Transplante de fezes: o que é o procedimento feito por pessoas com doenças inflamatórias intestinais

Infectologista explica como funciona o procedimento clinicamente chamado de transplante de microbiota fecal

24 mai 2024 - 13h38
(atualizado às 13h39)
Resumo
O transplante de microbiota fecal é um procedimento indicado para o tratamento da diarréia secundária a uso de antibióticos e doenças inflamatórias intestinais. É realizado através de fezes obtidas em bancos de microbiotas que passam por diversos processos de análise, para garantir a qualidade das bactérias e diminuir os riscos.
História de Daniell está no documentário ‘Os segredos da alimentação’, da Netflix
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Foto: Reprodução/Instagram/@unapologetically.humann

A escritora Daniell Koepke virou assunto nos últimos dias após revelar em um documentário da Netflix que desenvolveu depressão após passar por um procedimento de “transplante de fezes” do seu namorado, que tem a doença. Com síndrome do intestino irritável, o tratamento de Daniell foi exibido em "Os Segredos da Alimentação".

Em entrevista ao Terra Você, o infectologista do Hospital Universitário Cajuru e responsável pela pesquisa para desenvolvimento de produto à base de microbiota fecal, Felipe Tuon, explicou o procedimento. 

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O especialista conta que o nome clínico dado para o procedimento é transplante de microbiota fecal e ele deve ser realizado através de fezes obtidas em bancos de microbiotas, que realizam a coleta de doadores humanos. 

Esses doadores são cuidadosamente avaliados por histórico de saúde, exame físico e dezenas de exames laboratoriais para garantir que não tenham nenhum tipo de doença. Quando indicado, o transplante é realizado através de colonoscopia, onde é colocado um aparelho endoscópico que aplica a microbiota na porção mais proximal do intestino grosso.

“No caso do banco de microbiota da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), por exemplo, é realizado um teste de sequenciamento molecular de última geração mapeando todas as bactérias do doador, sendo possível determinar a qualidade das bactérias”, diz o médico.

Através dessa análise, é possível prever se a microbiota pode interferir em qualquer órgão do paciente, evitando alterações intestinais, neurológicas, endócrinas, ganho ou perda de peso, entre outras, como aconteceu com a personagem do documentário da Netflix.

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No banco de microbiota fecal, as fezes passam por diversos processos e o resultado final são bactérias que ficam armazenadas para a realização do transplante.

Para quem é indicado?

Mãos da mulher segurando a forma do intestino
Foto: SewcreamStudio/iStock

Tuon diz que, atualmente, o transplante é indicado apenas para o tratamento da diarréia secundária a uso de antibióticos (infecção por Clostridioides difficile) e em alguns casos de doenças inflamatórias intestinais.

“Embora no nosso banco de microbiota tenhamos fezes que possam ter benefícios para outras doenças (demência, autismo, parkinsonismo, obesidade, diabete, entre outras), o transplante nesses casos ainda é um pouco controverso”, explica o infectologista.

Quem pode receber e doar?

O receptor precisa ter uma indicação formal para o procedimento. A partir da indicação médica, o transplante é realizado, ambulatorialmente ou mediante internamento, através da colonoscopia. 

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Já para o doador é necessário passar por uma rigorosa avaliação de um especialista em banco de microbiota fecal. Transplantes realizados fora desse âmbito, sem todos os exames indicados, sem o mapeamento genético bacteriano e sem um especialista em interpretação de testes moleculares microbiológicos, são estritamente não recomendados. 

O médico conta que além disso, o banco de microbiota fecal prefere trabalhar com doadores fixos, pois o acompanhamento dos doadores ao longo do tempo é importante para a equipe do banco.

Quais são os principais riscos? 

O especialista garante que o transplante é seguro, mas alerta que qualquer procedimento médico pode ter eventos adversos. No caso do transplante de microbiota fecal, é mais comum o relato de desconforto abdominal e alteração do trânsito intestinal.

Outros sintomas são raros e o risco é baixo, desde que utilizado o material de banco de microbiota fecal, que segue rigorosos procedimentos laboratoriais, conservação, viabilidade bacteriana e rastreabilidade de processos. Assim que terminado o procedimento, não há nenhuma restrição.

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Fonte: Redação Terra Você
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