Estima-se que mais de 20 milhões de pessoas sofram de refluxo gastroesofágico. A sensação é a de que a comida ‘não caiu bem’ – queimação no tórax, volta de parte do alimento que foi ingerido, boca ácida e por aí vai. Isso não quer dizer que esses sintomas são sinônimo da doença em 100% dos casos.
Vez ou outra, depois de uma refeição mais pesada, como feijoada, por exemplo, a maioria das pessoas sente dificuldades de digestão. É preciso investigar quando os episódios são corriqueiros e acontecem mais de uma vez na semana.
O gastroenterologista, Antonio Luiz de Vasconcellos Macedo, cirurgião do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que a doença do refluxo gastroesofágico (DRG) é um desequilíbrio entre os fatores protetores, como as barreiras antirrefluxo, e os fatores agressores, como a acidez e o volume gástricos.
Simplificando, o esfíncter é uma válvula que tem o papel de fechar a abertura do esôfago para o estômago, que deveria abrir apenas quando a pessoa engole, para permitir a entrada dos alimentos no estômago. Durante o resto do tempo, o esfíncter mantém-se contraído. É o que não acontece nos casos de DRG, em que o músculo do esfíncter fica relaxado e deixa os sucos gástricos e restos de alimentos voltarem para o esôfago. Depois de algum tempo sendo agredido pelos sucos digestivos ácidos, a parede do esôfago fica em constante inflamação, o que pode até aumentar as chances de câncer.
“Em nosso meio pode-se dizer que os maus hábitos alimentares e a obesidade são as principais causas de refluxo”, diz Macedo. Segundo ele, muitas vezes ocorrem somente sintomas atípicos que são a tosse crônica, rouquidão e asma, entre outros. “Neste caso, se o medico não suspeitar do refluxo, o diagnóstico não é realizado”, afirma.
Cuidado com os dentes
Alguns pacientes podem apresentar erosões dentárias e feridas na mucosa oral causadas pela regurgitação ou simplesmente pelo vapor ácido que atinge a cavidade oral quando o refluxo acontece. Os dentes passam por um processo de descalcificação e ficam fragilizados. “Alguns estudos mostram que alguns pacientes com diagnóstico de refluxo associado a distúrbios de salivação diminuída estão mais propensos a lesões orais”, diz Macedo.
Segundo o especialista, o trabalho em conjunto entre o médico gastroenterologista e o dentista pode contribuir para o diagnóstico precoce deste tipo de lesão oral. “Geralmente, o médico não faz associação entre refluxo e erosão dentária e como se trata de um processo lento e pouco habitual, o diagnóstico pode acabar sendo feito quando já há comprometimento importante da saúde bucal”, afirma.
Mude hábitos
- Evite tipos de comidas que estimulam a produção ácida pelo estômago, como pimenta, café e bebidas cítricas
- Coma devagar e mastigue bem
- Fracione a dieta a cada três horas
- Evite beber durante as refeições
- Evite álcool, ele relaxa a esfíncter e deixa o estômago ácido
- Nos pacientes com sintomas noturnos sugere-se não comer até três horas antes de deitar-se e elevar a cabeceira da cama.
Tratamento
Mudanças de hábito alimentar e medicamentos para diminuição da acidez gástrica são os tratamentos mais indicados para a maioria das pessoas. “Esse tratamento apresenta excelentes resultados na maior parte dos pacientes, mas em casos que apresentam esofagite persistente ou hérnia de hiato volumosa o tratamento cirúrgico está indicado”, diz Macedo.