Temperaturas elevadas, águas suaves, montanhas cônicas e ilhas de corais que emergem do oceano. As detalhadas descrições que Charles Darwin fez sobre as Ilhas do Taiti em seus diários de viagem parecem tão atuais como se aquele jovem cientista inglês acabasse de desembarcar na Polinésia.
Mas visitar terras paradisíacas do outro lado do planeta tem seu preço.
No caso da tripulação do navio Beagle, foi a longa travessia de 5.100 km, entre Galápagos, no Equador, e o Taiti, no Pacífico Sul. Já para os viajantes de hoje, o preço que se paga é o custo elevado de uma das viagens mais exclusivas do planeta, daquelas que a gente nunca mais quer voltar para casa.
Antes de ir
capital: Papeete (Taiti)
moeda: XPF (franco do Pacífico) / 1 euro tem o valor fixo de 119 francos
idiomas: francês, taitiano e inglês
visto: isento para brasileiros até 90 dias
fuso horário: -7 horas (Brasília)
turismo: tahititourisme.com.br
Quando ir para o Taiti
Embora brasileiros não precisem de visto para permanência de até 90 dias, é precisar averiguar necessidade de visto para desembarque nos países de conexão, como os Estados Unidos, de onde sai a maioria dos voos para a Polinésia Francesa.
A alta temporada no Taiti é entre julho e agosto, mas a melhor época para viajar vai de março a novembro, quando o clima é mais seco. De dezembro a fevereiro, as temperaturas são mais elevadas, assim como as chances de pegar chuva.
Porém, os preços mais camaradas costumam ser aplicados nas temporadas intermediárias (de abril a junho e de setembro a novembro).
Como chegar no Taiti
A principal porta de entrada para aquele mundo de 118 ilhas, espalhadas ao longo de cinco arquipélagos, é o aeroporto internacional de Faa'a, comuna do subúrbio de Papeete, capital do Taiti.
As opções mais econômicas que o Viagem em Pauta encontrou em simulações para uma viagem em abril de 2025, em diferentes sites de buscas de passagens, foram via Chicago e São Francisco, pela United, entre R$ 10.903 (Kayak) e R$ 11.461 (Decolar), voos de cerca de 51h de duração, incluindo conexões.
Brasileiros que voam com a American Airlines fazem conexão com a parceira Air Tahiti Nui, cujo voo Los Angeles-Papeete dura nove horas, aproximadamente (a partir de R$ 20.841 e cerca de 37h de viagem).
Entre as ilhas
Naquele mundo de pequenos pedaços de terra, é preciso saber bem para onde você quer ir.
As Ilhas da Sociedade abrigam os destinos mais populares da Polinésia Francesa: Taiti, Moorea e Bora Bora. Porém, o arquipélago é formado também pelas Ilhas Tuamotu (Rangiroa, Tikehau, Manihi e Fakarava), Ilhas Marquesas, Ilhas Gambier (Mangareva) e Ilhas Austrais (Rurutu, Tubuai, Raivavae e Rimatara).
A conexão aérea é pela Air Tahiti, companhia que tem passes que permitem embarques para até oito ilhas e preços mais vantajosos do que a compra individual de cada trecho. A exceção é o trecho Taiti-Moorea, feito de barco, em cerca de 35 minutos (1,350 Francos do Pacífico, R$ 72, aproximadamente).
Ilhas do Taiti
Papeete
Seja lá qual for seu roteiro, não tem como escapar da capital do Taiti, única porta de entrada de estrangeiros.
Com quase 200 mil habitantes, o Taiti é a ilha mais povoada. Só para ter uma ideia, Moorea, o segundo destino polinésio mais habitado, abriga 16 mil pessoas.
Por isso, se você for passar mais tempo em Papeete, a dica é deixar a cidade para o início da viagem, a fim de evitar o choque de urbanidade no retorno de ilhas da Polinésia.
Tahiti Iti ('pequena Taiti', em português) é uma península que se isola ao sul do Taiti. Foi ali, em Teahupo'o, que o brasileiro Gabriel Medina "voou" para a famosa foto tirada na Olimpíada de Paris 2024.
