Cola na Vila Embratel, em São Luís, e conheça o comércio

Empreendedorismo ajudou a construir o bairro na área mais populosa da capital maranhense, na região do Itaqui-Bacanga

25 out 2023 - 05h00
Ao fundo, acima e à esquerda, a torre que dá nome à Vila Embratel, em São Luís, capital do Maranhão, em imagem da avenida João Figueiredo
Ao fundo, acima e à esquerda, a torre que dá nome à Vila Embratel, em São Luís, capital do Maranhão, em imagem da avenida João Figueiredo
Foto: Samária Passos/ANF

Vila Embratel, popularmente conhecida pelas iniciais VE, é terra de luta, criatividade e empreendedorismo em São Luís. Fica localizada na região do Itaqui-Bacanga, formada por bairros como Anjo da Guarda, Bonfim e Vila Nova. A Universidade Federal do Maranhão (UFMA) está ali, assim como o Complexo Portuário Maranhense, além de inúmeros comércios populares.

A Vila Embratel recebe esse nome devido a uma torre de transmissão de rádio que fica no local. A ocupação, que inicialmente foi chamada de Novo Sá Viana e chegou a ser chamada Vila do Amor, surgiu como um loteamento para remanejamento das famílias do bairro Sá Viana, no fim da década de 1980, quando a UFMA passou pelo seu primeiro programa de expansão.

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A ocupação da região, porém, é anterior. Intensificou-se em 1960, após famílias serem atingidas por um incêndio no bairro Goiabal. A construção da Barragem do Bacanga também atraiu gente. Crescendo de forma desordenada, historicamente os moradores se organizam para reivindicar políticas públicas contra o preconceito, a falta de segurança pública e infraestrutura.

Há empreendimentos em todos os cantos: material de construção, salões, padarias, lava-jatos, pequenos mercadinhos, funerárias. Criatividade não falta para modificar a realidade também por meio da arte, com projetos como Cores da Vila, que levou trabalhos de grafiteiros para as travessas, esquinas e vielas da VE.

Seu Maciel formou três filhos trabalhando em seu mercadinho

Empreender não é tarefa fácil: exige disposição, coragem e resiliência, como a história de Antônio Maciel Filho, mais conhecido como Seu Maciel. Com um mercadinho na rua Nossa Senhora de Fátima há 20 anos, ele e a esposa tocam o negócio. Enfrentaram dificuldades e medos, como um assalto, mas se mantém firmes. O estabelecimento tem mais histórias boas que ruins, resume Seu Maciel. Uma das boas? A maior conquista foi formar seus três filhos.

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“Consegui formar o primeiro em Engenharia Mecânica, a segunda em Educação Física, e a terceira em Agronomia. Realizei um grande sonho, eu não pude estudar”, conta.

Seu Maciel empreende há 20 anos na Vila Embratel, em São Luís, e formou três filhos na faculdade com o trabalho no Mercadinho Nossa Senhora de Fátima
Foto: Samária Passos/ANF

Na mesma avenida João Figueiredo, do começo ao fim, há empreendimentos: loja para pet, vidros e alumínios, de aparelhagem de som, xerox, mercados grandes, pequenos, salão, pizzarias, casa de juçara (açaí), sorveteria. Ricardo Farias abriu o Lava- Rápido Premier.

Aproveitando o espaço e o público, criou também um boteco. É movimento o dia todo, e só cresce. “A gente conseguiu uma crescente bem legal, tá tendo uma ótima amplitude. No lava-rápido, a gente saiu de 200 veículos ao mês, para uma média de 600 a 700”, comemora.

A feira da Vila Embratel ferve

Na feira da Vila Embratel você encontra de um tudo: lojas de roupas, técnicos para consertar celular, artigos importados, hortifrutis, barbearias, frigoríficos e o estabelecimento de perfumaria e presentes do Valdir Silva, a D’Lândia.

