Cerca de 150 tapiocas e 120 pães de queijo de frigideira são as quantidades médias vendidas pelo autônomo Thiago Pupo, 34, de segunda a sábado, na saída norte da estação Guilhermina-Esperança, da Linha 3-Vermelha do metrô, na zona leste da capital.
Os produtos, que contam com mais de 22 tipos de recheios salgados e dez variedades de opções doces, têm ajudado o vendedor a realizar alguns sonhos, como o de quitar a casa própria, e conquistado a clientela da região.
“Meu maior prazer mesmo é a recompensa das pessoas que retornam e às vezes trazem outras pessoas, elogiando, dizendo que nunca provaram uma tapioca tão recheada, e que meu produto é realmente bom”, diz Thiago.
Na receita do sucesso, disciplina e uma rotina regrada são ingredientes essenciais. Para preparar o recheio dos lanches, Thiago levanta às 7h da manhã. Às 14h, sai de casa, no bairro Cidade Líder, zona leste, com tudo pronto na Kombi branca, modelo 2009.
Estaciona o veículo em uma garagem próxima ao metrô, onde guarda o carrinho de comida. Depois, puxa o carrinho até a entrada da estação e, por volta das 15h, começa a vendas. Nessa hora, entra em cena a versatilidade do comerciante.
“Apesar de não parecer, sou tímido. É como se entrasse aqui e vestisse um personagem. Você sorri, cumprimenta, fala com eles [clientes]. Alguns querem atenção; outros chegam e só querem que você faça aquela venda bem dinâmica, bem rápida”, conta Thiago.
A experiência com o público foi aprimorada ao longo dos mais de 10 anos no negócio, assim como suas receitas. Inicialmente, Thiago entrou no ramo alimentício vendendo batatas fritas, após ter sido demitido da empresa em que trabalhava como gerente de vendas, em 2012.
“Troquei uma televisão de tubo e mais R$ 50 por um carrinho de churrasco, e comecei a vender batata frita e tapioca de frigideira na estação Arthur Alvim”, conta.
Em 2013, mudou-se para a estação Guilhermina-Esperança, e precisou substituir a batata frita para tapioca, por conta da concorrência no local. Seus pães de queijo de frigideira tinham recheios simples, como requeijão ou uma fatia de presunto.
A habilidade de compreender os gostos dos clientes fez Thiago atender novos pedidos de recheios, alguns, até então, desconhecidos por ele.
“Tinha cliente que perguntava se eu fazia de carne seca e eu pensava ‘o que é isso?’. Não conhecia a carne seca. Então, acrescentei a carne seca e comecei a aprender. Também incorporei o frango”, relembra.
Conforme a demanda crescia, ele investiu em um fogão industrial para suprir a produção. Hoje, com 22 alternativas de recheios salgados, Thiago prepara semanalmente cerca de 40 quilos de frango, 20 quilos de calabresa e cinco quilos de carne seca em seu fogão industrial, em casa.
Os preços variam de acordo com tamanho, tipo de massa (pão de queijo ou tapioca), recheios e quantidade de sabores escolhidos. Para manter os produtos frescos e bem conservados, utiliza três coolers, também destinados às bebidas.
Antes da pandemia de covid-19, Thiago conta que vendia aproximadamente 300 tapiocas e 250 pães de queijo por dia. Ele lembra que na época chegou a contar com três funcionários e aproveitou a oportunidade para comprar o seu imóvel.
“Morava em uma casa bem simples com a minha esposa e o meu filho mais velho. Consegui dar entrada num sobrado no Parque do Carmo. Avisei para o dono que era autônomo e ia pagar conforme as vendas. Hoje, estou com a minha casa quitada”, recorda.
Para o futuro, pretende trocar a barraca por um trailer e manter a agenda atual de fechamento, às 23h30. O vendedor reconhece que poderia ter aproveitado a “fase boa” para investir mais no negócio. Mas, atualmente, mesmo com a diminuição das vendas, continua com fregueses assíduos.
“Antes [o carrinho] ficava do lado de lá e tinha questão de fila. Às vezes, a gente queria ir rápido, por conta da lotação, e era uma coisa um pouco mais intensa”, relembra a coordenadora comercial Angela Souza, 35, cliente desde 2018.
Com duas tapiocas adquiridas para ela e uma para a filha jantarem em casa, Angela diversifica na escolha dos sabores. “Já experimentei de carne seca, doce de leite. Gosto bastante do serviço dele e da entrega da tapioca”, comenta.
A analista de marketing, Thayna Matos, 27, é outra freguesa satisfeita. “A massa dele é bem leve e tem gosto de pão de queijo. É bem fresquinho. A primeira vez que eu comi pão de queijo na frigideira foi aqui e aí tentei fazer em casa, mas não fica igual, então prefiro comprar aqui”, argumenta.
Thayna mora no Jardim Verona, na zona leste, e trabalha no Brooklin, na zona sul. O trajeto de duas horas entre sua casa e o trabalho a leva a optar por refeições práticas. “Janto aqui para não ter que fazer comida e ficar dando trabalho. É mais prático e isso ajuda bastante. Chego em casa, tomo banho e durmo”, explica.