Conheça praias de nudismo e saiba como se comportar

O Brasil tem oito praias naturistas regulamentadas oficialmente; conheça estes e outros locais onde é possível praticar o estilo de vida

12 fev 2014 - 07h37
(atualizado em 13/2/2014 às 08h06)

Enquanto na Europa é absolutamente comum ver famílias inteiras nuas nas praias, no Brasil a questão ainda gera discussão e até certa curiosidade entre as pessoas que desconhecem o naturismo. Apesar de serem exibidos nas praias do País alguns dos menores biquínis do mundo, a nudez ainda é um tabu por aqui. Pelo menos, para a maioria da população.

Mas não para cerca de 10 ou 20 mil pessoas que costumam frenquentar os cerca de 35 espaços - entre praias, pousadas e clubes - associados à Federação Brasileira de Naturismo (FBrN). Apesar dos locais oficiais, os encontros acontecem em vários outros pontos. “As pessoas não entendem que o fato de estarmos nus não reflete uma questão erótica e de desrespeito, ao contrário, o objetivo é encorajar o autorrespeito e o respeito ao próximo. É muito mais simples do que imaginam. Para nós que praticamos, a nudez é social, natural”, explica José Antônio Ribeiro, presidente em exercício da FBrN.

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Apesar de a nudez estar no centro da curiosidade de quem olha de fora, o movimento vai muito além disso e se baseia na experiência de uma filosofia de retorno à natureza como a melhor forma de viver.

<p>Praia de Massarandupió é o principal destino naturista da Bahia</p>
Praia de Massarandupió é o principal destino naturista da Bahia
Foto: Arquivo Brasil Naturista

Mais especificamente, o "naturismo é um modo de vida em harmonia com a natureza, expressado pela nudez social ligado ao respeito a si mesmo, à tolerância de diferentes pontos de vista e ao respeito ao meio ambiente", conforme define a Federação Internacional, que tem base na Áustria.

“O Brasil ainda é relativamente novo no movimento, mas em 2008 sediou o encontro mundial, o que não é muito usual para países menos ativos, o que mostra que a prática está crescendo por ai”, explica ao Terra a canadense Stéphane Deschênes, integrante da entidade internacional e responsável por divulgar o naturismo fora da Europa. Segundo ela, em países como França, Alemanha e Holanda, a prática é absolutamente natural e apenas uma praia de nudismo chega a reunir 15 mil pessoas em um dia.

Nudez x lei

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Com o movimento ganhando maior destaque nacional, o número de curiosos que pretendem conhecer espaços nudistas tem aumentado. Mas, de acordo com a lei brasileira, a nudez em locais públicos é criminalizada e considerada atentado ao pudor, por isso os encontros naturistas acontecem em oito praias regulamentadas por decretos municipais, além de clubes e ambientes privados. “A maioria das pessoas que vão a estes lugares são naturistas e frequentam os espaços há algum tempo. Mas todo naturista já foi curioso algum dia. Portanto, devemos ter uma relação bacana com eles porque podem ser futuros praticantes em potencial”, afirma Carina Moreschi, uma das responsáveis pelo site Brasil Naturista e praticante há 17 anos.

Para ela, entre os benefícios que a filosofia traz para a vida, estão a chance de levar pouca mala nas viagens, aceitar o próprio corpo e o dos outros em todas as formas e o mais importante, "tomar sol no corpo inteiro é um excelente remédio". Ela explica que médicos inclusivem receitavam o banho de sol nu como prática medicinal.

Sem roupa total

As pessoas interessadas em visitar as praias por aqui devem ter em mente alguns cuidados simples para evitar constrangimentos e viver a experiência por completo. Vale lembrar que desrespeitar qualquer das regras do estatuto conhecido como ‘Normas Éticas do Naturismo Brasileiro’ (veja o conteúdo do estatuto na íntegra abaixo) gera advertência, expulsão do local e até proibição de frequentar reuniões futuras.

A primeira característica do movimento no Brasil é que é o único país do mundo em que a nudez é 100% obrigatória nestes espaços, já que ficar sem roupas é opcional no resto do mundo.

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FALTAS GRAVES COMPORTAMENTOS INADEQUADOS
Ter comportamento sexualmente ostensivo e/ou praticar atos de caráter sexual ou obscenos nas áreas públicas Concorrer para a discórdia por intermédio de propostas inconvenientes com conotação sexual
Praticar violência física  Fotografar, gravar ou filmar outros naturistas, sem permissão
Utilizar meios fraudulentos para obter vantagens para si ou para terceiros Utilizar aparelhos sonoros em volume que possa interferir na tranquilidade alheia, e/ou desrespeito aos horários de silêncio regulamentados
Portar ou utilizar drogas tóxicas ilegais Causar constrangimento pela prática de atitudes inadequadas
Causar dano à imagem pública do naturismo ou das áreas naturistas Deixar lixo em locais inadequados
  Provocar dano à flora, à fauna e à imagem do naturismo
  Satisfazer necessidades fisiológicas em áreas impróprias, ou exceder-se na ingestão de bebidas alcoólicas, causando constrangimento a outros naturistas
  Utilizar assentos de uso comum sem a devida proteção higiênica
  Apresentar-se vestido em locais e horários exclusivos de nudismo, sendo tolerado às mulheres o top less durante o período menstrual
  Portar-se de forma desrespeitosa ou discriminatória em relação a outros naturistas ou visitantes

Proibido homens desacompanhados

Outra regra é que, na maioria das praias, os homens não podem entrar desacompanhados. Eles precisam sempre estar com alguma presença feminina, a não ser que sejam cadastrados na Federação Internacional e possuam uma carteirinha de identificação de sócio da entidade. O pedido do cartão pode ser feito via internet, mas depende de uma série de avaliações. No Brasil, uma das exigências é ser apresentado por um afiliado. “Não basta entrar no site e escrever porque nós vamos avaliar, encontrar a pessoa, terá um processo de triagem. Isso porque de cada 10 contatos que nós temos, a maioria é de pessoas desacompanhadas que não querem praticar o naturismo, mas na verdade ter práticas sexuais”, explica o presidente da FBrN.

Sem muito contato

Apesar das regras, que servem para manter um consenso entre os adeptos deste estilo de vida, a rotina destes ambientes em nada difere de um local qualquer, já que nenhuma convenção social ou atividade é proibida nas praias de nudismo.

No entanto, alguns avisos fazem parte do convívio. Os responsáveos pedem que, especialmente os casais, evitem trocar carícias e contatos físicos exagerados em público. “Eu nu, minha esposa nua, se começar a abraçar é óbvio que vou ficar em estado de excitação. Então pedimos para evitar contato físico em público para evitar situações constrangedoras”, afirma José Antônio.

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Apesar das recomendações, as situações que geram desconforto entre os nudistas são muito raras, segundo ele. Isto porque um dos objetivos centrais da filosofia é desmistificar a nudez e desvinculá-la do erotismo. “As pessoas pensam que só de olhar vão ficar excitadas. Não é assim que funciona, porque não temos erotismo em relação à nudez”, diz.

Público

Em geral, a maior parte dos frequentadores das praias são casais e pessoas acima de 40 anos. “O que eu vejo é a presença maior de pessoas com mais idade. Ao meu ver, os anos de vida dão mais aceitação ao corpo”, comenta Carina.

E é justamente esta falta de conhecimento do corpo o que faz muitos jovens que frequentavam a praia quando crianças “sumirem” com a chegada da adolescência. O público entre 14 e 25 anos é o menos presente, pois os meninos se sentem inseguros e as meninas têm vergonha de ficarem sem roupa. No entanto, há encontros organizados especialmente para os jovens, assim como para outras faixas etárias e grupos.

Fonte: Terra
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