Como se explica a beleza da montanha de 7 cores que atrai multidões de turistas ao Peru

Encostas decoradas com franjas coloridas em roxo, turquesa, fúcsia e dourado foram 'bordadas' ao longo de 65 milhões de anos.

30 jun 2018 - 16h10
(atualizado às 16h33)
Montanha de Vinicunca, ou de Sete Cores, fica 5,2 mil acima do nível do mar
Montanha de Vinicunca, ou de Sete Cores, fica 5,2 mil acima do nível do mar
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Cerca de 100 km a sudeste de Cusco, no Peru, existe um arco-íris em forma de montanha.

É a Montanha das Sete Cores, também conhecida como Vinicunca ou Arco-íris, situada na Cordilheira do Vilcanota, 5,2 mil metros acima do nível do mar, no distrito de Pitumarca.

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Suas encostas e cumes são decorados por franjas em tons intensos de fúcsia, turquesa, roxo e dourado.

Desde 2016, o espetáculo visual que a montanha proporciona vem atraindo visitantes, disse à BBC News a funcionária da secretaria de Turismo de Pitumarca, Haydee Pacheco.

Segundo a mídia local, o número de turistas subiu de algumas dezenas a cerca de 1 mil por dia - isso apesar do frio e da grande altitude.

Impulsionado pelas redes sociais, o crescimento na popularidade da Montanha das Sete Cores fez com que ela fosse incluída nos rankings internacionais de atrações turísticas.

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Em agosto de 2017, por exemplo, a Vinicunca apareceu na lista dos cem lugares que você deve conhecer antes de morrer, compilada pelo site Business Insider.

A explosão no turismo local é recente, mas a história da montanha e de suas lindas cores começou há milhões de anos.

Oxidação de minerais

Moradores de Pampachiri, em Pitumarca, costumam trabalhar como guias ou vendedores de artesanato
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

As cores que decoram as encostas da montanha resultam de "uma história geológica complexa, com sedimentos marinhos, lacustres e fluviais", de acordo com um relatório do Escritório de Paisagismo Cultural da Diretoria de Cultura de Cusco.

Esses sedimentos, transportados pela água que antes cobria todo o lugar, datam dos períodos Terciário e Quaternário, ou seja, de 65 milhões até 2 milhões de anos atrás.

Ao longo do tempo, os sedimentos foram formando camadas (com grãos de tamanhos diferentes) que hoje compõem as franjas coloridas.

O movimento das placas tectônicas da área elevou esses sedimentos até que se transformassem no que hoje é a montanha.

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Aos poucos, as diferentes camadas foram adquirindo suas cores chamativas. Elas resultam da oxidação dos diferentes minerais - em virtude da umidade da área - e também da erosão dos mesmos.

Foi o que explicou à BBC News o geólogo César Muñoz, membro da Sociedade Geológica do Peru (SGP).

Com base em um estudo do Escritório de Paisagismo Cultural e em suas próprias pesquisas, Muñoz explicou a composição de cada uma das camadas, de acordo com a cor:

- Rosa ou fúcsia: mescla de argila vermelha, lama e areia.

- Branco: arenito (areia de quartzo) e calcário.

- Roxo ou lavanda: marga (mistura de argila e carbonato de cálcio) e silicatos.

- Vermelho: argilitos e argilas.

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- Verde: argilas ricas em minerais ferromagnesianos (mistura de ferro e magnésio) e óxido de cobre.

- Castanho amarelado, mostarda ou dourado: limonites, arenitos calcários ricos em minerais sulfurosos (combinados com enxofre).

Há indicativos de que Vinicunca foi descoberta porque mudanças climáticas teriam derretido a neve que a cobria
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Fabián Drenkhan, pesquisador do Instituto de Ciências da Natureza da Pontificia Universidade Católica do Peru, disse à BBC News que essas misturas também contêm óxidos de ferro, geralmente de cor avermelhada.

Divulgação pelas redes sociais

Mas, se essas cores chamativas já decoram a montanha há milhões de anos, por que ela só ficou famosa recentemente?

Artigos publicados pela mídia peruana e internacional sugerem que Vinicunca teria sido descoberta porque mudanças climáticas teriam derretido a neve que a cobria.

No entanto, os geólogos consultados pela reportagem dizem não estar absolutamente certos disso.

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Juan Carlos Gómez, do Instituto Geofísico do Peru (IGP), disse que a montanha estava apenas parcialmente coberta de gelo e que recebia neve temporariamente até o início dos anos 1990.

Fabián Drenkhan, por sua vez, disse não acreditar que o cume tenha sido uma geleira nos últimos anos ou décadas.

"Não tenho evidências do que exatamente aconteceu nessa montanha e teria muita cautela em afirmar (que a mudança climática deixou Vinicunca descoberta). Mas, sim, pode-se dizer que, nos arredores, houve um derretimento glacial bastante forte", disse Dernkhan.

O povo de Pitumarca diz que não houve neve nos últimos 70 anos, segundo Haydee Pacheco, da secretaria de Turismo.

Pacheco explica que a montanha ganhou popularidade graças aos turistas que passam por ali a caminho de Ausangate, um monte sagrado para os cusquenhos.

A revista colombiana Semana atribui o sucesso de Vinicunca à divulgação feita pelos usuários do Instagram e do Facebook, que atraiu multidões de turistas.

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