Vila Embratel, popularmente conhecida pelas iniciais VE, é terra de luta, criatividade e empreendedorismo em São Luís. Fica localizada na região do Itaqui-Bacanga, formada por bairros como Anjo da Guarda, Bonfim e Vila Nova. A Universidade Federal do Maranhão (UFMA) está ali, assim como o Complexo Portuário Maranhense, além de inúmeros comércios populares.
A Vila Embratel recebe esse nome devido a uma torre de transmissão de rádio que fica no local. A ocupação, que inicialmente foi chamada de Novo Sá Viana e chegou a ser chamada Vila do Amor, surgiu como um loteamento para remanejamento das famílias do bairro Sá Viana, no fim da década de 1980, quando a UFMA passou pelo seu primeiro programa de expansão.
A ocupação da região, porém, é anterior. Intensificou-se em 1960, após famílias serem atingidas por um incêndio no bairro Goiabal. A construção da Barragem do Bacanga também atraiu gente. Crescendo de forma desordenada, historicamente os moradores se organizam para reivindicar políticas públicas contra o preconceito, a falta de segurança pública e infraestrutura.
Há empreendimentos em todos os cantos: material de construção, salões, padarias, lava-jatos, pequenos mercadinhos, funerárias. Criatividade não falta para modificar a realidade também por meio da arte, com projetos como Cores da Vila, que levou trabalhos de grafiteiros para as travessas, esquinas e vielas da VE.
Seu Maciel formou três filhos trabalhando em seu mercadinho
Empreender não é tarefa fácil: exige disposição, coragem e resiliência, como a história de Antônio Maciel Filho, mais conhecido como Seu Maciel. Com um mercadinho na rua Nossa Senhora de Fátima há 20 anos, ele e a esposa tocam o negócio. Enfrentaram dificuldades e medos, como um assalto, mas se mantém firmes. O estabelecimento tem mais histórias boas que ruins, resume Seu Maciel. Uma das boas? A maior conquista foi formar seus três filhos.
“Consegui formar o primeiro em Engenharia Mecânica, a segunda em Educação Física, e a terceira em Agronomia. Realizei um grande sonho, eu não pude estudar”, conta.
Na mesma avenida João Figueiredo, do começo ao fim, há empreendimentos: loja para pet, vidros e alumínios, de aparelhagem de som, xerox, mercados grandes, pequenos, salão, pizzarias, casa de juçara (açaí), sorveteria. Ricardo Farias abriu o Lava- Rápido Premier.
Aproveitando o espaço e o público, criou também um boteco. É movimento o dia todo, e só cresce. “A gente conseguiu uma crescente bem legal, tá tendo uma ótima amplitude. No lava-rápido, a gente saiu de 200 veículos ao mês, para uma média de 600 a 700”, comemora.
A feira da Vila Embratel ferve
Na feira da Vila Embratel você encontra de um tudo: lojas de roupas, técnicos para consertar celular, artigos importados, hortifrutis, barbearias, frigoríficos e o estabelecimento de perfumaria e presentes do Valdir Silva, a D’Lândia.
“Faz cinco anos que eu estou aqui. A gente tá aqui no bairro empreendendo, fazendo o possível pra crescer, né?”. Para ele, a chave do crescimento é a ação. “A fé sem ação é morta. Então, a gente tem que ter trabalho, tem que ter ação, pra gente chegar até onde a gente deseja.”
Ali pertinho está a loja Fogões Lopes, que vende até materiais de construção, além, é claro, de peças para fogão. O estabelecimento funciona há 20 anos. Manoel do Fogão, como era conhecido o fundador, foi um dos primeiros comerciantes da feira da Vila Embratel. Deixou muitas histórias.
Jucivânia Lopes cuida há quatro anos do estabelecimento que era do seu pai. “Meus clientes são fiéis ao ponto de, quando a gente não está, eles esperarem, entendeu?”. Ela também menciona a fé. “Tem que acordar, botar o pé no chão e vir com a fé de que vai dar tudo certo. E se hoje não der, amanhã vai dar, não pode desistir, entendeu?”.
Frutos do empreendedorismo
No salão do Edimir Santos, a rapaziada pode fazer aquele corte de cabelo no jeito. São 18 anos empreendendo no ramo da beleza masculina. Quando se faz um bom trabalho, a maior propaganda é o boca a boca. Edmir se orgulha das conquistas.
“Nós temos uma clientela grande. Então, pelo volume da clientela, a gente adquiriu casa, carro”. Mas nada é fácil, a correria é diária, como no box do JC, onde tu compra tudo fresquinho, uma variedade de frutas, verduras e legumes.
Trabalhar na feira rendeu conquistas que deixam José Costa emocionado e cheio de orgulho. Ele também formou seus filhos através do empreendimento. “Foi dessa feira aqui que eu formei meus filhos tudinho, e graças a Deus, até hoje, eu estou aqui, firme e forte. Todas as conquistas da minha carreira foram daqui, dessa feira, tudo que eu tenho hoje.”
O guaraná mais querido da Praça 7 Palmeiras
Como surge a vontade de começar o próprio negócio? Antônio Santes de Paulo responde com uma palavra: “necessidade”. Nas periferias, empreender é tarefa difícil, que fica mais fácil quando a comunidade apoia, fazendo girar a roda da economia popular. Na Vila Embratel, não é diferente.
Foi dessa preferência que se estabeleceu o queridinho da Praça das 7 Palmeiras, onde tu encontra o quiosque da Elis, esposa de Antônio Santes. Ali está o negócio conhecido como “o melhor guaraná da Amazônia”, com 23 anos de história, marca registrada no coração dos clientes.
Quando o casal Elis e o Antônio tiram folga, tem cliente que reclama no Instagram. “Às vezes, quando eu fecho o trailer, eles ligam. Acostumaram o paladar, entendeu? Vão em outro guaraná, depois voltam e falam ‘pô, tomei ali e tal, não achei bacana’.”
Orgulhoso, Antônio se emociona ao contar que “a maior conquista do meu empreendimento foi dar dignidade alimentar aos seus filhos”. Participando de vários eventos e feirinhas itinerantes, o Guaraná da Elis vai além da Vila Embratel, sem perder os clientes tradicionais.
“Essa clientela veio tomar guaraná no colo do pai e da mãe. Hoje chegam com a namorada, às vezes com os filhozinhos. Contribuíram bastante e contribuem até hoje.”