'Tenho dores de cabeça tão fortes que me fazem bater contra a parede para acabar com a agonia'

Daren Frankish sofre com dores de cabeça tão intensas que o levam ao desespero; o primeiro episódio ocorreu quando ele tinha 37 anos.

31 jan 2024 - 10h01
Daren anda sempre com um cartão onde explica a sua condição porque ele não consegue falar durante um ataque
Daren anda sempre com um cartão onde explica a sua condição porque ele não consegue falar durante um ataque
Foto: BBC News Brasil

Há 17 anos, Daren Frankish sofre dores de cabeça tão agoniantes que o fazem gritar e bater a cabeça nas paredes.

O homem de 53 anos de Edimburgo, na Escócia, diz que essa dor intensa faz com que sinta como se estivesse sendo atingido com força total por um taco de beisebol enquanto é esfaqueado no olho com uma faca.

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Oficialmente conhecida como cefaleia em salvas, acredita-se que a condição que ele tem seja uma das mais dolorosas a afetar humanos.

"Durante o isolamento na pandemia, tive que ir até o hospital e me lembro de pensar que, se um ônibus passasse, eu pularia na frente dele. Então eu entendo por que as chamam de dores de cabeça suicidas", disse o engenheiro horticultor à BBC News Escócia.

"Vivo com medo do próximo ataque, isso me assusta muito. É uma tortura psicológica saber que isso pode acontecer a qualquer momento. Tenho muito medo disso."

Os ataques de Daren começam com o olho esquerdo lacrimejando e abaixando
Foto: BBC News Brasil

Até 12 horas

Os ataques que Daren sofre geralmente duram entre 15 minutos e três horas e podem ocorrer sete ou oito vezes por dia. Mas ele conta que já sofreu ataques de 12 horas.

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O engenheiro diz que tudo começa com dores agudas no lado esquerdo da cabeça, acima do olho.

"Meu olho esquerdo começa a ficar vermelho, caído e lacrimejando abundantemente. Meu nariz fica entupido e começo a sentir uma dor intensa na cabeça" diz ele.

"Só posso descrever o ataque como horrível. É como se alguém tivesse acertado você com um taco de beisebol. Também sinto como se uma faca tivesse passado pelo meu olho esquerdo e depois fosse empurrada para baixo."

"Fico muito inquieto e às vezes doente fisicamente, gritando no travesseiro, batendo a cabeça na parede ou contra qualquer coisa dura. Geralmente, ando pela sala em completa escuridão porque não suporto nenhuma luz."

Às vezes, Daren sai de casa com um pano no olho esquerdo porque lacrimeja muito.

Ele anda por lugares vazios e carrega um cartão com uma mensagem escrita caso alguém tente falar com ele.

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"Não consigo me comunicar com ninguém quando estou tendo um ataque", relata.

Daren explica que seus ataques têm se tornado mais frequentes e duradouros.

Em maio do ano passado, ele passou duas noites no pronto-socorro de um hospital em Edimburgo após dois ataques que duraram 12 horas cada.

"Esses ataques foram insuportáveis e os piores que já experimentei", disse ele.

O que são cefaleias em salvas

As cefaleias em salvas são raras, afetando aproximadamente uma em cada 1.000 pessoas.

Mas esse é um nome impróprio para uma condição que é "muito mais do que uma dor de cabeça", diz Katie Martin, gerente do Centro de Pesquisas Cerebrais do Reino Unido.

"Como descreve Daren, a dor extrema de um ataque em série é insuportável, fazendo com que as pessoas gritem de dor e batam a cabeça nas paredes para tentar acabar com a agonia", explica Martin.

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As pessoas afetadas geralmente têm mais de 30 anos e as dores são mais comuns em homens do que em mulheres.

A frequência dos ataques pode variar de um a cada poucos dias até vários ataques por dia. Cada episódio pode durar de 15 minutos a várias horas.

Essa condição causa várias internações hospitalares e, portanto, afeta o estilo de vida das pessoas.

A cefaleia em salvas está associada a um risco três vezes maior de depressão.

Não há cura para esse problema de saúde.

Tratamento

Daren sentiu sua primeira dor de cabeça intensa quando tinha 37 anos
Foto: BBC News Brasil

Daren teve seu primeiro episódio em 2007, quando tinha 37 anos.

"Eu estava de férias com minha família em Praga quando tive uma dor de cabeça tão intensa que pensei que algo muito sério estava acontecendo comigo, como um tumor cerebral", diz o engenheiro, pai de dois filhos.

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Desde então, ele recebeu medicamentos prescritos, incluindo esteroides, lítio, remédios para o coração e pílulas para epilepsia.

"Não tenho epilepsia, mas eles [os médicos] estão tentando de tudo, embora nada funcione."

"Também tenho uma injeção que posso usar assim que surge um ataque e que às vezes funciona."

Um anestésico local neutraliza os nervos a curto prazo; já o esteroide reduz a inflamação e pode diminuir os ataques por até um ano.

Daren tem tubos de oxigênio em casa, que ele usa para tentar estabilizar um ataque. Ele buscou diferentes dietas e parou de fumar e de beber álcool, mas ainda sente dores de cabeça incapacitantes.

"O próximo passo é injetar um bloqueador de nervos na minha cabeça", diz ele.

"Estou disposto a correr os riscos ao fazer isso porque essas dores de cabeça afetam seriamente a minha vida", diz ele. "Elas destroem tudo e não posso fazer nada quando os ataques acontecem."

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"Isso prejudicou meu casamento e foi um dos motivos para o meu divórcio. Me sinto muito mal porque meus filhos cresceram ouvindo meus gritos."

Há evidências de que as cefaleias em salvas podem ser causadas por meningite, um doença que Darem teve aos dois anos de idade e novamente quando tinha 12.

Por enquanto, ele tem que conviver com o problema.

"As dores acontecem a qualquer momento, não tenho controle. E quando aparecem, te derrubam."

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