Seja uma dieta da moda ou um remédio milagroso, se a promessa é a perda de peso rápida e efetiva, o produto certamente se tornará um sucesso. Foi o que aconteceu com a semaglutida, medicamento usado no tratamento da obesidade e comercializado como Ozempic. No entanto, seu uso indiscriminado pode trazer diversos riscos, desde problemas físicos a sociais.
Em nota conjunta, a Associação Brasileira para o estudo da Obesidade (ABESO) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) destinaram à população e à imprensa orientações sobre o uso do medicamento.
Antes disso, vale destacar que a obesidade é uma doença crônica, complexa, multicausal e de difícil tratamento, como aponta a nota. "A indicação de um tratamento medicamentoso deve ser feita por médico capacitado, levando em conta indicações, contraindicações, tolerabilidade e expectativas do paciente, não se baseando apenas no IMC, mas sim em uma ampla gama de aspectos que devem ser tratados em consulta. Nenhuma medicação deve ser usada sem prescrição e acompanhamento médico", diz trecho do texto.
Esse tratamento é mesmo necessário?
Para quem está desejando perder peso, é importante se perguntar antes de qualquer atitude se o tratamento com semaglutida é mesmo necessário. Segundo a ABESO e a SBEM, muitas notícias confudem o que é o tratamento sério da obesidade com o "desejo social de emagrecer".
"O uso de curto prazo de medicações para fins estéticos (e muitas vezes sem prescrição médica) deve ser tratado de forma muito distinta do que o tratamento sério da obesidade, que tem como objetivo a melhora de saúde e qualidade de vida", destaca outro trecho da nota.
Segundo o comunicado, também é importante se afastar da ideia de que a medicação é uma "via fácil". Isso porque se destina a casos específicos, em que o tratamento com remédios se faz mesmo necessário.
Semaglutida
A semaglutida é uma medicação aprovada para obesidade em diversos países no mundo na dose de 2,4 mg por semana. No Brasil, o medicamento recebeu aprovação no dia 2 de janeiro de 2023. No entanto, a dose de 2,4 mg ainda não está disponível para venda. Até agora, apenas a formulação aprovada para diabetes tipo 2, com dose máxima de 1,0 mg está disponível no país.
Embora o uso da dose de 1,0 mg seria "off-label", o princípio ativo está atualmente aprovado para obesidade. Aliás, a sua alta eficiência no combate à obesidade e seu bom perfil de segurança explicam a alta procura e interesse pela medicação. Mas, infelizmente, o alto custo da semaglutida impede seu uso pela maior parcela de nossa população, que não tem acesso a medicamentos para obesidade pelo Sistema Único de Saúde, destaca nota da SBEM e da Abeso.
Ainda que o paciente tenha acesso à semaglutida, sua comercialização necessita de prescrição médica, seguindo os protocolos padrões da ANVISA. "Medicamentos para obesidade aprovados pela ANVISA tem sua eficácia e segurança demonstradas e não devem ser condenados, mas sim selecionados individualmente dentro de uma consulta médica e serem vendidos unicamente sob prescrição médica. É função do médico prescritor acompanhar o paciente e reavaliar periodicamente sua eficácia, tolerabilidade e segurança", afirma o comunicado.
A nota destaca ainda que o mau uso, uso estético ou inadequado de medicações antiobesidade, além de expor pessoas a risco sem indicação de uso, aumenta o estigma do tratamento de quem já sofre com diversos preconceitos em nossa sociedade. "Matérias que pioram esse estigma podem levar pessoas a abandonarem tratamentos bem-sucedidos ou evitar buscar ajuda médica", diz o texto.
Fonte: Nota conjunta da Associação Brasileira para o estudo da Obesidade (ABESO) e da
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).