Mesmo durante a pandemia que paralisou o mundo, em 2020, o músico Jurandy do Sax não deixou de fazer aquilo que mais tem feito, nas últimas décadas: tocar 'Boléro', de Ravel.
Há mais de duas décadas, esse paraibano de Princesa Isabel, cidade no sertão da Paraíba, toca todos os dias a obra musical mais famosa de Maurice Ravel. A apresentação acontece durante o pôr do sol no rio Paraíba, na Praia do Jacaré, no município de Cabedelo, na Região Metropolitana de João Pessoa.
Até o último mês de novembro, quando Jurandy completou 69 anos de idade, o artista já tinha repetiu o feito 9 mil vezes nessa praia fluviomarinha. A exceção foi durante a crise sanitária causada pelo coronavírus, quando ele teve que tocar na cobertura do seu prédio, no Aeroclube, bairro de João Pessoa.
Como ele mesmo conta para a reportagem, tudo começou numa reunião informal no restaurante Jacaré Bar, ao som da trilha sonora do filme 'Retratos da Vida', conhecida pelo 'Boléro', de Ravel, que tocou, coincidentemente, durante o pôr do sol.
"Em dezembro de 2000, mais ou menos, eu estava lá sozinho. Cheguei, botei o sax em cima da mesa e fiquei contemplando o crepúsculo. Assim, eu estava quase num estado meditativo, bem envolvido, quando tive uma visão, como se me visse dentro d'água", lembra Jurandy.
Naquele dia, o músico decidiu que iria tocar "dentro" do rio.
Não é apenas uma atividade artística ou financeira. É muito mais profundo. É uma coisa que faz parte do meu ser."
Jurandy do Sax - músico
Desde então, o turismo nessa cidade a 18 km da capital da Paraíba gira em torno da figura do saxofonista José Jurandir Félix, que aliás já tocou no rio Sena, durante sua estadia de 10 dias em Paris, a convite do governo francês, e entrou para o Livro dos Recordes como o artista que mais executou o 'Boléro', de Ravel.
A execução da música é uma das atrações mais procuradas por turistas que visitam o estado e atrai um comércio ao redor formado por bares, restaurantes e artesanato, instalados em um boulevard que fica às margens do rio Paraíba.
"Eu vejo com alegria [a popularização] por ter contribuído para que esse produto [turístico] possa ter levado a nossa cidade, o nosso estado, a ser conhecido mais distante, além fronteiras. Me sinto feliz de fazer parte dessa história", analisa Jurandy.
Ouça 'Boléro', de Ravel, tocada por Jurandy