Quatro dias após o trágico acidente que tirou a vida do piloto Ayrton Senna, no Grande Prêmio de San Marino, na Itália, São Paulo velava o corpo de um dos maiores ídolos do esporte nacional.
Senna foi velado no Hall Monumental da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, em 5 de maio de 1994, no Ibirapuera, por onde passaram mais de 250 mil pessoas, em cerca de 20 horas de cerimônia.
"Ele foi um esportista brilhante, que tantas vezes alegrou o povo brasileiro, por ter liderado tantas provas automobilísticas. Ayrton Senna constituiu uma das pessoas mais admiradas na história do Brasil e, especial também, do esporte brasileiro", relembra o deputado Eduardo Suplicy (PT), que participou do velório na Alesp.
A partida precoce do piloto, aos 34 anos, chocou fãs em todo o mundo e se tornou um dos momentos mais marcantes do esporte nacional. Após a confirmação da morte de Senna, o ex-deputado Vitor Sapienza, então presidente do Parlamento Paulista, colocou o Hall Monumental do Palácio 9 de Julho à disposição da família de Senna.
"Quando se divulgou que [o velório] seria aqui na Assembleia, começou a chegar gente de todos os lugares do mundo. Antes do corpo chegar, já existiam filas que iam até o Obelisco", conta o fotógrafo Marco Antonio Cardelino, servidor da Alesp desde 1982 e responsável pelo registro histórico da despedida a Senna.
"Foi uma madrugada que parecia celebração de título mundial pelo tanto de gente na rua. Não pela alegria, mas sim pela tristeza. Foi uma perda que o brasileiro sentiu no seu coração", afirma Marco sobre os dois dias do velório.
A cerimônia foi acompanhada pelo então presidente da República, Itamar Franco, e pelo ex-governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho.
"Nunca vi tanta gente no mesmo lugar homenageando uma pessoa. Foi o evento máximo que eu presenciei dentro desta Casa nesses 42 anos em que eu estou aqui", relembra Marcão, como o fotógrafo é conhecido.
Com honras dignas de um chefe de Estado, o corpo do piloto foi conduzido por soldados do Exército Brasileiro até a viatura que realizou o cortejo. O trajeto até o Cemitério do Morumbi, na Zona Sul da cidade, foi acompanhado por uma multidão, cujas imagens de milhares de pessoas pelas ruas no entorno da Alesp cortejando o ídolo nacional são históricas e circularam por todo o mundo.
"Uma multidão sem fim. Um clima de dor. A sensação era mesmo que todos estavam velando alguém muito próximo, havia muito carinho, sofrimento e luto", conta o deputado Léo Oliveira (MDB) que, na época, estava em seu primeiro mandato na Casa.
Desde sua partida, Senna foi homenageado em todo o estado, com monumentos, nomes de ruas e rodovias e até uma estação do Metrô - a Estação Jardim São Paulo-Ayrton Senna (Linha 2-Azul).
Ayrton Senna em Interlagos
Em 2020, nas comemorações dos 80 anos do Autódromo de Interlagos, em São Paulo, o muralista Eduardo Kobra fez um mural em homenagem a Ayrton Senna. E não poderia haver endereço melhor para a obra.
Foi nesse autódromo da Zona Sul de São Paulo que o piloto venceu, pela primeira vez, no próprio país, em 1991 e depois em 1993.
A empena onde está a obra de 27 metros de altura por 10 metros de largura foi cedida pela Secretaria Municipal de Turismo, responsável pela gestão do local.
Curiosamente, Senna é a figura que mais aparece nas obras do artista urbano brasileiro. Ao todo, Kobra tem 11 murais dedicados ao piloto, entre eles um que fica no autódromo de Ímola, na Itália.
"Senna, com seu exemplo de resiliência, é um símbolo ainda mais importante em um momento tão difícil como este. Por isso escolhi para retratar no mural o instante icônico de 24 de março de 1991", descreve Kobra, em nota enviada para a imprensa.