Os casos de depressão tem aumentado entre a população brasileira. De acordo com a Pesquisa Vigitel 2021, em média, 11,3% dos brasileiros relataram ter recebido um diagnóstico médico da doença. A frequência foi maior entre as mulheres (14,7%) em comparação com os homens (7,3%). Em 2019, esse total não passava de 10,8% dos brasileiros com mais de 18 anos, segundo dados do IBGE.
Por muito tempo a depressão esteve associada aos baixos índices de serotonina, conhecida como hormônio da felicidade. Aliás, a serotonina é responsável por fazer a comunicação entre as células nervosas. Dessa maneira, ela atua para regular o sono, o apetite, a temperatura do corpo, os movimentos e, principalmente, coordenar as funções intelectuais fundamentais. No entanto, um estudo feito pela University College London questionou esta associação, que já não era mais tão bem aceita por grande parte dos médicos de todo o mundo.
Serotonina e depressão
Segundo o Dr. Pedro Andrade, pós-graduado em nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), o estudo reforça a ideia de que o estilo de vida e o ambiente em que o ser humano está inserido está mais relacionado ao quadro depressivo do que a um desequilíbrio químico.
"Basicamente, a medicina está dizendo que não adianta tomar antidepressivo e permanecer com hábitos ou/e em ambientes que não são saudáveis. O nosso estilo de vida tem uma grande influência em nossa saúde física e mental. Além disso, o estudo também reforça uma outra causa da doença, que é muito importante, mas não se fala muito. Trata-se das inflamações causadas pelos maus hábitos alimentares e como elas afetam a saúde mental", afirma.
Estilo de vida aliado ao tratamento
O especialista destaca que, uma alimentação desequilibrada, falta de atividade física e alto índice de estresse, provocam um aumento dos níveis de inflamação no corpo. Isso prejudica a qualidade de vida e resulta em quadros depressivos e de ansiedade. "Pessoas com transtornos mentais, como a depressão, muitas vezes também se encontram em um estado de inflamação sistêmica crônica. Essa é uma resposta a fatores externos inflamatórios, como uma dieta a base de açúcar, gorduras e álcool", explica.
"Geralmente, não associamos naturalmente a depressão ao estilo de vida, mas existem alguns cuidados que podem evitar e reduzir as inflamações. Consequentemente, eles podem auxiliar na prevenção ou tratamento da depressão. Por exemplo, praticar atividade física, ter uma alimentação rica em triptofano com alimentos como abacate, nozes e castanhas, controlar o estresse com atividades relaxantes e tomar sol diariamente", conta.
Por ser uma doença multifatorial, o especialista afirma que não há um melhor tratamento, no geral, mas em todos os casos a mudança de estilo de vida e a psicoterapia são fortes aliados. "Atribuir a depressão apenas a baixa de serotonina e prescrever um tratamento considerando apenas este fator é um erro, pois simplifica um problema que pode ser causado por diversos eventos", destaca o médico.
"Por isso, é muito importante fazer uma mudança de hábitos e ter uma vida saudável, o que não significa dispensar a medicação ou não fazer um acompanhamento médico. Ao contrário, não podemos eliminar nenhuma ferramenta no combate a depressão e sim aliar o melhor destes dois universos", finaliza.