O brechó itinerante, conhecido como Amora Brechó, partiu da necessidade de Shayene Karina dos Santos Gonçalves, 27, moradora do Jardim São Luís, na zona sul de São Paulo, de desapegar de algumas peças durante a pendemia de Covid-19 para gerar uma renda, já que estava desempregada. Foi aí que ela e a irmã, Jaqueline dos Santos Gonçalves, 28, começaram a organizar uma arara de roupas para divulgar pelas redes sociais.
“Montamos a página no Instagram e começamos a vender por lá. Deu uma movimentada, a galera gostou e continuamos. Recebemos também muita doação de roupas e fomos montando um projeto maior”, explica Jaqueline.
O empreendimento das duas mostra como o ramo de brechós é promissor no que diz respeito à economia e também à moda sustentável. Além de vender roupas, o Amora Brechó realiza o aluguel de determinadas peças, palestras sobre moda sustentável e até stylist de eventos e clipes musicais.
“Começamos a ser chamadas para expor nossas araras em eventos e até para falar de moda sustentável para estudantes de moda”, conta ela.
Nestes momentos, Jaqueline menciona a importância de debater sobre a economia criativa nas periferias. “Nas rodas de conversa, falamos também sobre o brechó dentro das quebradas, a importância do dinheiro circular por aqui ao invés de ficar concentrado nas grandes lojas.”
Moda consciente + economia local
Desde 2021, quando o Amora Brechó nasceu, a participação em eventos dentro da periferia reflete essa atuação focada em girar a economia no próprio bairro. “A gente fortalece o Coletivo Mentalize, em todos os saraus que eles fazem, a gente está junto. Porque, dentro da periferia, nada se desenvolve sozinho”, diz Jaqueline.
Ela comenta também que o brechó tem o papel de incentivar o consumo consciente mostrando uma nova forma de se relacionar com a moda. “Precisamos parar o consumo e olhar o que a gente já tem. No Sarau do Mentalize, fazemos muita doação para as crianças, para elas já crescerem com o pensamento de que o brechó é legal.”
Ela diz que esse papel educativo pode ser transformador. “Se uma criança pede uma calça de R$ 100 e vê que é possível comprar por R$ 10 ou R$ 20, ela já vai poupar o orçamento familiar, vai ver que dá para adquirir roupa de forma mais acessível e já gerar uma economia dentro daquela família”.
Atualmente, as peças do brechó são vendidas nos eventos e é possível conferir o acervo através da página do Instagram*. Com preços entre R$ 5 e R$ 60, é possível encontrar até mesmo itens customizados. “O intuito é ser um brechó, não transformar em uma boutique. Recebemos doações, participamos de ações na comunidade Monte Azul, então a proposta é ser acessível”, explica Jaqueline.
“Temos promoções de R$ 5, R$ 15 para que o público possa comprar mesmo”, completa. Já quando a peça vale mais do que isso, é direcionada para o acervo permanente. Foi a partir deste cenário que surgiu o aluguel de roupas do Amora Brechó.
“Vimos que algumas peças nos deixariam no prejuízo se vendêssemos muito barato. Por isso, pensamos em alugar. Temos um macacão que já andou tanto, já participou de clipe, de show, até de desfile”, conta.
Amora Brechó em palcos e telas
Conforme a proposta foi se expandindo, as duas irmãs, Shay e Jaque, começaram a investir mais no ramo. No último ano, por exemplo, Shayene realizou um curso de moda na Fábrica de Cultura do Jardim São Luís e começou a customizar roupas e fazer desfiles.
Foi aí que surgiu a ideia de montar uma comemoração de dois anos do Amora Brechó. “Pensamos em alimentação, espaços kids, todos os detalhes. E uma das partes foi um desfile com as peças do brechó. Então, pegamos peças customizadas, retalhos e transformamos em um figurino. Fomos chamando o próprio público para desfilar e foi bem marcante”, relata Jaqueline.
O evento foi tão marcante que ainda hoje o público e os clientes do brechó pedem outro evento semelhante. “Mas aniversário é só uma vez ao ano, né”, rebate Jaque. Ela conta que isso também deu uma margem para outros brechós pensarem em atuar com stylist: “é muito bom, porque não quero que o Amora Brechó seja único”.
Com o stylist e aluguel de roupas, as duas irmãs têm marcado presença em diversos eventos e até mesmo videoclipes. “Nós fizemos o stylist do clipe da Brione com a MC Luanna, e a gente fica de cara. Isso é muito legal. Também fizemos um clipe internacional do Cesco, que é alemão, ficou um trampo lindo, ainda não lançou mas estamos ansiosas para poder ver o resultado.”
Apesar de ser um brechó itinerante, com o crescimento nestes dois últimos anos, Jaque conta que elas têm elaborado um espaço físico para receber a clientela. “Estamos montando o espaço físico e vamos ter um evento de inauguração futuramente. Quando inaugurar, a galera vai poder mandar mensagem e agendar uma vinda para conhecer nossas roupas”, finaliza.
*No momento, a página no Instagram está em reestruturação após ter sido hackeada. Em breve, as publicações e acervos estarão disponíveis novamente.