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Casa Mário de Andrade lança exposição sobre Carnaval

A abertura terá apresentação dos ritmistas da Mocidade Alegre [...]

8 nov 2024 - 09h34

No seu primeiro Carnaval no Rio de Janeiro, em 1923, Mário de Andrade perdeu não só o trem, mas também a vergonha, a energia e o encontro marcado com Manuel Bandeira, em Petrópolis, na segunda-feira de folia.

- "Eta Riô!", desculpou-se Mário.

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Neste sábado, 9 de novembro, o museu Casa Mário de Andrade, na Barra Funda, em São Paulo, inaugura a exposição 'Eu mesmo, Carnaval', um diálogo entre a pesquisa do escritor paulistano e o enredo da Escola de Samba Mocidade Alegre, campeã paulista de 2024 que se embriagou de Brasil no samba-enredo "Brasiléia Desvairada: a busca de Mário de Andrade por um país".

"O Carnaval oferece uma janela pela qual podemos abordar diversas facetas de Mário de Andrade. Como imagem poética, é parte estruturante da Pauliceia Desvairada, marco da poesia modernista brasileira, que tem como figura-chave o Arlequim, uma fantasia carnavalesca que o eu lírico veste", explica Arthur Major, pesquisador do museu Casa Mário de Andrade, em entrevista para o Viagem em Pauta.

O ator Pascoal da Conceição como Mário de Andrade
O ator Pascoal da Conceição como Mário de Andrade
Foto: Felipe Araujo/Divulgação / Viagem em Pauta

"Que delícia, Manuel, o Carnaval do Rio! Que delícia, principalmente, meu Carnaval!"

Trecho de carta de Mário de Andrade para Manuel Bandeira

A exposição 'Eu mesmo, Carnaval', cujo título foi retirado de um verso do poema Carnaval carioca, escrito por Mário, em 1923, é um convite para o público conhecer a relação do escritor com o Carnaval não só de São Paulo, mas também de outros lugares do Brasil.

Para Major, as realizações e o pensamento do autor de Macunaíma, até hoje, influenciam artistas e intelectuais do país com seus estudos e valorização da cultura popular brasileira, em áreas como dança, música, canto, indumentária e religiosidade.

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"Sua atuação no Departamento de Cultura da cidade de São Paulo [entre 1935 e 1938] e no IPHAN foram fundamentais para a criação de uma política cultural que valorizasse nossas tradições. Seu empenho em registrar, divulgar, salvaguardar e incentivar essas manifestações é o motivo pelo qual Mário segue sendo homenageado por grupos como escolas de samba", lembra Major.

Para o ator Pascoal da Conceição, que costuma paralisar plateias com suas declamações potentes de poemas do modernista, Mário foi responsável por fazer com que o Carnaval chegasse onde chegou, ainda que tivesse que enfrentar uma sociedade moralista, contrária àquela manifestação.

"Ele colocou a cultura e os saberes populares como patrimônios do país. E, para fazer o que fez pela gente brasileira, mexeu num vespeiro, enfrentou brigas e cancelamentos. A população brasileira tem muito a agradecer [ao Mário]", analisa o ator, em depoimento para o Viagem em Pauta.

Vale lembrar que, nos tempos de Mário, manifestações populares como o Carnaval de rua eram perseguidos pela polícia, numa espécie de higienização dos hábitos nacionais. Por isso, Conceição acredita que a homenagem da Mocidade Alegre não foi por acaso.

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"Foi pensada, foi estudada. Com muito acerto, [a escola de samba] homenageou esse grande nome não só da cultura brasileira, mas também da cultura libertária", reflete o ator, que em 2024 desfilou como Mário de Andrade, no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo.

Frevo em Recife, no Carnaval de 1938
Foto: Luis Saia/AcervoCCSP / Viagem em Pauta

Outra experiência carnavalesca memorável para Mário foi o Carnaval do Recife, onde procurou maracatu, mas terminou a noite num porre regado a éter.

Ao se meter numa roda polirrítmica de coristas e percussão, sentiu mal estar, tontura e respiração oprimida. Embebido pelo álcool da música ou talvez tombado pela euforia do éter, Mário só não caiu porque teve tempo de deixar, apressado, aquele "círculo de inferno".

No dia seguinte, frevo, José Pinto, cocaína e mais éter.

Entre as obras expostas em 'Eu mesmo, Carnaval', o público encontrará fotos do acervo particular de Mário, fantasias e detalhes de carros alegóricos da Mocidade Alegre, parede sonora com músicas que embalaram carnavais de outras épocas e história do bairro, onde o poeta morou boa parte da vida no casarão em que hoje funciona o centro cultural em sua homenagem.

Com curadoria de Arthur Major, pesquisador da Casa Mário de Andrade, e de Fábio Parra, do departamento de comunicação e cultural do G.R.C.E.S. Mocidade Alegre, a exposição terá abertura, neste sábado (9/11), com apresentação de ritmistas da Escola de Samba Mocidade Alegre, a partir das 13h.

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SAIBA MAIS

Exposição "Eu mesmo, Carnaval"

Casa Mário de Andrade (Rua Lopes Chaves, 546 - Barra Funda)

De 9 de novembro, a partir das 13h, a 31 de maio de 2025.

Terça a domingo, das 10h às 17h30 (permanência até as 18h)

Classificação indicativa: livre

Entrada grátis

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