No próximo dia 15 de julho, a incrível travessia de Amyr Klink começa a virar coisa de cinema.
Não que os 100 dias da primeira travessia solitária a remo do Atlântico Sul, em 1984, já não tivesse fôlego para ser roteiro cinematográfico. Mas, dessa vez, a remada vai ser mais forte, com o longa-metragem "100 Dias" dirigido por Carlos Saldanha ("Rio", "A Era do Gelo", "O Touro Ferdinando", "Cidade Invisível") e o ator Filipe Bragança no papel do protagonista.
Na época com 29 anos e sem auxílio de GPS, que aliás nem existia, Klink deixou Lüderitz, cidade portuária da Namíbia, na África Ocidental, e remou num barco minúsculo até a praia da Espera, na brasileiríssima Bahia, ao longo de desafiantes 100 dias.
O resto da história nem pescador foi capaz de imaginar.
O longa "100 Dias" é baseado no livro escrito pelo próprio Amyr, "Cem Dias Entre Céu e o Mar" (editora Companhia das Letras), best-seller que entrou para a história da literatura brasileira contemporânea.
Logo nos primeiros dias da façanha, Amyr foi batizado com uma turbulenta corrente próxima à costa da África e chegou a capotar seu barco I.A.T. por 3 vezes. Daí, veio a ideia de criar um lastro com tanques anti-capotagem, que fazia o barco se comportar como uma espécie de "joão-bobo".
Sem poder contar com sistemas de localização via satélite, o velejador navegava com orientação de um sextante e dos astros, além de informações de seu posicionamento que chegavam via rádio.
100 dias com Amyr Klink
O longa de Carlos Saldanha sobre Amyr Klink é uma narrativa de autodescoberta em que um jovem luta consigo mesmo e contra a sombra de um pai autoritário.
Procurando seu próprio caminho na vida (e contra todas as probabilidades), Amyr (Filipe Bragança) cruzará o Oceano Atlântico sozinho em um pequeno barco a remo, ficando à deriva por conta das tempestades ou chegando a remar até 110 quilômetros, em um único dia.
A viagem solitária, porém, foi acompanhada de animais como baleias, tartarugas e tubarões, assim como a convivência com as ondas de todos os tipos.
A produção, que deve chegar aos cinemas em 2025, é do Ventre Studio e a coprodução da Star Original Productions.
No entanto, aquela foi só o início de tudo.
Em 1990, Amyr elevou a dose de adrenalina e partiu de Paraty, no Rio de Janeiro, para sua segunda e mais longa jornada: passar uma temporada de 13 meses na Antártica, incluindo, claro, o temido inverno antártico, 642 dias e 50 mil quilômetros depois.
Com ventos de 120km/h e icebergs que chegavam a 40 metros de altura, Amyr encarou outro desafio, em 1998: dar a volta ao mundo pela rota mais curta, rápida e… difícil, uma viagem que durou 88 dias e deu origem a outro clássico, o livro "Mar sem Fim" (editora Companhia das Letras).
O velejador se arriscaria ainda em outras duas grandes travessias: a "Viagem Experimental" (2002) e a "Circunavegação Polar Tripulada" (2003).
Filha de peixe…
Apesar do mundo marinho não ser novidade para a família de Amyr, uma das filhas puxou o pai, tal qual suas aventuras.
Para Tamara Klink, os sonhos são perigosos. Basta tê-los, dando voltas na cabeça, para não conseguir mais deixar de tê-los.
E assim, entre rotas imaginárias e histórias do mar contadas ao pé da cama, na infância, a filha de Amyr também fez do mar seu mundo, comandando não só seu barco, mas a si mesma.
"É preciso se sentir em casa para poder sair de casa."
Tamara Klink
Suas viagens podem ser acompanhadas em "Crescer e Partir" (editora Peirópolis), box com dois livros: "Mil Milhas", que reúne diário de bordo de suas viagens, e "Um mundo em poucas linhas", onde também mostra sua habilidade para navegar pelo mundo da prosa poética.
No primeiro, o leitor acompanha os meses de preparação de sua navegação no Mar do Norte. No segundo, as estrofes breves dão conta das saudades, dos desejos e das descobertas.