Cosme de Farias é um dos bairros periféricos da região do centro de Salvador, o que possibilita o acesso a vários locais: estádio Arena Fonte Nova, Santo Antônio, além de Carmo e Pelourinho, bem próximos. A comunidade teve momentos de ascensão cultural, e ainda se encontra um samba para apreciar, práticas que atraem clientes para os estabelecimentos comerciais, que predominam.
A comunidade fica na antiga freguesia de Brotas. A entrada principal é pela Rua Direta de Cosme de Farias. O acesso acontece pelo Largo dos Paranhos, mas, quem vive no bairro está acostumado a transitar pelos corredores que dividem as comunidades vizinhas.
Bar do Taffarel, um ponto de encontro
Entrando pela Avenida Bonocô, uma das principais da capital baiana, subindo a Rua Nova do Sossego, encontramos o bar do Taffarel, embaixo da passarela que liga os dois lados da avenida. O estabelecimento foi uma espécie de bar, bomboniere e lanchonete.
Era um ponto de encontro para estudantes do Colégio João Pedro dos Santos, que se juntavam ali, na ida e no retorno das aulas. Depois virou bar e hoje serve almoço. A subida é íngreme, e na metade do caminho é possível ir em direção ao terminal de ônibus do bairro, onde fica a paróquia Santo Antônio.
Seguindo sentido à feira, no final da ladeira, encontramos os maiores pontos comerciais, de supermercados a lojas de calçados. Vende-se de tudo: há farmácias, loterias e até balcões de apostas.
De segunda à quinta-feira, o comércio funciona normalmente. Sexta-feira, no final da tarde, o movimento aumenta com a chegada de produtos vindos de cidades vizinhas e do preparo dos comerciantes para a feira que acontece todos os sábados.
Voltando à Avenida Bonocô, é na saída do bairro que rola diariamente o samba de partido alto, no bar do Leleu, em frente à passarela que liga a comunidade ao Bairro do Daniel Lisboa, um dos subdistritos que compõe a antiga freguesia de Brotas.
Bar da dona Zuleide, um dos mais antigos
A feira se divide entre a Rua Direta de Cosme de Farias e a Rua Wenceslau Galo (Sossego). A rua ao fundo da feira nos leva aos bares e restaurantes que funcionam todos os dias da semana. No local, o bar de dona Zuleide, hoje Bar do Boy, comandado pelo filho Wellington, é um dos mais antigos. Era um ponto de venda de hortaliças, agora serve feijoada de manhã logo cedo.
“A feira teve seus dias gloriosos aos sábados, o movimento era muito maior. Entretanto, ainda hoje é o centro comercial do bairro, concentra os maiores estabelecimentos e uma variedade de serviços fornecido pela própria comunidade”, diz Wellington.
No largo ao fundo está o restaurante do Isaías, que serve mocotó, entre outros pratos, Logo à frente, a churrascaria do Jacó, que fica ao lado do depósito de bebidas do Manele’s II.
Seguindo a feira sentido final da rua do Sossego, encontramos a padaria de Sheila e Fernandes, além de produtos para suprir as necessidades do lar. Logo abaixo, a barraca de salgados de dona Amália faz a alegria de quem busca um lanche fresquinho, enquanto a mercearia de Cica vende um pouco de tudo. Logo à frente, mais comércios, como o bar Manele’s I, que é uma extensão do depósito que fica na feira.
Festas populares fervilhavam em Cosme de Faria
Entre os anos 80 e 90, a Rua Wenceslau Galo tinha mais espaço. Nem todos os moradores possuíam carro e, por isso, havia a tradição de comemorar festejos populares que os próprios moradores organizavam, com a ajuda de comerciantes locais.
As festas juninas eram as mais esperadas. Os preparativos começavam logo após a Quarta-Feira de Cinzas, com os ensaios semanais dos grupos de dança, as quadrilhas juninas, que se organizavam para a semana do São João.
A rotina era dura para quem fazia parte das quadrilhas, formada por jovens do bairro. Eram momentos de ascensão cultural e os grupos chegavam a se apresentar em festivais como Ao pé da Fogueira e Forró do Galo.
“As festas juninas acabaram pela insegurança e falta de incentivo político. Os moradores e comerciantes não tinham condições de arcar com a estrutura da festa e, sem incentivo, não havia viabilidade para manter”, conta Evandro de Jesus Costa, um dos organizadores das quadrilhas.
Na época, os lugares nos grupos de dança eram disputados e as interessadas e interessados davam seu melhor. O objetivo era realizar uma apresentação memorável e aparecer na mídia – lembremos que não existiam redes sociais.
Encontros no bairro provam que a vida segue seu curso
Apesar da tradição das festas juninas ter perdido o brilho, ainda há festejos, como o Carnaval, com blocos da comunidade, para todos os gostos e idades. Vão crianças e adultos fantasiados, entretanto, Cosme de Faria sofre com a violência, que deixa a população em sinal de alerta.
Em meio às adversidades, os moradores seguem suas vidas, o comércio sobrevive, a vida segue seu curso, e até quem trabalha ali precisa de um pouco de diversão. Ao final de cada sábado de feira, formam-se rodas de conversa entre amigos de infância, colegas de trabalho e donos de estabelecimentos, que ficam abertos até um pouco mais tarde.
Os que fecham mais cedo, juntam-se às rodinhas começando o merecido descanso após mais uma semana de trabalho.