É por meio da boca que o bebê começa a ter os primeiros contatos com o mundo ao seu redor. Essa percepção se inicia na amamentação, quando, pela sucção do leite materno no peito, ele passa a conhecer melhor sua mãe e associar à ela confiança e conforto. Depois, vem a fase de autoconhecimento (quando ele passa a colocar as mãos na boca), e por fim, a fase em que, se não se tomar cuidado, ele coloca qualquer coisa na boca.
“Desde a fase mais tenra até um ano aproximadamente a criança se encontra na fase oral. E eles colocam as mãos e posteriormente, os objetos na boca, não apenas pelo incômodo gerado pela erupção dos dentes, mas por ser próprio do desenvolvimento infantil conhecer e experimentar o mundo dessa forma”, diz Renata Sampaio, cirurgiã-dentista e odontopediatra.
Mas, segundo a especialista, essa forma de desenvolvimento não deve ser inibida. “Isso só será prejudicial ao bebê se ele estiver em um ambiente contaminado sem supervisão, como jardins, praia, tanques de areia, chão não higienizado ou calçadas. Mas tudo isso é questão de bom senso, é preciso ter cuidados básicos com a higiene do local onde a criança está inserida, mas sem exageros”.
A teoria da Hipótese da Higiene é um estudo que sugere que o excesso de limpeza, eliminando todas as bactérias do ambiente, poderia enfraquecer o sistema imunológico e aumentar o número de casos de alergia nas pessoas. “O aumento nos casos de alergias e doenças inflamatórias parece ser causado, em parte, por uma perda de contato com micróbios com os quais nosso sistema imune evoluiu desde a Idade da Pedra”, diz Renata.
Cuidado com o que você coloca na boca do bebê
Dividir talheres, limpar a chupeta com a boca, experimentar a mamadeira, assoprar a comida ou até beijá-los nos lábios pode ser muito mais prejudicial à saúde deles do que se imagina. Ocorre que esses hábitos são um meio de levar bactérias à boca da criança. “Nós temos a cavidade bucal colonizada por até 300 tipos diferentes de bactérias e o bebê, além de nascer com a boca estéril (sem micro-organismos), não tem defesas para as bactérias que carregamos na nossa saliva”, alerta a especialista.
Segundo Renata, até alguns casos de cárie em crianças pequenas podem ser causados pela mãe. Se ela já teve ou tem cárie, essas bactérias podem ser transmitidas para o bebê por meio da saliva, assim que os dentinhos começam a nascer. “Se o bebê tiver pouco contato com essas bactérias, tiver uma boa higiene e consumir pouco açúcar, esta criança poderá tornar-se um indivíduo de baixo risco para cárie dental, não apenas na infância, mas durante toda a vida”, diz Renata.
Enquanto o bebê ainda não tem dente, ele não corre o risco de ser colonizado pelas bactérias que causam a cárie, pois elas não se fixam em superfícies moles (bochechas, língua e gengiva), ou seja, elas só invadem a cavidade bucal quando os dentinhos começam a nascer, pois preferem os tecidos que não descamam como os do dente.