no estômago. Um anel muscular chamado “esfíncter esofágico” separa o esôfago do estômago e é aberto quando engolimos para permitir a entrada dos alimentos. Durante o resto do tempo, o esfíncter mantém-se contraído para evitar que os alimentos e o ácido do estômago recuem para o esôfago.