O Brasil é o terceiro país no ranking mundial de cirurgias plásticas por habitante. São 4,6 procedimentos por mil habitantes. Segundo uma pesquisa feita pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps),em parceria com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), entre 2008 e 2011, o aumento da procura pelas operações chegou a 43,9%.
Apesar de populares, as cirurgias não podem ser feitas indiscriminadamente. Os procedimentos feitos nos lábios, por exemplo, podem prejudicar a saúde bucal. Alguns produtos podem formar granulomas – reação de corpo estranho – quando aplicados. “Também podem ocorrer acidentes na aplicação, caso o profissional desconheça os detalhes da anatomia, o que ocorre muito com a banalização dos procedimentos ancilares, que são procedimentos de apoio, como o preenchimento labial”, diz o cirurgião plástico Marcio Castan, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Segundo o cirurgião-plástico Victor Hugo Cardoso de Sá, professor da Faculdade de Medicina do ABC, a principal contraindicação é para pacientes que queiram fazer o preenchimento com ácido hialurônico já tendo passado pelo procedimento com PoliMetilMetAcrilato (PMMA), pois pode causar uma reação inflamatória grave. O ácido hialurônico também não deve ser usado em gestantes, mulheres em aleitamento, portadores de doenças autoimunes e de transtornos do comportamento. “Os pacientes em uso de anticoagulantes, ou com doenças sanguíneas que causem alterações na coagulação, devem evitar o procedimento”, alerta.
Para quem está com alguma doença bucal, é preciso fazer o tratamento com o dentista antes de enfrentar a cirurgia plástica. “Processos inflamatórios e/ou infecciosos na cavidade oral podem contraindicar a realização do procedimento”, diz Cardoso de Sá. No entanto, o profissional tranquiliza quem está decidido a mexer nos lábios. “Os procedimentos bem indicados, realizados por profissionais habilitados e com técnica e materiais apropriados, não prejudicam a saúde bucal, entretanto, todos os procedimentos cirúrgicos envolvem riscos”, destaca.
Um meio de se assegurar é buscar informações sobre a formação do profissional pelos sites do CRM - www.cremesp.org.br - e sites da sociedade médica específica, e sobre o material utilizado.
Independente do procedimento, os cuidados com a saúde bucal são muito importantes e nunca devem ser abandonados. Nos procedimentos ambulatoriais (como o preenchimento), o paciente pode seguir sua rotina de higiene normalmente algumas horas após o procedimento. Em cirurgias maiores, é importante seguir a orientação do médico, que pode variar, desde o uso de enxaguantes bucais, até os cuidados normais.
Cirurgias de reparação
Ultrapassando a barreira da estética, existem cirurgias plásticas necessárias para proporcionar à pessoa uma saúde bucal adequada. Uma delas é a cirurgia ortognática, que restaura os padrões faciais com a correção de prognatismo - queixo para frente - ou retrognatismo - queixo para trás. Essas condições podem acarretar em problemas de mordida.
Ainda há a cirurgia de lábio leporino e fenda palatina. A formação incompleta do lábio superior (fissura) ou do teto da boca (palato) pode ocorrer individualmente ou em conjunto. “A reparação do lábio leporino e da fenda palatina é um tipo de cirurgia plástica para corrigir o desenvolvimento anormal, visando restaurar a função e deixar a aparência mais próxima do normal”, explica Victor Hugo.
Excessos
No consultório de Márcio Castan, geralmente, as pacientes querem tratar as ruguinhas peri orais (chamadas popularmente de código de barras) e aumentar o volume dos lábios. Segundo o cirurgião plástico Nelson Letízio, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, o Brasil passa por um momento cultural de mídia da busca por lábios, mamas, nádegas, pernas exuberantes. “Devemos ter sempre cuidado com alterações de nossa anatomia, muitas vezes não é possível uma reversão para os padrões anteriores, o que poderá ocasionar um problema definitivo”, diz.
Para Cardoso de Sá, é preciso lembrar que o lábio deve estar em harmonia com o restante da face e que os exageros devem ser evitados. “Cabe ao médico avaliar, entender o desejo do paciente e definir a possibilidade/necessidade de realização”, afirma.