Sinais de sofrimento na adolescência: reflexões da série da Netflix

Saiba como identificar sinais de sofrimento na adolescência a partir da série Adolescência, da Netflix, e como oferecer acolhimento e apoio emocional

25 mar 2025 - 12h23
(atualizado em 27/3/2025 às 09h16)
Sinais de sofrimento na adolescência
Sinais de sofrimento na adolescência
Foto: Netflix / Personare

Sinais de sofrimento na adolescência nem sempre são fáceis de identificar — e é justamente por isso que tanta coisa pode passar despercebida. Assistindo à série "Adolescência", da Netflix, me vi refletindo sobre isso de forma profunda, atravessada pelo medo e pela identificação.

Na série, um menino de 13 anos é acusado de matar uma colega de turma. E sua família, a terapeuta e o detetive questionam-se sobre o que realmente teria acontecido. Essa é a sinopse. Aqui não trago spoilers, apenas reflexões.

Publicidade

Participe do grupo de Terapias do Personare no WhatsApp e recebe mais conteúdos como esse

O medo da identificação

Sabe quando a gente assiste a uma série e, de repente, se vê dentro da história? Mas não foi uma identificação daquelas que a gente adora perceber. Pelo contrário, foi um susto, um medo de me ver na mesma situação. De ver a minha família, de alguma forma, espelhada ali.

Como mãe de uma adolescente de 17 e um pré-adolescente de 12, casada com o primeiro namorado da adolescência, qualquer semelhança seria realmente mera coincidência? 

  • E se isso acontecesse comigo? 
  • E se Jamie fosse meu filho? 
  • O que eu teria feito diferente?

Essas perguntas me acompanharam em angústia sequencial, assim como o plano escolhido para filmar a trama.

Publicidade

Mas foi como psicóloga, que as perguntas que me fiz se tornaram ainda mais incômodas: 

  • Será que eu teria detectado os sinais a tempo?
  • Será que eu teria evitado tamanho sofrimento?

Leia também sobre a série Adolescência:

Quando tudo parece normal demais

Diferente da maioria das histórias criminais que vemos dentro e fora das telas, no enredo de Adolescência, a família do Jamie não era disfuncional, pelo menos não no sentido clássico da palavra. 

Na série, Jamie tinha pais amorosos, presentes (à sua maneira), que se amavam desde a adolescência. Ou seja, uma família "normal", como tantas outras. E talvez seja justamente essa a questão: a sensação de normalidade pode nos cegar para os sinais de alerta.

👉 Leia também: O que estou sentindo é normal?

Estamos tão acostumados com a rotina, tão imersos no modus operandi de uma sociedade que cobra desempenho e resultados, preocupados em ter opinião sobre tudo, e com tantos problemas do dia a dia para lidar, que acabamos não prestando atenção aos detalhes.

Seja em mudanças de comportamento, seja nos sinais de sofrimento na adolescência que nossos filhos (e nós mesmos, vale dizer) podem estar emitindo.

Publicidade

Os "e se…" que não saem da cabeça

  • E se os pais tivessem sido mais presentes?
  • E se tivessem conversado mais abertamente sobre sentimentos?
  • E se eles tivessem ouvido mais?
  • E se tivessem percebido os sinais antes?

Como psicóloga, sei que esses "e se" são inevitáveis. Fazem parte do nosso processo de aprendizado, de crescimento. Por isso, vale nos perguntarmos:

  • Será que podemos fazer algo para minimizar o risco de viver uma história como essa contada na série?

Cuidar de si para cuidar dos outros

A resposta, acredito, está em um olhar atento, tanto para dentro quanto para fora.

Quando digo em "olhar para dentro", estou falando em cuidar da nossa própria saúde mental, reconhecer as nossas próprias vulnerabilidades e buscar ajuda quando necessário. 

👉 Faça o teste: Você sabe cuidar da sua saúde mental?

É como o discurso da aeromoça quando a gente está prestes a decolar no avião: \"Em caso de despressurização da cabine, máscaras cairão automaticamente à sua frente. Coloque primeiro a sua e só então auxilie quem estiver ao seu lado\".

Isso significa que não podemos cuidar de ninguém se não estivermos bem com a gente mesmo. Ninguém diz, mas isso é uma das lições mais importantes para a vida.

Publicidade

Já quando me refiro a olhar para fora, falo sobre prestar atenção aos sinais que as pessoas à nossa volta nos dão — nesse caso em especial, nossos filhos - ouvir o que eles têm a dizer (mesmo que não queiramos ouvir), validar seus sentimentos, oferecer apoio e compreensão. 

É, especialmente, tirar o véu das expectativas daquilo que sonhamos que eles sejam e nos certificarmos de que estamos enxergando quem eles realmente são (ou quem estão se tornando)

Afinal, é justamente na adolescência que a personalidade começa a se desenvolver. Mas eu sei, essa não é uma tarefa nada fácil.

👉 Leia também: 10 mitos sobre terapia que você acredita (mas não tem coragem de admitir)

7 sinais de sofrimento na adolescência

Nem toda mãe ou pai é psicólogo. Mas é possível, sim, prestar atenção em alguns comportamentos que podem indicar sofrimento emocional. Veja os sinais de sofrimento na adolescência mais comuns:

Publicidade
  1. Mudanças bruscas de humor
  2. Isolamento social
  3. Dificuldades de sono e alimentação
  4. Queda no rendimento escolar
  5. Expressões de desesperança ou desinteresse pela vida
  6. Comportamentos autodestrutivos
  7. Aumento da irritabilidade e agressividade

É importante lembrar que esses sinais nem sempre significam que o seu filho tem um transtorno mental, mas eles são fortes indícios que algo não está bem e que é preciso investigar. Para isso, busque um profissional de saúde mental.

Vovó já dizia: prevenir é melhor que remediar

Assim como na saúde física, na saúde mental a prevenção é sempre o melhor caminho. No caso dos adolescentes:

  • incentive seus filhos a praticarem atividades que lhes deem prazer
  • a cultivarem relacionamentos saudáveis
  • a cuidarem do corpo e da mente
  • e, acima de tudo, mostre que você está ali para o que der e vier, que eles podem contar com você em qualquer situação.

Um convite à escuta

Adolescência me fez pensar em tudo isso: na complexidade da maternidade (e da paternidade), na importância de cuidarmos da nossa saúde mental e na necessidade de estarmos atentos aos sinais de alerta que nossos filhos nos dão.

Que tal usarmos a série como um ponto de partida para conversarmos abertamente sobre saúde mental em nossas famílias? 

Compartilhe este texto com seus amigos, familiares, colegas de trabalho. Troque ideias, busque informações, participe de iniciativas que promovam o bem-estar físico, mental e emocional. 

Juntos, podemos construir um mundo mais saudável e feliz para todos, especialmente para os nossos filhos.

Publicidade

O post Sinais de sofrimento na adolescência: reflexões da série da Netflix apareceu primeiro em Personare.

Tatiana Magalhães (tmagalee@gmail.com)

- Psicóloga clínica e pós-graduanda em psicopatologia.

Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações