Adolescente é rebelde, não só quando quer sair e voltar tarde, como na hora de escovar os dentes. Uma pesquisa feita pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, em Portugal, revelou que 20% dos adolescentes não escovam os dentes diariamente e apenas um em cada quatro escova os dentes duas ou mais vezes ao dia.
Segundo a professora de odontopediatria da Faculdade de Odontologia da USP, Mariana Minatel Braga, os problemas bucais mais comuns na adolescência são cárie e gengivite, resultados desse descuido com a higiene. “Muitas vezes, era uma criança que não tinha essas doenças e passam a apresenta-las devido às mudanças típicas da adolescência e da gradativa passagem de responsabilidade do pai para o filho”, diz.
Por outro lado, sabe-se que uma criança que teve cárie na infância tem maior probabilidade de ter cárie também na adolescência. “Isso é compreensível, pois a os maus hábitos ligados à saúde bucal tendem a perpetuar de uma fase para a outra, podendo, inclusive, se agravar na adolescência”, afirma Mariana.
Segundo a especialista, em relação às doenças gengivais, a adolescência pode ser uma fase em que tais problemas sejam facilitados em função das alterações hormonais. Entretanto, sem biofilme dental (placa), eles não ocorrem. “Além dos hormônios (que são facilitadores), deve haver descuido com a higiene, caso contrário, não ocorreriam tais tipos de manifestações”.
Melhor abordagem
A melhor abordagem para que o jovem cuide da sua saúde bucal é fazer com que ele se sinta e, de fato se torne, parte integrante do processo saúde-doença no qual está inserido. Ele precisa saber que é o responsável pela saúde bucal e que suas ações (ou falta delas) podem ser responsáveis pelo desequilíbrio do processo saúde-doença. “Quando ele estiver consciente disso, certamente colaborará melhor e atuará melhor frente ao mesmo. Assim, ele deve se reconhecer como peça fundamental do processo e sem ele, qualquer sucesso será intangível”, diz Braga.
Além da saúde bucal
Mariana Braga é a coordenadora da clínica de odontohebiatria da FOUSP, especialidade dedicada aos adolescentes. “Atendemos adolescentes de 10 a 18 anos e tentamos realizar o atendimento odontológico integral para ver além dos problemas biológicos/odontológicos e transcender para questões psicológicas e éticas”, explica.
O dentista, ao longo do seu contato do adolescente, tem como maior desafio criar vínculo com seu paciente. “Uma vez estabelecido o vínculo, o adolescente passará a ter mais confiança no profissional e questões como drogas e bebidas podem vir ‘naturalmente’ à tona. Outras vezes, mesmo o adolescente não declarando verbalmente o uso de drogas e comportamentos de risco, mudanças comportamentais bruscas podem ser perceptíveis ao longo do atendimento/acompanhamento”, afirma Mariana.
Nesses casos, há a questão de como abordar o assunto com os pais. “Nos meus anos de experiência trabalhando com adolescentes, a melhor estratégia tem sido dividir essa reponsabilidade com o próprio adolescente, estimulando-o a conversar com os pais. Assim, o dentista não sai como o vilão ou dedo-duro e também não fica omisso a um problema identificado”.