Tahiti Iti é o lugar onde o Tahiti se agranda, em vales que se abrem em direção ao mar, com imensas cachoeiras que rasgam picos montanhosos que parecem recém-lapidados. E tudo isso dá para ver da própria embarcação que faz tours na região, um passeio de 7h de duração, entre Vairao e Te Pari, no extremo sul da ilha, cujo acesso é apenas por barco.
O roteiro começa pela manhã, na costa de Teahupoo, endereço famoso pelos pontos de surfe de nível internacional. A viagem segue com outras paradas em pontos de águas claras (e mais profundas) para prática de snorkel e observação de vida marinha.
No entanto, o ponto máximo do passeio é Te Pari, uma área preservada que guarda uma cachoeira escondida entre a vegetação fechada, em frente ao mar, e piscinas naturais que se formam entre extensas plataformas de corais.
Taha'a
Eis a terra ilha da baunilha e dos motus cenográficos.
A 45 minutos do Taiti, essa ilha em formato de flor é conhecida pelas visitas guiadas em fazendas de baunilha e pelos motus ("ilha", em língua polinésia"), com interior de águas rasas ideais para atividades como snorkel em jardins de corais e almoços rústicos servidos nessas ilhotas de recifes.
O melhor jeito de conhecê-los é nos passeios de barco pelo interior da barreira de coral que abraça Taha'a e a vizinha Raiatea, formando piscinas naturais em lagoas de grandes dimensões.
Em outras palavras, é como passar o dia em uma ilha isolada, com coqueiros e vegetação baixa, rodeada por um anel que represa águas calmas de tons, exageradamente, turquesas.
É de Taha'a que saem cerca de 80% de toda a baunilha produzida na Polinésia Francesa, onde os produtores costumam abrir as portas (e um sorriso imenso) para quem faz os bem organizados tours nas fazendas que se dedicam ao cultivo dessa orquídea.
Usada pelos astecas para dar sabor ao cacau, no México, a baunilha chegou ao Taiti pelas mãos de dois almirantes, na primeira metade do século 19.
Cada vez mais rara (e cara), a orquídea da baunilha precisa ser polinizada pela mão do homem, uma a uma, já que esse processo natural exige o trabalho de insetos especializados que só existem nas florestas da América Central. Daí os altos preços do produto, não só no Tahiti como em todo o mundo.
Conhecida como a Ilha da Baunilha, Taha'a é um dos destinos escondidos (e menos procurados) do arquipélago das Ilhas Sociedade. A única opção para chegar são táxis aquáticos que saem do aeroporto de Raiatea, a 53 km² do aeroporto dessa ilha vizinha.
As viagens de cerca de 35 minutos costumam ser organizadas para hóspedes dos hotéis da ilha ou podem ser contratadas no próprio aeroporto de Raiatea.
Raiatea
Acredita-se que os primeiros moradores do Taiti, os ma'ohi, teriam vindo do sudeste da Ásia, há cerca de dois mil anos, em uma travessia em grandes canoas, guiados pelas estrelas.
Embora não seja a mais lembrada na hora de fazer turismo no Taiti, Raiatea ("paraíso distante") fica a 45 minutos de voo de Papeete e é considerada a primeira ilha a ser povoada em toda a Polinésia, e por isso é considerada o 'berço dos deuses'.
Havai'i, seu nome original, é endereço da marae (pronuncia-se "maré"), lugar sagrado ao ar livre para as sociedades polinésias. Espécie de encontro entre o mundo dos vivos e o dos antepassados, foi nessa marae que teria começado toda a expansão polinésia no Pacífico.
A mais famosa delas é Taputapuatea, exemplar de mil anos, em uma área de mais de dois mil hectares, no extremo de uma península no leste de Raiatea. Era ali que os mā'ohi faziam cerimônias religiosas, rituais fúnebres e atos políticos, em um grande pátio com uma pedra em seu centro.
A Unesco deu ao local o primeiro título de Patrimônio da Humanidade a uma área de reconhecimento cultural em um destino francês ultramarino, a 18 mil quilômetros da França.
