7 em cada 10 paulistanos e paulistanas (69%) não lembram do voto para vereador nas eleições municipais de 2020, aponta a pesquisa “Viver em São Paulo - Qualidade de Vida”, da Rede Nossa São Paulo, que ouviu 800 moradores do município com 16 anos ou mais.
O levantamento destaca que o percentual é maior em jovens entre 16 e 24 anos (81%), pessoas pretas e pardas (78%), e moradores da zona leste da cidade (77%).
A profissional de marketing digital Larissa Ribeiro, 23, exerce o direito ao voto desde 2018, mas compartilhou que tem dificuldade para lembrar dos representantes escolhidos, principalmente para os cargos da esfera estadual e municipal. Ela não se recorda em quem votou para vereador em 2020.
“Minha mãe compartilhou comigo algumas opções para votar, fizemos a mesma ‘cola’. Mas sempre pesquiso para ver se é alguém em que acredito, não compensa votar em alguém que não trabalha por nós”, conta.
A jovem atribui o esquecimento à crise da pandemia de Covid-19, que estava no auge naquele ano. “Estava muito preocupada com a pandemia e não estava feliz com a política, me atacava a ansiedade”, complementa a moradora do Jardim das Laranjeiras, bairro do Iguatemi, na zona leste de São Paulo.
Falta de vínculo ou interesse
“A falta da cultura política de partidos fortes, de vinculação aos partidos, faz com que as pessoas votem em ‘conhecidos’ ou por ‘indicação’. Não há um vínculo com o projeto político, então é mais fácil esquecerem”, afirma Cláudio Penteado, 49, cientista social e professor do bacharelado em políticas públicas na UFABC (Universidade Federal do ABC).
Segundo ele, essa postura é perigosa, pois muitas vezes os escolhidos para compor a Câmara dos Vereadores estão mais engajados em defender interesses pessoais, impactando no desenvolvimento de políticas públicas para a população.
“São representantes que, muitas vezes, não têm projetos. Estão mais preocupados com o quórum eleitoral e seus nichos do que desenvolver soluções coletivas”, pontua Penteado.
Na contramão da pesquisa, a estudante de logística Victoria de Andrade, 21, lembra o voto para vereador nas últimas eleições municipais. Para decidir em quem votaria, a moradora do Parque São Rafael, na zona leste, pesquisou as propostas do candidato em diferentes fontes e também ouviu amigos.
Ela acredita que o esquecimento está ligado ao desinteresse pela política. “As pessoas, na maioria das vezes, votam por obrigação. Acho que [o assunto] deveria ser falado nas escolas. Não temos explicação sobre o que cada cargo faz, não tem uma formação política”, diz.
A necessidade de uma abordagem no currículo escolar também é defendida pela jovem Larissa Ribeiro. “Deveríamos ter uma matéria só de política, para explicar os três poderes. Entendi assistindo um vídeo do [youtuber Felipe] Castanhari. É um absurdo a gente entender com um influenciador e não na escola.”
A falta de informação também começa no processo para tirar o título de eleitor. A babá Thainara Soares, 22, não votou nas eleições de 2020 porque não tinha conhecimento de como fazer para emitir os documentos. Além disso, ela não se sentia preparada para votar.
“Não me ligava muito em política. Falamos muito na presidência, mas os outros cargos deveriam ser mais falados, porque cada um tem sua função. Muitas pessoas votam para senador e governador sem saber o que fazem, eu já fui assim antes”, diz a jovem, que mora em Guaianases, também na zona leste. Ela votou nas eleições de 2022.
As funções do vereador
O vereador trabalha no Poder Legislativo de um município. As atividades desse representante estão ligadas à criação, extinção e emenda de leis na esfera municipal. A cada quatro anos são eleitos 55 novos vereadores na capital paulista, número máximo estabelecido pela Constituição de 1988.
Esses políticos também têm como função fiscalizar o trabalho do prefeito, que representa o Poder Executivo. Na cidade de São Paulo, é possível verificar quem são os representantes e os projetos deles no site da Câmara Municipal.
As próximas eleições para prefeito e vereador serão em 2024.