Imagine caminhar pelas ruelas de Madri, na Espanha, e se deparar com um casarão de ladrilhos, que na verdade é um templo de gastronomia que resistiu a mais de três séculos. A Casa Botín, fundada em 1725, é um marco icônico da culinária espanhola e detém o título de restaurante mais antigo do mundo, de acordo com o Guinness World Records.
No ano de sua inauguração, a Casa Botín abriu suas portas e seu forno a lenha para abastecer viajantes famintos e cortesãos com uma experiência única: a chance de assar os próprios pedaços de cordeiro ou javali que traziam consigo. Nesse cenário, a comida era uma responsabilidade dos hóspedes, uma vez que os açougueiros e comerciantes da época se opunham a servir alimentos. Assim, a casa prosperou como um lugar onde os hóspedes traziam suas carnes para assar, enquanto desfrutavam da atmosfera única do lugar.
Ao longo dos séculos, a Casa Botín presenciou momentos históricos e personalidades famosas que se sentaram em suas mesas e provaram seus pratos lendários. O restaurante é mais do que um simples local para refeições; é um verdadeiro baú cheio de lembranças. Diplomatas americanos e soviéticos compartilharam um leitão no auge da Guerra Fria, e até mesmo os renomados atores Marcello Mastroianni e Catherine Deneuve brindaram à vida no mesmo ambiente, alguns anos antes de seguirem caminhos diferentes.
Na verdade, as mesas da Casa Botín já viram passar todo tipo de celebridade: Jacqueline Kennedy, Charlton Heston, Ava Gardner, Michael Douglas, Pedro Almodóvar, os reis espanhóis e até Ricky Martin.
Além dos clientes famosos, a casa também já teve funcionários famosos. Segundo o Guinness, Francisco de Goya trabalhou lá antes de se tornar um pintor renomado, na ocasião ele lavava pratos.
O restaurante, situado em um labirinto de pequenas salas atrás de sua fachada de ladrilhos, possui cantos decorados que contam histórias de tempos passados. Uma das mesas mais icônicas foi a preferida de Ernest Hemingway, onde ele frequentemente se sentava de costas. Nesse ambiente, Hemingway encontrou inspiração para a cena final de seu primeiro romance, "O Sol Nasce Sempre" (ou "Fiesta").
Abrigo para a Guerra
Mas a Casa Botín não é apenas um repositório de histórias literárias e celebrações gastronômicas. Durante os turbulentos anos da Guerra Civil Espanhola, o restaurante permaneceu de pé, oferecendo alívio aos clientes famintos enquanto os bombardeios se desenrolavam nas proximidades. As cavernas subterrâneas do local, algumas datadas de 1580, serviram como refúgio para os frequentadores durante esses tempos difíceis.
Os irmãos Carlos e Arturo González, da quarta geração de proprietários, continuam a manter viva a chama da autenticidade e da excelência culinária. As especialidades do restaurante são o leitão e o cordeiro assados lentamente no forno a lenha, uma tradição que remonta aos primórdios do estabelecimento. Esses pratos, típicos da região de Segóvia, continuam a atrair tanto os moradores locais quanto os visitantes internacionais.
A Casa Botín é mais do que um simples restaurante; é um testemunho da história de Madri e da Espanha. Suas paredes têm abrigado celebridades, servido como cenário para momentos marcantes e presenciado as mudanças do mundo ao seu redor. Enquanto perdurar, a Casa Botín continuará a cativar os amantes da boa comida e da história, proporcionando uma jornada através do tempo a cada garfada de seus pratos.
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