Moorea
É uma das ilhas mais visitadas na Polinésia Francesa, a apenas 35 minutos de barco de Papeete.
Esse playground natural tem jardins de corais que se escondem em águas calmas, vales que se abrem em uma antiga cratera vulcânica e picos montanhosos que se afinam diante de uma das baías mais lindas da região.
Para certificados ou para quem vai submergir pela primeira vez, o mergulho é uma das atividades obrigatórias na ilha, conhecida pela grande concentração de cardumes, tartarugas e tubarões. A atividade acontece em águas quentes e de alta visibilidade, e são conhecidas pela proximidade da costa e os pontos de mergulho, encurtando o tempo de navegação.
A 270 metros de altitude, a Baía Opunohu tem uma das vistas mais impressionantes de Moorea, durante o passeio pelo Belvédère de Opunohu. De carro, a pé ou até de quadriciclo, é possível subir a estrada em zigue-zague até mirantes, de onde se vê aquele cenário cinematográfico do alto, que já foi até cenário de filmes como 'Rebelião em alto-mar (com Anthony Hopkins e Mel Gibson).
É do alto que se percebe a geografia da ilha em forma de tridente, cuja costa norte se abre nas baías de Opunohu, à esquerda, e a de Cook, à direita, que abraçam o Mount Rotui, ao centro.
Uma particularidade dos mergulhos na Polinésia é a presença das "passagens", corredores naturais por onde passam as águas da lagoa interior e as do mar externo. O resultado é uma forte correnteza que faz a alegria de mergulhadores experientes em drift diving ("mergulho em correnteza").
No arquipélago de Tuamotu acontecem os melhores mergulhos do gênero em toda a Polinésia, onde ficam ilhas como Rangiroa e Fakarava, considerada Reserva da Biosfera pela Unesco.
Para mergulhos sem correnteza, as Ilhas da Sociedade são as mais recomendadas, sobretudo em Bora Bora, Moorea e Tahiti. A região é conhecida também pela biodiversidade marinha em mergulhos que acontecem próximos aos recifes.
Bora Bora
Diz a lenda que essa ilha um dia se chamou Vavau, em homenagem a esse guerreiro e excelente navegador, filho de uma pedra em forma de sapo (Ofa'i honu) e Honora'i, o penhasco sagrado. Desde então, o romance parece dar o tom nesse destino que virou sinônimo de lua de mel para casais com orçamento mais folgado.
Por isso, Bora Bora é o lugar para quem quer ficar em lagoas rasas de águas turquesas; ficar aos pés da Otemanu, a montanha mais alta da ilha (727 metros); ou, simplesmente, ficar para sempre.
Aliás, Vavau, o nome do guerreiro desbravador de mares, significava "instalar-se" (s'installer, em francês).
Até lá são 50 minutos para quem sai de Papeete ou apenas 20 minutos de voo, a partir de Raiatea. Curiosamente, o aeroporto local fica em uma língua estreita de terra, ao norte da ilha, onde os passageiros devem tomar um transfer marítimo curto (gratuito), oferecido pela companhia aérea, até Vaitapé, capital de Bora Bora.
Descrita por alguns como uma "paleta de azuis e verdes brilhantes", Bora Bora fez do mar o melhor do turismo local. E só pela cor das águas da ilhota Motu Mute, onde fica o aeroporto, você já vai ter uma amostra do que vem pela frente.
Para um primeiro contato (e sem gastar quase nada), vale passar a tarde nas águas cristalinas de Matira, a única faixa de areia pública da ilha principal, na ponta sul da ilha. Sem ondas e com infraestrutura, como banheiros e chuveiros, essa é uma excelente opção para um primeiro contato com o destino.
Para atividades marinhas, a dica é um dos barcos locais que fazem safáris com paradas para snorkel e observação de animais, em motus como o To'opua, uma ilhota privada com areias brancas e águas, exageradamente, turquesas.
E prepare-se para nadar com uma grande quantidade de arraias, cardumes e tubarões galha-preta.