O intrigante e desafiador cenário de sobrevivência diante dos desafios extremos que os passageiros do avião fretado da Força Aérea Uruguaia enfrentaram em 1972 surpreendeu quem assistiu ao filme "A Sociedade da Neve", que estreou dia 4 de janeiro na Netflix.
Atualmente, o filme baseado em fatos reais é o mais assistido da plataforma. "A Sociedade da Neve" mostra os sobreviventes da queda do avião montando estratégias extremas, como se alimentar da carne dos colegas que morreram e beber neve para se manterem vivos durante 72 dias na gelada Cordilheira dos Andes.
O médico endocrinologista e nutrólogo Rodrigo Neves explica que, fisicamente, o consumo de carne humana pode acarretar riscos nutricionais, dado que a carne humana pode não fornecer todos os nutrientes necessários para a sobrevivência a longo prazo.
Em condições adversas como a mostrada no filme, o risco aumenta devido à falta de higiene. “Além disso, o consumo pode causar infecções e doenças, pois o corpo humano não está adaptado para digerir e processar a carne humana”, ressalta o médico.
Do ponto de vista psicológico, a atitude tomada pelos sobreviventes pode causar traumas psicológicos, culpas e distúrbios como PTSD (Transtorno de Estresse Pós-Traumático), o que também foi destacado no filme.
Quanto à ingestão de neve para matar a sede também há ressalvas, explica o médico. Embora possa fornecer hidratação, a neve também pode conter impurezas e patógenos, organismos que são capazes de causar doenças. A energia necessária para derretê-la dentro do corpo também pode levar à exaustão e hipotermia (quando o organismo perde mais calor do que o que consegue produzir).
No filme, foi mostrado que os sobreviventes tentavam derreter a neve antes de bebê-la, provavelmente cientes desses riscos, já que alguns deles eram estudantes de medicina.
“Estas considerações são importantes não apenas do ponto de vista da saúde física e mental, mas também na compreensão das extremas condições de sobrevivência que esses indivíduos enfrentam. É importante lembrar que em situações extremas, a psicologia humana e a fisiologia podem reagir de maneiras inesperadas”, conclui o especialista.