Ilhas, fiordes, canais estreitos e montanhas de pico nevado. À primeira vista, tudo parece igual na Patagônia chilena.
Mas em Caleta Tortel nada será parecido ao que você já leu ou viu naquelas terras distantes do sul do Chile.
Neste vilarejo na província Capitán Prat, entre os campos de gelo Norte e Sul, carros não entram e visitantes contam com seis quilômetros de plataformas e pontes de cipreste interligadas, aproximadamente.
O destino é declarado Monumento Nacional por sua arquitetura e pelo inusitado estilo de vida local, e faz parte de antigas terras de povos nômade-canoeiros, conhecidos como kawésqar, que se dirigiam ao Estreito de Magalhães, no extremo sul do continente.
Porém, uma das atrações mais famosas de Caleta Tortel é a Isla de Los Muertos, uma área com túmulos de trabalhadores da Compañía Explotadora del Baker que morreram, misteriosamente, nesse ilha abraçada pelo Rio Baker, em meio a uma sequência de fiordes e canais.
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É ali que fica o cemitério de 1906 que guarda os restos mortais de pessoas não identificadas, cuja única referência são 33 cruzes de madeiras espalhadas pela vegetação da ilha.
Diversas teorias tentam explicar a morte em série, entre elas a de envenenamento por parte da empresa contratante e também a de um surto de escorbuto, doença causada pela falta de vitamina C no organismo.
A atração é considerada um dos maiores mistérios da Patagônia chilena e, desde 2001, é Monumento Histórico Nacional.
Chile: Caleta Tortel
Situado na Provincia de los Glaciares, que inclui também Villa O'Higgins e Cochrane, o destino é conhecido por suas geleiras que podem ser visitadas, como os ventisqueros ou glaciais, como são chamadas as grandes acumulações de neve, em uma montanha.
O mais famoso é o Steffen, glacial suspenso que é considerado o mais austral do Campo de Gelo Norte, no Parque Nacional Laguna San Rafael. O atrativo pode ser visitado, após uma navegação de cerca de três horas, combinada com um trekking de 3,5 km.
Outra formação do gênero na região é o Jorge Montt, a sudoeste de Caleta Tortel, no extremo norte do Campo de Gelo Sul. O local pode ser visitado em passeios de barcos que navegam entre blocos de gelo até bem perto aos paredões do glacial.
Só não vai dar para escapar do mal humor climático da Patagônia.
Mesmo na temporada de verão, as temperaturas são baixas e as chuvas constantes. Com clima marítimo-chuvoso, o destino tem temperatura média de 8° C e precipitações que variam de 131 mm (em setembro) a 180mm, em maio, quando a região atinge seu pico de chuvas.
Devido ao isolamento e fragilidade da região, não é raro haver racionamento de energia elétrica e de água. Prepare-se também para caminhar, durante todo o dia, sobretudo por áreas úmidas e escorregadias, devido à grande quantidade de chuvas na região.
Mas pode certeza que essa é uma das experiências mais inusitadas do sul do Chile, em um dos pontos mais isolados da Carretera Austral.
Carretera Austral
Até os anos 70, quando o projeto da estrada, por fim, saiu do papel, a Região de Aisén era uma espécie de ilha patagônica isolada do resto do país. Em março de 1945, foi chamada inclusive de "paraíso perdido" pela revista de turismo En Viaje, da Empresa de Ferrocarriles del Estado.
No entanto, nem obstáculos naturais como rios e glaciais foram suficientes para impedir a construção de um dos maiores orgulhos da engenharia chilena, cujo avanço mais significativo se deu durante o governo do ditador Augusto Pinochet.
Ao longo de 1.240 quilômetros de extensão, o viajante vai dos lagos gelados de Porto Montt, marco zero da estrada, aos bosques sempre-verdes da Patagônia chilena, passando por rios, vales, geleiras, glaciais suspensos, parques nacionais e formações rochosas milenares em meio a um lago de águas azuladas.