A halitose não escolhe idade, havendo uma predisposição orgânica ela pode se manifestar como um sinal de alerta de que algo no organismo está em desordem. Nas crianças, é comum devido a problemas respiratórios, já que a oclusão (mordida) ainda não está formada. “Isso desencadeia processos como rinites, sinusites ou até a presença de carne esponjosa nas narinas, que, além de contribuir para uma maior formação de muco, leva a criança a ser respirador bucal”, diz Marcos Moura, diretor da Associação Brasileira de Halitose – Abha.
Quem respira pela boca tem mais descamação da mucosa bucal, que se deposita sobre a língua, formando a saburra lingual, principal responsável pela liberação dos gases de enxofre. “A criança passa a respirar pela boca e isto resulta no ressecamento pela falta da saliva que é um protetor natural dos dentes e gengivas”, diz Maria Aparecida Machado, professora de Odontopediatria da Faculdade de Odontologia de Bauru/USP.
Segundo a especialista, nestes casos é frequente a criança acordar com um mau hálito acentuado. Aliás, o mau hálito matinal foi o mais relatado entre as mães entrevistadas. “A Marina tinha mau hálito quando regurgitava, que, apesar de limpar com
a gaze, o cheiro de leite azedo não saía por completo. Depois que começou a escovar os dentes, ela só tem ‘bafinho matinal’ quando mama e dorme direto”, diz a jornalista Juliana.
“Eu já senti mau hálito algumas vezes quando ele ficou doente e pela manhã, mas escovo o dente e fica cheirosinho. O Pedro usa creme dental com flúor (1100ppm) desde que tinha 1 ano. A dentista dele fala que a cárie só é evitada com pasta com flúor acima de 1000ppm e eu uso uma quantidade pequena (grão de arroz)”, diz a engenheira Roberta Poletto.
A mudança de creme dental também resultou em mudanças positivas para as trigêmeas de 7 anos da jornalista Vanessa Mastro. “Até um tempo elas usavam pasta de criança com flúor e eu sentia mau hálito. Por conta própria troquei pela pasta de adulto. Elas já acostumaram e o cheirinho ficou ótimo”.
Quando a escovação não adianta
Fabiana Ossada é mãe de gêmeos de dois anos, Julie e Marcel. Ela escova os dentes dos pequenos com creme dental sem flúor. “Mas sempre a Julie tem mais mau hálito”, diz. É possível que a higiene bucal esteja em dia e ainda assim o mau hálito não passar. “Se a causa do mau hálito for de origem sistêmica, a halitose poderá ocorrer mesmo que a criança tenha uma excelente condição bucal”, diz Maria Aparecida.
A mãe acredita que o problema pode ser ou do organismo da filha ou da alimentação que é mais a base de frutas e leite, que fermentam mais. “O Marcel parou de tomar leite e não quer mais frutas e ele toma muita água, ao contrário da irmã”, conta.
Marcos Moura explica que, e casos como esse, pode haver uma alteração no padrão salivar tanto de quantidade quanto de qualidade da saliva. “Por isso a necessidade de mudança de hábitos, como ingerir mais água, limpar a língua após as refeições com limpadores de língua, controle da dieta e do estresse”, diz.
Olhar de perto
“Quando deixo elas escovarem os dentes sozinhas, sobretudo a Manu, a boquinha não fica cheirosa, mas aí eu entro na história e melhora”, conta Pilar Solano, mãe de Manuela. Marcos Moura explica que os pais devem vigiar de perto a correta higiene bucal dos pequenos, sempre os levando ao dentista de 6 em 6 meses. “É importante observar o sono, se a criança está roncando, como anda a respiração, se o lábio sempre está muito ressecado (o que pode ser indício de que ela é um respirador bucal). E procurar um dentista qualificado em halitose”, afirma.
“Se a causa for local, na boca, o odontediatra resolverá o problema com o tratamento odontológico. Já se a causa for sistêmica, ele irá encaminhar a criança para o médico especialista”, diz Maria Aparecida.