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“Faz cinco anos que eu estou aqui. A gente tá aqui no bairro empreendendo, fazendo o possível pra crescer, né?”. Para ele, a chave do crescimento é a ação. “A fé sem ação é morta. Então, a gente tem que ter trabalho, tem que ter ação, pra gente chegar até onde a gente deseja.”

Ali pertinho está a loja Fogões Lopes, que vende até materiais de construção, além, é claro, de peças para fogão. O estabelecimento funciona há 20 anos. Manoel do Fogão, como era conhecido o fundador, foi um dos primeiros comerciantes da feira da Vila Embratel. Deixou muitas histórias.

Jucivânia Lopes vende peças para fogões e material de construção em empreendimento fundado pelo pai na Vila Embratel, São Luís, Maranhão
Foto: Samária Passos/ANF

Jucivânia Lopes cuida há quatro anos do estabelecimento que era do seu pai. “Meus clientes são fiéis ao ponto de, quando a gente não está, eles esperarem, entendeu?”. Ela também menciona a fé. “Tem que acordar, botar o pé no chão e vir com a fé de que vai dar tudo certo. E se hoje não der, amanhã vai dar, não pode desistir, entendeu?”.

Frutos do empreendedorismo

No salão do Edimir Santos, a rapaziada pode fazer aquele corte de cabelo no jeito. São 18 anos empreendendo no ramo da beleza masculina. Quando se faz um bom trabalho, a maior propaganda é o boca a boca. Edmir se orgulha das conquistas.

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Edimir Santos faz a cabeça da rapaziada há 18 anos. Maior propaganda é o boca a boca, que só acontece quando o trabalho tem qualidade
Foto: Samária Passos/ANF

“Nós temos uma clientela grande. Então, pelo volume da clientela, a gente adquiriu casa, carro”. Mas nada é fácil, a correria é diária, como no box do JC, onde tu compra tudo fresquinho, uma variedade de frutas, verduras e legumes.

Trabalhar na feira rendeu conquistas que deixam José Costa emocionado e cheio de orgulho. Ele também formou seus filhos através do empreendimento. “Foi dessa feira aqui que eu formei meus filhos tudinho, e graças a Deus, até hoje, eu estou aqui, firme e forte. Todas as conquistas da minha carreira foram daqui, dessa feira, tudo que eu tenho hoje.”

O guaraná mais querido da Praça 7 Palmeiras

Como surge a vontade de começar o próprio negócio? Antônio Santes de Paulo responde com uma palavra: “necessidade”. Nas periferias, empreender é tarefa difícil, que fica mais fácil quando a comunidade apoia, fazendo girar a roda da economia popular. Na Vila Embratel, não é diferente.

Foi dessa preferência que se estabeleceu o queridinho da Praça das 7 Palmeiras, onde tu encontra o quiosque da Elis, esposa de Antônio Santes. Ali está o negócio conhecido como “o melhor guaraná da Amazônia”, com 23 anos de história, marca registrada no coração dos clientes.

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Antônio Santes de Paulo e a esposa Elis mantém o quiosque Guaraná da Amazônia há 23 anos. Clientes não trocam o produto por nada
Foto: Samária Passos/ANF

Quando o casal Elis e o Antônio tiram folga, tem cliente que reclama no Instagram. “Às vezes, quando eu fecho o trailer, eles ligam. Acostumaram o paladar, entendeu? Vão em outro guaraná, depois voltam e falam ‘pô, tomei ali e tal, não achei bacana’.”

Orgulhoso, Antônio se emociona ao contar que “a maior conquista do meu empreendimento foi dar dignidade alimentar aos seus filhos”. Participando de vários eventos e feirinhas itinerantes, o Guaraná da Elis vai além da Vila Embratel, sem perder os clientes tradicionais.

“Essa clientela veio tomar guaraná no colo do pai e da mãe. Hoje chegam com a namorada, às vezes com os filhozinhos. Contribuíram bastante e contribuem até hoje.”

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