São mais de 131 mil internações por traumatismo craniano (ou traumatismo cranioencefálico - TCE) a cada ano no Brasil. Desse total, os jovens entre 20 e 29 anos representam 21% dos casos. Esses números preocupantes foram divulgados em um artigo publicado na Revista Brasileira de Terapia Intensiva, com base em dados do DataSUS.
A alta incidência de TCE na população representa uma carga significativa para a saúde pública. Além disso, ela é apontada pelo Ministério da Saúde como a principal causa de morte prematura e incapacidade no Brasil. Diante de lesões cerebrais graves, os neurocirurgiões unem esforços com uma equipe multiprofissional para salvar vidas e reduzir as sequelas dos pacientes.
Acidentes de trânsito, quedas e agressões estão entre as ocorrências mais comuns que chegam aos centros especializados em trauma. Além de escoriações e ferimentos leves, essas situações podem resultar em lesões mais sérias, como traumatismo craniano ou cranioencefálico, que afetam o cérebro e podem causar sangramentos, formação de coágulos e edemas, por exemplo.
"No atendimento de uma emergência é crucial estabelecer um tratamento eficaz o mais rápido possível para minimizar o sofrimento cerebral. Muitas vezes, a luta inicial é pela sobrevivência e depois avaliamos estratégias para a recuperação do paciente com o mínimo de sequelas possíveis", explica o neurocirurgião Dr. Leonardo Almeida Frizon.
Cirurgia e tratamento
A abordagem cirúrgica pode ser necessária no protocolo de atendimento para traumatismo craniano. Segundo Leonardo, a neurocirurgia tem o propósito de estabilizar o paciente, facilitar a recuperação e, além disso, promover a reabilitação neurológica.
"Geralmente, a cirurgia é indicada em situações de risco imediato à vida ou quando há danos significativos no cérebro que demandam intervenção direta. Isso visa reduzir o impacto do trauma e aumentar as chances de uma recuperação bem-sucedida, proporcionando uma melhor qualidade de vida ao paciente", salienta o neurocirurgião do Hospital Universitário Cajuru, que atende exclusivamente pelo SUS.
A neurocirurgia sempre esteve à frente na incorporação de novas tecnologias, devido à delicadeza com que o cérebro deve ser tratado. Conforme um estudo publicado na revista britânica The Lancet, o traumatismo craniano está sendo cada vez mais reconhecido como uma condição crônica com consequências de longo prazo. Isso inclui, aliás, um maior risco de neurodegeneração tardia.
O estudo também ressalta avanços significativos no tratamento do traumatismo craniano. É o caso, por exemplo, da inclusão de variáveis clínicas, avanços na neuroimagem, monitoramento multimodal, avaliação de biomarcadores e integração de dados personalizados para um gerenciamento individualizado.
Recuperação do paciente
A reabilitação de uma lesão cerebral ocorre em fases e ao longo de períodos extensos, com o apoio de uma equipe multiprofissional. Trata-se de um processo colaborativo focado em metas, em que o paciente, seus familiares e os profissionais de saúde trabalham juntos para abordar os problemas mais urgentes que necessitam de intervenção.
"Isso depende muito do grau de comprometimento e do tipo de cirurgia. Quando o objetivo é tratar a dor, o próprio procedimento cirúrgico contribui para a reabilitação. Porém, em casos de lesões graves no sistema nervoso, a resposta à reabilitação é mais lenta e pode levar de seis meses a dois anos. E, mesmo após esse tempo, ainda há a possibilidade de intervenções que melhoram a qualidade de vida do paciente", contextualiza o neurocirurgião.
A vida continua após uma lesão cerebral, embora com algumas mudanças, mas também com novos significados e conquistas. O impacto do traumatismo craniano na rotina diária de um indivíduo depende de diversos fatores. É o caso, por exemplo, da localização da lesão, sua gravidade, a idade e as características individuais de cada paciente. No entanto, essas emergências têm um aspecto particular: a maioria delas é evitável.
"É essencial agir com rapidez no atendimento e avançar nas intervenções para a reabilitação de pacientes, sem esquecer a importância da conscientização pela prevenção", finaliza Leonardo Almeida Frizon.