A vacinação contra a dengue começou nesta quarta-feira (3), na cidade de Dourados. A iniciativa acontece por meio de uma parceria entre a Secretaria Municipal de Saúde e o laboratório japonês, Takeda, responsável pela produção do imunizante, chamado Qdenga.
Colhemos dados com o Ministério da Saúde, com a prefeitura de Dourados e conversamos com a Dra. Carolina de Oliveira Abrão, infectologista, a fim de compreendermos melhor como funciona a vacina e o processo de aplicação no país.
Vacinação em Dourados
Segundo a prefeitura de Dourados, já foram entregues 90 mil doses e o município aguarda a chegada de mais 70 mil. O ciclo completo de imunização da Qdenga exige a aplicação de duas doses. Segundo o laboratório Takeda, as chances de hospitalização são reduzidas em 90% e a proteção vigora por, pelo menos, 5 anos.
Devem ser vacinados cerca de 150 mil douradenses entre 4 e 59 anos, nas próximas semanas. Ontem, dia 3, foi o primeiro dia da aplicação da vacina, os trabalhos começaram por volta das 7h da manhã.
A primeira pessoa vacinada foi Francisleine Costa, mãe de um jovem de 15 anos vítima da dengue no ano passado. Ela declarou em entrevista para a prefeitura de Dourados:
Meu filho foi enterrado no dia do aniversário por essa fatalidade. Agora a vacina veio e eu estou fazendo campanha para que todos se vacinem para que não passem pela mesma dor que eu. Estou contente por Dourados ser a primeira cidade do Brasil a prestar esse serviço ao público
Imunização nacional contra a dengue
A vacina contra a dengue foi incorporada ao Plano Nacional de Imunização (PNI) em dezembro de 2023 e as aplicações devem iniciar em fevereiro. De acordo com o Ministério da Saúde, o laboratório Takeda afirmou ainda não ter capacidade para produzir a vacina em uma escala que atenda as necessidades continentais do Brasil, por isso, o projeto inicial focará em regiões e públicos prioritários.
É importante lembrar que, em 2023, o Brasil bateu recorde de mortes relacionadas a Dengue, foram registradas 1.079 fatalidades até o dia 27 de dezembro. Em 2022, o número foi de 1.053.
Em relação ao aumento de casos, o Ministério da Saúde declarou:
Ante à projeção de aumento de casos no Brasil nos próximos meses, o Ministério da Saúde vai investir R$ 256 milhões no fortalecimento da vigilância das arboviroses. A pasta também inaugurou a Sala Nacional de Arboviroses (SNA), espaço permanente que vai permitir o monitoramento em tempo real dos locais com maior incidência de dengue, chikungunya e Zika para preparar o Brasil em uma eventual alta de casos dessas doenças nos próximos meses.
Veja a proposta do laboratório Takeda para o envio de doses da Qdenga para o PNI:
MÊS | NÚMERO DE DOSES |
Fevereiro | 460 mil |
Março | 470 mil |
Maio | 1.650 milhão |
Agosto | 1.650 milhão |
Setembro | 431 mil |
Novembro | 421 mil |
Infectologista explica a vacina da Dengue
Questionamos a Carol sobre o processo de funcionamento da vacina, ela nos explicou:
Existem hoje duas vacinas contra a dengue licenciadas no Brasil. A mais antiga é a Dengvaxia. E a mais recente, e mais indicada, que é a Qdenga. É dela que vamos falar.
A Qdenga é uma vacina de vírus vivo atenuado (enfraquecido) tetravalente, ou seja, protege contra os quatro sorotipos da dengue.
Como outras vacinas, ela funciona induzindo a produção de anticorpos contra o vírus, acelerando uma resposta imunológica futura em caso de contato com o agente.
Importante dizer que, diferente da vacina anterior que só podia ser usada para prevenção secundária (ou seja, só podia ser feita em quem já tinha tido a doença pelo menos um vez), a Qdenga pode ser feita em quem nunca teve dengue, ou seja, é usada tanto para prevençao primária quanto secundária.
Também questionamos se o imunizante é seguro para todos os públicos, a infectologista ressaltou o intervalo de idade estabelecido (de 4 até 60 anos). Ela também disse que vacinas de vírus vivo atenuado, que é o caso da Qdenga, não devem ser aplicadas em gestantes.
Sobre a eficácia do imunizante, Carol Abrão nos explicou há variação entre os tipos de dengue. Sendo que ela é mais eficiente para os tipos encontrados no Brasil com mais frequência.
Ela acrescenta:
A eficácia geral da vacina é de em torno de 61%. Porém, destaca-se que, a exemplo de outras vacinas (como gripe e covid), a Qdenga mostrou uma alta eficácia geral contra hospitalizações e dengue grave, em torno de 84%. Ou seja, quem vacina e mesmo assim tem a doença, tem doença leve! E considerando que a dengue pode levar a morte, esse dado por si só já justifica a busca pela vacina.
Recentemente, e de forma acertada, a vacina Qdenga foi incorporada ao SUS, e logo deve começar a ser aplicada nos grupos de maior risco (ainda a serem definidos pelo Ministério da Saúde). Porém, a vacina já está disponível em serviços privados de vacinação, e recomenda-se que todos dentro da faixa etária de 4 a 60 anos, e que não tenham contra-indicações, busquem se vacinar.
Vacinas salvam vidas!
Por Tiago Vechi, jornalista